domingo, 26 de dezembro de 2010

A PORTA !

A porta bateu fazendo ecoar o seu estrondo. As palavras foram cortadas no assombro dos olhares, de um lado ficara o ciúme, do outro a estupefação.

Os abraços soavam sonhadores, num chiante aperto de cochichos no ouvido e as palavras imortais feitas das letras de amor ainda percorriam os labirintos até ao cérebro, que as dirigia ao âmago da alma, onde numa imensa labareda ardente aqueciam as emoções. Os lábios cantavam essa ode colorida de desejo e os píncaros brilhavam num reluzir de aurora e como gelo derretido caíam corpo abaixo em avalanches de sentires e loucura.

Fora um dia como tantos e como tantos as nossas mãos dadas nos levavam aos nossos cantos preferidos, umas vezes com amigos, outras só com os nossos sorrisos por companhia e as palavras construíam frases tão comuns, como os olhares que trocávamos nessa multidão.

E foi um sorriso que se destacou, e pela sua intensidade captou o meu olhar como num convite mudo para algo que não tinha lugar no meu coração.

A intempestiva brotou da boca da minha companheira, em jorros de angustiante desconfiança e no atropelo das palavras ,já de pé me agredia, "se não te chego vai ter com aquela" e de costas viradas me deixou ali plantado na perplexidade do acto e na interrogação dos restantes.
Meus pés me levaram na sombra da sua passada, com o coração aflito, " que se passara?" e as minhas palavras tinham aquele condão de serem cada vez mais doces, cada vez mais suplicantes, enquanto que o coração dela era cada vez mais irracional e a lava acumulava-se como vulcão, estourando à porta da casa dela.
Aí gritou a sua fúria, enquanto a porta se abria e o seu coração se fechava e sem mais palavras a porta bateu fazendo ecoar o seu estrondo. As palavras foram cortadas no assombro dos olhares, de um lado ficara o ciúme, do outro a estupefação, golpeando sem piedade dois corações e no sangrar das almas, de um lado ficou a minha desilusão no outro as lágrimas do ciúme, que tão depressa brotaram como se transformaram em arrependimento, no chiar da porta que se abriu, no olhar descarnado pela angustia que me dirigiu, pelo abraço suplicante que me deu, no beijo que ardeu cheio de tudo aquilo que no momento passado perdeu.

jorge d' alte

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

NATAL MÁGICO!





