quarta-feira, 25 de setembro de 2013











  Cara a cara um vampiro e um lobo ..... 
  Ajoelhada no chão a pequena figura      humana tremia de puro terror.

As mentes dos monstros estavam cheias de ódio e a raiva crescente fervia e caia como baba nojenta que escorre de fouces disformes e selvagens.....
A apetitosa figura humana já não tinha preces para enviar a Deus, nem sms de ajuda, nem céus de paraísos onde se pudesse refugiar, nem a vida que julgava perdida para sempre. Tinha apenas sangue correndo em adrenalinas constantes e crescentes que aguçavam o apetite selvagem e devorador das bestas. E eu era uma delas, de garras esticadas,preparado para a luta que se avizinhava com o meu eterno inimigo…. Por isso rodava num movimento  arqueado pronto a saltar ao mínimo sinal de alarme atacante….

Por um momento, eles ficam confusos. Uma bolha de lucidez encheu prenhe de compreensão, fecundando no intimo do coração algo que refreou fúrias, raivas e apetites....
As asas c
aiem em submissão, as patas e garras encolhem-se  envergonhadas e o som gemeu saindo de gargantas sofridas e descrentes.

O pequeno ser humano olhou para cima com esperança em seus olhos. O que está acontecendo? - Pensou.

O lobo soltou um uivo triste de angústia. O vampiro piou sua dor e mágoa.....
Reconheceram-se as almas. Em suas mentes sabiam que eram grandes amigos numa outra pele....peles lisas e rosadas ou tostadas pelo sol de parcos anos. Mãos que se tinham dado e apertado em momentos de alegria ou pura dor. Olhares que se amavam numa  amizade sem fim, lágrimas que tinham corrido nos erros cometidos, palavras que foram brisas que insuflavam novos sentidos à vida..... tanto ali dentro das suas almas....uma simples chama que ardia intensa num calor chamado "amor"

Ó não !-  Gritaram reconhecidos, olhando depois espantados para a pequena figura jazida....esses olhos eram ....
Não pode ser!- Gemeram em uníssono.
Esse frágil ser humano era amado por eles.
Era a irmã de um deles e a namorada do outro ....

Vampiro e Lobo abraçam-se tão fortemente. ali onde viria a ser o seu leito de morte.
Não foram precisas falas nem palavras gastas de um passsado que ficava ali.
As suas almas choram por dentro a sua desdita pois o ciclo tem que seguir o seu trajecto e os corpos ardem da mingua de sangue que têm de sorver para sobreviverem mais uns dias, mas as lágrimas que caiem são reais, rolam e são pérolas em seus olhos... estarão juntos pela ultima vez em peles diferentes ...Já não terão que esperar muito, pois a luz do sol nascente  desponta por detrás do horizonte montanhoso, essa luz que dá vida à vida mas que para eles será o fim da linha; a morte!
E esta chegou devagar numa atroz agonia, não vestida de negro como a noite, mas com a luz radiosa da vida.

No chão a pequena figura humana gemeu.....a dor arrastou-se pelo chão como rastilho e rebentou dentro do seu peito em miriades de dores, sentimentos espetando, o vazio da perda. 
A solidão veio mais tarde nos momentos passados sem.... e apoderou-se dela por longas e infinitas noites e conta-se por aí à boca cheia que, em noites de lua ainda se ouvem os seu gritos ecoando, chamando pelos seus nomes

VENTO.....
BRISA.....

E a nuvem fofa que é ela prossegue seu curso solitário ao sabor.....


Jorge d'alte




domingo, 15 de setembro de 2013











Era a lua na noite negra!


O meu amigo vampiro começara a transformação. Alguns longos segundos passados fora um lindo adolescente com nome, amigável e amoroso, verdadeiro e ternurento.
A sua pele outrora tão macia de bronze adocicado, era agora um monte de pelos negros e castanhos entremeados com peles encarquilhadas e descartáveis e a sua cara disforme tinha um olhar selvagem.
Sangueeeeeeeeeeee! Saaaaaaaangue! Era a palavra que dançava na sua mente retirando-lhe os últimos resquícios de humanidade e os seus braços que abraçavam antes corpos cheios de amor, eram agora asas batidas na imensidão da noite…Ele podia voar, voar,  voaarrrrr e voava….

Noutro lugar mais remoto um corpo estava repleto de espesso pelo. Seus braços eram agora patas ferozes com unhas assassinas e afiadas e os dentes esbranquiçados e pontiagudos concorriam pendentes com a espuma que caia em cachos pegajosos.






A lua não brilhava, protegida por nuvens voadoras que corriam apressadas fugindo de um perigo que não entendiam mas persentiam. Seus olhos pardos e radiantes dourados viam o que antes não conseguiam ver e andavam por ali predadores e sôfregos procurando o seu néctar para a vida e o seu nariz cheirava o ar procurando avido a carne humana onde havia veias enfunadas com ventos correntes de Sangue. E à sua mente acorreu a palavra que o motivava Saaaaaaaaaaaaaaaaaangue! Sangueeeeeeeee!

O vampiro voava em silêncio pelo meio das sombras vastas, bastas ou meias, como meia hora era o toque que o relógio batia no velho campanário que por ali existia. Teria pouco tempo para realizar o seu eterno calvário e mitigar o seu eterno vicio. Teria sem falta de beber o liquido morno e espesso de cor avermelhada normalmente doce mas muitas vezes acido da cor do terror infligido. Algures o sangue corria em doces veias como rios e apetecíveis corações ainda palpitantes.

