sexta-feira, 29 de julho de 2011

FÈRIAS


Hoje percorria em passos corridos os trilhos de terra batida do parque da cidade, que de curva em curva, de descida em descida me depositaram frente a este mágico lençol de água que é o mar, onde dezenas de jovens se divertiam, uns com as suas pranchas de surf, outros nadando. Os meus olhos regalaram-se uma vez mais com este imponente espectáculo sempre renovado e os meus olhos mergulharam na recordação...

junto com os meus amigos, no meio da algazarra das vozes finas, os meus passos lá iam pequeninos mas firmes, levando-me em direcção ao mar. Não eram trilhos de terra que eu percorria, mas a avenida descendente que partia desde a porta da casa. O cansaço dos quilómetros não contava, pois estavam diluídos na adrenalina que nos consumia em mil e um projectos de brincadeira.
A areia grossa de pedrinhas lisas pela eternidade dos tempos, magoava os pezinhos que a calcavam. O mar chamava-me mesmo ali enfrente, lançando ondas em desafio que troavam nos meus ouvidos como rugidos de monstros escondidos. Virei-lhe as costas brincando com o balde, as pás e as formas.Sabia que mais cedo ou mais tarde havia de ter de enfrentar este desafio e enterrar na cova feita na areia seca, os medos desse belo monstro que se chamava mar. O sol estava quase a pino lançando dardos de forte calor. Tinha chegado a hora de tomar a banhoca, mas o passo recuava perante a investida das ondas, que deixavam o seu riso espumante na areia, troçando da minha pequenês.
Os meus amigos, alguns mais velhos, chamavam por mim para que fosse ter com eles e entrar nas sua brincadeiras. A mente queria dar o tal passo enfrente, mas as pernas recusavam-se murmurando dilacerantes " não vás, pois as ondas podem-te comer". A reacção foi o salto para trás, mas ao mesmo tempo senti uma mãozinha agarrando a minha e como pena sorridente me depositou incolome no meio das ondas. Olhei sufocado pela frieza da água, mas depressa esqueci subjugado pela pureza do sorrir. Era ... a minha amiga mais velha que metendo as mãos dentro da água me começou a chapinar no meio de risos e gritos.
Afinal o monstro que me consumira durante longos momentos fora cordeiro quando enfrentado, mas bem lá no fundo a voz da razão murmurava "tem cuidado".

Naqueles tempos tudo era diferente e hoje adoro nadar e escutar a suave musica do mar e da água.Daria tudo para que no meu tempo houvesse pranchas para surfar para percorrer essas ondas selvagens que de longínquas paragens vêm, cada uma com a sua história para nos contar, pois como os dedos das mãos todas são diferentes...
Agora a mente questionava-se - que terá sido feito dessa amiga...os passos voltaram a bater no solo levando o corpo abstracto mergulhando de novo no mar vivo das recordações, e as ondas vinham trazendo rostos amados que algures por aí talvez continuassem a sorrir.

Este deve ser o meu ultimo texto, pois vou partir de férias, curtir ondas frias e quentes, trepar montes e descer até vales desconhecidos, entrar na piscina azul que enche o quintal...mergulhar num livro e perder-me.

jorge d'alte

terça-feira, 26 de julho de 2011

RECORDAÇÃO

O sol nascera e a minha vida despontara. A minha sombra crescia no chão que pisava. Tudo era novidade, tudo era aprendizagem,e a alma encheu de milhentas coisas que lá guardei. Agora o sol estava no zénite a a sombra estabilizara. Já não seguia á minha frente mas ao meu lado. Foi aí que a alma descobriu o coração e este o amor. E tu foste entre muitas a escolhida, aquela que compartilhou comigo a nova aventura, em descobertas permanentes de um outro estado de espírito e emocional. E aí encontrei essa união essa árvore que ramificou e deu rebentos. Agora a sombra segue atrás dos meus passos. O meu rosto enfrenta a cada hora a cada dia a vida traiçoeira, mas não vacila mesmo sabendo que um dia o sol se vai pôr e não trará novo dia.

A árvore frondosa ensombrava o espaço, mesmo ali ao lado onde o regato cantava mil sons através das pedras desgastadas.Tu olhavas para mim de uma forma diferente...Senti-me mal no teu silencio, enquanto os teus lábios cantavam o teu sorriso.
Ai que lhe deu pensei!
A nossa amizade desde miúdos era livro aberto cujas linhas cheias de letras formavam palavras que conhecia de cor.
Desta vez as letras eram diferentes, como diferentes eram as sensações que trazia o teu olhar.
Aproximei-me dela pegando-lhe na mão acetinada e dourada pelo sol, quando me senti puxado pelo seu olhar e abraçado e sem dizer palavras as bocas uniram-se numa bola incendida de um sentimento novo que dera lugar ao da amizade.
O amor despontara nesse dia e ficou para sempre ardendo no meu coração.

jorge d'alte

sábado, 16 de julho de 2011

... VI-TE


... Vi-te hoje mais uma vez para lá das estrelas para lá de tudo iluminando este meu céu ferido pela adversidade do destino. Não eras estrela, astro ou enigma. Eras apenas tu sorrindo na alvura embrulhando-me na tua ternura e sussurrando-me aos ouvidos em brisas de amor.
Desta vez, talvez por a saudade ter sido mais forte mais penetrante mais apelativa ganhei as asas da fantasia e voei até ti.

Apenas nos olhamos sentidos, nos contemplamos com doçura e deitados na nuvem branca como lençol de linho, sonhamos o nosso amor interrompido.

Amo-te como sempre te amei!


Jorge d'alte

quinta-feira, 7 de julho de 2011

...UFA!


...Ufa! Custou a chegar até aqui, subir tantos degraus e escorregar em tantos deles, mas olhando aquilo que sou, no que me tornei, acho que valeu a pena.
Mas vocês não me conhecem, não é?
Deixei muitas pistas naquilo que escrevi, nas ideias que deixei ficar, na mão que dei a algumas amigas, mas por outro lado recebi sangue de ideias novas destes tempos turbulentos, controversos e indecisos, que me ajudaram a compreender a nova juventude que tanto quer amar, que acaba a chuchar no dedo...mas isso são outras histórias... e lá vou eu resvalar na saudade e verter mais ondas de tristeza nesta noite sem lua.

Porque me chamaste na noite fria calando o brilho das estrelas e dando-me a tua luz? Eu sei que esperas por mim desde há muito nesse outro lá, onde tu existes e eu não consigo entrar. Por isso sonho para te ver, para te sentir, para te continuar a amar, independentemente de qualquer vida que o destino me dê. Inexoravelmente os ventos empurram-me para a meta, esse lugar onde conquistamos por fim a nossa paz e onde o amor é aquilo de que somos feitos. A dor trespassa por mim em cada canto onde me tento esconder; preferia que as tuas mãos se soltassem, tocassem no meu rosto e descessem até ás minhas apertando-as de novo e partíssemos agora juntos num novo caminho sem chão de pedra, sem lágrimas escorregadias, sem raivas e fúrias por te ter perdido.
Abri a janela para te ver nesse céu onde tu és a minha estrela, escutando ainda o eco do teu chamar, doce lamento como brisa deste mar que ondeia cá dentro. Pedi de novo as minhas asas para ir ter contigo, pois mesmo os sonhos já não me chegam, mas como as borboletas perdi-as e agora apenas me resta arrastar-me na escrita onde o meu grito se grava nas letras da desdita...


jorge d'alte