Estávamos em pleno Dezembro.
Pedro tinha partido com o seu rebanho e matilha há alguns dias, escalando as montanhas perto da casa onde vivia. Alegremente cantava, ao mesmo tempo que ia chamando algumas das suas ovelhas, que manhosamente se afastavam ou ficavam para trás. Gostava deste ar liberto, como livre era a sua alma de quinze anos. Na sua sacola, dependurada a tiracolo, levava alguma comida enlatada, queijo seco e pão duro. Pelo caminho mordiscava alguns frutos selvagens que conhecia e que ajudavam a mitigar a fome, mas também levava o seu "Livro dos Sonhos" onde escrevia o seu dia a dia, o que lhe abrasava a alma e o que pretendia ser quando fosse maior. A escola tivera que esperar, pois era importante para a família, que nesta altura o gado se alimentasse bem, para depois poderem fazer o queijo que venderiam na feira e que renderia o bastante, para que os seus pais e irmãos não morressem de fome.
Sofia era uma menina de cidade, que fora viver com os avós para a aldeia montanhosa. A separação de seus pais fora conflituosa e ela sofrera tanto, que um dia gritara na algazarra da discussão, que queria paz e que por isso ia viver com os seus avós. No dia seguinte pegara nas suas economias, que eram abundantes e partira sem olhar para trás, deixando naquele quarto luxuoso as memórias da sua infância de catorze anos.
Na escola da aldeia conhecera Pedro e mais alguns amigos, que a principio desconfiavam dela pelos seus ricos vestidos, pelos seus longos cabelos castanhos encaracolados, pelo seu rosto trigueiro e pelos seus magníficos olhos verdes. Mas depressa se deram conta, que a sua alma era generosa, tentando ajudar sempre o próximo, explicando nas suas horas livres, problemas de matemática e outras matérias onde era barra.
Todavia o seu coração alvoraçava-se sempre que pensava no seu muito amigo Pedro. Gostava dele porque era sensível, porque estava sempre pronto para a acompanhar, sobretudo nestes dias, onde a noite caia mais cedo e a sombras gemiam com o soprar do vento. Gostava do seu eterno sorriso, gostava dos poemas que ele escrevia, do seu rosto energético e da sua força de vontade e de aprender.
Davam grandes caminhadas aos domingos, falando dos seus sonhos e do seu futuro, do que iriam fazer quando o seu crescer decidisse, que eram horas de viverem uma nova experiencia de vida. Ela queria ser médica e por isso aplicava-se em estudos, muito para alem das matérias do liceu e lá ia compreendendo o que era ser médica, a dedicação necessária, a vontade de ajuda e de um dia poder dizer á sua alma, que a sua vida valera a pena ser vivida.
Pedro tinha-lhe confessado que queria ser escritor e poeta, pois estava-lhe no sangue e também ensinar sobretudo a sua língua mãe.
O tempo voara e tinham chegado as férias, mas o seu coraçãozinho ficara perdido, quando vira Pedro com seu cajado, começar a subir o trilho que o levaria até á alta montanha, onde ficaria até á véspera de Natal.
No seu cantinho especial, no cimo de uma laranjeira, chorara lágrimas malucas de tristeza e saudade, sem saber bem porquê.
O sentimento de vazio alimentava a sua alma, fazendo-a gemer e estremecer de dor e dava-lhe um ar de nostalgia. E ali ficava longas horas, olhando a montanha que devorara o seu "amor".
Amor? murmurara baixinho, era isso que a consumia, era esse ardor que ardia sem se ver? Então a alegria brilhou, nas pérolas que saiam dos seus olhitos, transformando o seu rosto num imenso sorriso. Amor! era isso que sentia, bem encaixado lá dentro.
Entretanto os dias na montanha, tinham-se passado com demasiada lentidão e Pedro sentia que uma parte dele tinha ficado bem lá em baixo. Sim, tinha desde há muito a noção que gostava de Sofia e que a sua vida e os seus sonhos passavam por uma vida rumada em conjunto, mas o seu olhar entristecia-se ao lembrar-se que ela era uma menina de cidade e que talvez nunca se interessasse por ele, pobre e como futuro somente de trabalho, pulso e vontade, para ser mais do que poderia ser.
Amanhã seria véspera de Natal e ele desceria a montanha, para se juntar á sua família e á volta da lareira cantarem e cearem a parca comida, que conseguiriam arranjar, mas o que interessava era mesmo a alegria e o amor que sentiam uns pelos outros. Essa era a grande prenda de Natal, que todos os anos ofereciam uns aos outros.
Sofia por seu lado andava animadíssima, era a hora de chegar o seu "amor". Os seus avós estavam estupefactos pela mudança radical do seu temperamento. Já andavam intrigados pela sua transparecida tristeza, que quebrava os seus corações, pensando que seria por causa dos seus pais, mas agora ao verem-na assim, interrogavam-se sobre o que se passaria naquela linda cabecinha.
Nessa noite o céu mudara radicalmente. Do azul que brilhara durante o dia ficara apenas uns salpicos entre as abertas das nuvens que corriam cada vez mais depressa, cada vez mais negras até que da escuridão começaram a cair pétalas brancas como a neve, cada vez mais forte ao mesmo tempo que o vento uivava o seu desconforto e danado vergava as arvores seculares.
Cá em baixo, Sofia sentira a mudança e com apreensão olhara para esse alto, agora envolvido pelo manto de nevoeiro cada vez mais escuro e espesso.