O lobo que eu era, corria por montes e campos, por terras de areias grossas ou águas geladas. O cheiro que me chegava ao olfacto trazido pela brisa errante estava por ali perto e de novo farejei e….Incrivelmente junto colado como praga pegajosa, havia um novo cheiro que me incomodou….
É um vampiro! -  gritei rouco, para logo soltar um uivo agudo de aviso e provocação.

Uauuuuuuuuuuu!  Uauuuuuuuuuuuu!

Hummmm murmurei com a raiva toda mordendo a minha própria fúria.

O súbito chegara num ápice ali, num face a face receoso mas dilacerante de vontade feroz e avidez incontida por sangue.

Ajoelhada no chão de relva esmagada e húmida, uma pequena figura humana tremia indefesa possuída de intenso terror…..




(agora imaginem e terminem o resto da história que vos contei e tracem o final da mesma)

Jorge d’alte

segunda-feira, 9 de setembro de 2013











O vento lançou no ar a sua melodiosa ameaça que repuxou para trás os meus cabelos já revoltos e cacheados, roubando-me ao mesmo tempo o sorriso que esboçava no rosto bronzeado por mil e um raios de sol....




No cimo da falésia quebrada a meus pés, eu abri os braços como se quisesse voar naquele vento que parecia odiar-me a cada rajada uivada....

Seria um gesto como um Deus omnipotente?
Seria apenas um sinal de impotência contra desígnios mais fortes?
Seria....
Abarquei o ocaso neste gesto, tentando parar o tempo que nunca pára, que voa do segundo ao século, que nos leva do berço à morte, que nos leva do primeiro passo ao ultimo, não nos dando o tempo desejado nem a sabedoria de viver uma vida que rasgamos a cada momento com erros atrás de erros, com promessas sem prazo de validade, com ilusões de amores falseados....
Foi a palavra que queria gritar-te que me levou a este apogeu encimado, Foram tantos os sentimentos fluidos que se engasgaram numa garganta que não  teve o pejo de falar.
Os olhos, esses cantavam esse amor que ia na alma, que corria nas veias sedentas, mas que se entrechocava em tempo que já passara. Não foi uma nem duas , as vezes que te quis soprar nos ouvidos os murmúrios doces do meu coração, que quis pegar nessas mãos douradas  de dedos esguios, que quis a luxuria dos teus lábios rosados, desse corpo maleável e delgado, coração que sonhou sonhos dessa pele bronzeada como sedas do oriente, que se quis deitar nesse ventre oferecido, nesses seios tumescentes mas desleitados....

Tal como o vento que soprou, o momento passou e  não voltou  mais e eu sôfrego, rumo
cada dia a esse inferno que um dia foi paraíso para mim, ainda que apenas por uns segundos que não vivi.


jorge d'alte

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O OLHAR !



O olhar estava deitado nas ferventes areias douradas da praia. Embora dolente e letárgico estava atento e predador, fazendo calmamente a sua triagem.
À sua volta rostos misturados com corpos, soltavam gargalhadas, risos, palavras… a bola saltava de rosto para rosto quer nas pontas dos pés, quer na ponta do dedos ou numa qualquer raquete...

O olhar fazia parte de um rosto e tinha olhos azuis…

A água eivada de espuma alongava-se ameaçadora enrolando gãos e grãos de areia nas suas intermináveis voltas onduladas e os cinco olhares moviam-se por ali vogando e espreitando por de cima da ondulação. A bola também lá estava vogando na crista da onda até a mão a agarrar. Estivera antes movimentada no areal, nos pés de quatro olhares, voando airosa e rodopiante de pé para pé entre risos, gritos e impropérios.

O olhar de ar soturno, mastigava na mente uma melodia nova que tecia, acompanhada pelos risos de brincadeira dos outros quatro olhares que permanentemente se cruzavam reconhecidos numa amizade que era deles.
O olhar era solitário mergulhado nas trevas de uma tristeza interior que ensombrava o rosto dele. Não procurava a vida, antes fugia dela. Não tinha o futuro brilhando na menina dos olhos, nem tudo aquilo a que chamam sonhos que já eram. Apenas percorria talvez os últimos metros de uma vida. A sua alegria que gritara muitas vezes no seu olhar ficara perdida algures numa esquina ou viela e numa encruzilhada por aí nascera a fera chamada tristeza, saudade, mágoa ou filha da puta. Era feita de dor, aquela que dói por dentro e nos perde, aquela que renasce a cada lembrança, a cada ida ao passado.

O olhar uma vez mais mergulhou na água tépida passando por de baixo da onda gigante e escorregadia, trazendo à tona um novo arfar, um sorriso triste e uma nova nota para a melodia…

A nota saiu fortemente dissonante.

Perante ele um dos quatro olhares estava fixo no dele, num meio sorriso, numa meia promessa… 
OooH! 
Murmurou o olhar preso nessa teia imensa e sem fios. 

Era um rosto lindo que ali estava perante ele, cheio de mistérios, ternura e de sorrisos. Era talvez a nota que o olhar procurava para terminar a melodia ensaiada.

O olhar fazia parte de um rosto e tinha olhos verdes….



Jorge d’alte

(fotos retiradas da net)