domingo, 4 de dezembro de 2011

Natais passados


E a história começa algures...O pinheiro cortado jaz envasado na penumbra da sala. O entardecer trás agarrado como carraça o frio que não se vê, mas que começa a fazer-se sentir...é a hora da lareira e a centelha de fogo cresce, primeiro na tremura depois alta e arrogante, crepitando cada vez mais alto a sua chama. Em volta do vaso, as mãos rugosas de anos passados, colocam figuras e carneirinhos por entre o musgo e a terra barrenta, num palco imaginado. Mais atrás o presépio dá vida à quadra que atravessamos e o spray deita nuvens de neve fictícia e o manto branco repousa por fim por entre acordes de "Silent Night e O Tannenbaum".
No sofá onde recosto olho toda a cena. O espírito leva-me rápidamente no sonho num torvelinho de emoções...
... rapazola de seis anos, sentado na carpete arraiolada, vejo pessoas que partiram e que fizeram parte de toda uma vida, a minha. A azáfama e a algazarra dos preparativos, as luzinhas piscantes repousando na árvore, ora mostrando um pastor, um cordeiro o menino Jesus, o burrinho...
- Pai quando vem o Pai Natal? Já estou com sono e o sapatinho ainda não tem prendinhas.
- está atrasado e só vai chegar de noite, por isso é melhor deitares-te e quando acordares verás se ele deixou alguma coisa...
E os sonhos vinham embrulhados na luz áurea dessa noite, onde no céu cheio de estrelas, o trenó viajante ia depositando pela chaminé, prendinhas de surpresas arrancando gritinhos de satisfação de vozinhas finas e de adultos. A confusão instala-se no redor, mas os olhos estão fixos no lindo carro de metal...este seria uns dos sonhos que concretizei...o outro veio mais tarde nascido de um beijo que tornou realidade a existência dos meus filhos, por ventura a prendinha mais gostosa e apetecível.

jorge d'alte