No seu olhar a decisão estava tomada. Não pensou duas vezes. Conhecia a montanha e partiria de imediato ao encontro de Pedro para o ajudar a voltar. Assim o pensou assim o fez. Pegou na sua mochila, meteu a sua lanterna, fósforos, comida, sacos cama e a sua pequena tenda. A parte mais difícil era convencer os avós a deixarem-na partir, pois era noite de consoada. A sua alma sangrava dividida, entre o seu amor por Pedro e o seu amor pelos avós. Por isso resolveu usar a sinceridade e a determinação, contando a sua resolução e os motivos. Os avós estavam indecisos em a deixarem partir, mas perante tamanha vontade e por gostarem de Pedro que conheciam desde sempre e no qual tinham a maior confiança, as suas falas foram-se murchando, até que só restou darem-lhe alguns conselhos e beijarem-na e com voz sofrida e sufocada pela emoção, desejarem que a sua viagem tivesse volta.
Rapidamente Sofia foi subindo a montanha, animada com a sofreguidão de ver Pedro. Na sua mão para além da lanterna, levava um apito para assinalar a Pedro a sua chegada. Meses antes tinham combinado que esse seria o sinal de que necessitavam um do outro.
Debaixo de uma grande pedra saliente, cavada na penedia, Pedro fizera a sua fogueira do costume e juntara o seu rebanho em redor com os cães de guarda e assim se aquecia do frio que varria agora atrás do vento. A neve amontoava-se por todo o lado impossibilitando qualquer tipo de descida. Se a neve não parasse, teria que passar ali pelo menos mais alguns dias, quase sem comida e pela primeira vez em anos perderia a parca ceia de Natal.
Pedro cantava baixinho a sua melodia preferida de Natal, para afastar a sua tristeza, quando o silencio foi invadido e cortado primeiro pela algazarra dos cães depois por um longo som de apito.
So fi a...? Como poderia ser? Apressado retirou da sua sacola o seu apito e começou a soprá-lo com toda a sua força, para que com o som a guiasse até si. Já começava a ver, primeiramente a luz débil e trémula de uma lanterna, tornando-se cada vez mais forte com a proximidade, trazendo por detrás o sorriso de Sofia.
Por fim correu para ela abraçando-a, não querendo acreditar no que via.
Arrastou-a rapidamente para o calor da fogueira ficando um enfrente ao outro. Sofia sentia-se inquieta. Seria que ele perceberia o que lhe consumia o coração? Seria que sentiria o mesmo, ou apenas a amizade como até ali? Pedro olhava de soslaio aquele rosto mágico, onde tudo estava escrito e onde ele podia ler como livro aberto, e por isso notou e sentiu a diferença de atitude que andava no ar. Ficou apreensivo. Porque seria?
De repente as suas vozes falaram ao mesmo tempo e eles deliraram e rebolaram em risos de nervosa histeria. Por fim lá se acalmaram e contaram as novidades um ao outro deixando de fora o que lhes moía o coração. Era chegada a hora da consoada e Sofia compenetrada fez o seu papel de mulher estendendo uma toalha, naquele chão semi aquecido e dispusera em redor a comida e guloseimas que trouxera.
Pedro montava a pequena tenda que lhes daria um maior conforto quando o sono viesse cobrar e os sonhos os envolvessem num tempo de paz.
Foram comendo num mastigar confuso como as suas almas e por um momento seus olhares se tocaram sem disfarces, sem medos, com perguntas vorazes que queriam saltar e não saiam.
Pedro ficou pensativo dando-lhe a sua mão calejada de tanto trabalho e puxou-a para ele com toda a ternura. Sofia sentiu-se voar encostando de mansinho a sua cabeça, naquele peito musculado e seguro. Assim passaram algum tempo e as ideias iam tomando forros de querer e decisão. Pedro quebrou esse silencio e por entre a cantiga do vento, da dança dos flocos de neve e das arvores que os rodeavam como juízes, ele contou-lhe tudo o que sentia por ela,desde o primeiro dia em que a vira chegar á aldeia, em cima do feno na carroça do avô dela.
Sofia encarou-o de frente, com pequenas gotas que corriam apenas daqueles olhos verdes e pingavam em sons de felicidade.
"Sim também eu te amo" disse ela e quero que a minha vida seja a tua e que os nossos rumos alcancem os sonhos e que estes se concretizem neste nosso amor.
Pedro entretanto disse-lhe, que era pobre e só tinha mesmo para lhe dar o seu amor a vontade de lutar e aprender até que um dia pudesse ser alguém na vida e lhe pudesse proporcionar todo o conforto de um lar.
"Isso não interessa" respondeu-lhe Sofia, eu amo-te pelo que és e a minha vida será para sempre a tua e juntos ficaremos, acredita meu amor...
Abraçaram-se comovidos em murmúrios de carinho...
Olha Sofia! Hoje é véspera de Natal e eu não tenho aqui nada para te dar, a não ser o aconchego do meu amor.
Pois eu tenho algo para ti! Agarrou com ternura o seu rosto e lentamente seus lábios tocaram-se e entraram num imenso sonho...
O vento que sacudia a neve que caia fria e as arvores altaneiras, foram esquecidas e naquelas mentes a alegria jorrava em sentimentos que se uniam e fundiam numa só alma.
Era agora tempo de recolherem á tenda montada para se abrigarem aquecerem e dormirem, mas tudo agora era sentimento e emoção e entraram num outro mundo, onde agora o Natal era Amor de verdade e as suas tristezas, duvidas e angustias foram levadas pelas nuvens plúmbeas que rapidamente se afastavam.
No ar agora parado, ficava o sabor da magia de uma Noite de Natal.


Um Feliz Natal a todos os que me honraram com a sua presença e amizade

Para todos vós fiz esta História que espero tenham gostado.


Jorge d'Alte

NOITE MÁGICA!


Quando eu era pequeno e as árvores de Natal eram grandes, olhava embevecido para todas aquelas luzes brilhando e sonhava, enquanto que lá fora o vento uivava a sua fúria desatinada e as bátegas e os flocos se esmagavam, contra os vidros da janela. Muitas vezes pensava, onde estava esse menino que tantas prendinhas enviava? Queria conhecê-lo, brincar com ele e ali ficava à espera,à espera que esse Pai Natal chegasse, para lhe perguntar, onde esse Menino morava.
Mas sempre que o Pai Natal vinha, trazendo-me as suas prendinhas, eu estava sossegado dentro do meu sono e nunca consegui perguntar-lhe.
Mas a vida fez-me crescer e agora as arvores de natal já não são grandes. Olho para ela de outra maneira, as luzes já não me despertam a curiosidade, agora sei porque aprendi e os meus passos outrora trôpegos, são agora confiantes. Olho os presentes com um sorriso, mas o meu pensamento está longe. Agora amo, enquanto outros brincam e alguém entrou na minha vida e esse sim, foi o meu melhor presente.
Agora já sou grande e a árvore pequenina. Já não penso nas suas luzes, já não penso nesse alguém, agora ao meu lado tenho três rostos lindos, que olham essa árvore que é grande, com olhos embevecidos e sonhadores, vendo essas luzes piscantes e multicoloridas, enquanto que lá fora o vento uiva sua fúria desatinada, as bátegas e os flocos se esmagam, nos vidros da janela...
Muitas vezes penso, onde está esse menino que tantas prendinhas enviava? Pois é aí nesse sonho, que tudo é belo,inocente, perfeito e fantástico...
Mesmo agora, continuo a sonhar com essa magia, que é a Noite e o Dia de Natal.


jorge d'alte

domingo, 5 de dezembro de 2010

ACHAM QUE EU MEREÇO?



Sentado, escrevo letras que se unem em frases que fazem os meus textos.
Tantas vezes me perguntei, porque estou aqui?
Porque faço isto?
Nunca até à pouco me tinha debruçado, sobre este sonho que era escrever e se possível, um dia escrever o tal livro.
A vida girou e levou-me por outros caminhos, deu-me outros sonhos, deu-me outros fins, e agora sem mais aquela, obrigou-me a sentar, e como um velho professor apontando o papel e a caneta, intrometeu-se-me na minha mente dizendo:
Está na altura, agora escreve!
E assim o faço.
Não sei se o mereço e por isso, aqui aguardo qualquer comentário, que por ser sincero me fustigue a alma e faça com que os meus dedos escrevam algo que eu quisera que fosse magia...
Continuo sem saber porque estou aqui... e se mereço!
Ouvi lindas palavras vindas de tantos corações, alguns que se entranharam na minha alma, ficaram lá presos numa amizade que não tem rosto, mas tem gesto e esses eu gosto e amo...
Na amálgama que zurze a minha mente, as letras saem primeiro tímidas, depois fluentes e riscam o papel onde o texto exposto é contemplado e depois é visto, é visitado. Alguns deixam o seu carisma num comentário, outros apenas passam como as nuvens levadas pelo vento.
Tantas são as perguntas que me faço.
Mas sinceramente digam-me lá, acham que eu mereço?


Jorge d'Alte