segunda-feira, 31 de maio de 2010

O primeiro Luar

Acabara de me aprontar e olhava o espelho!
Estava tudo perfeito.
Era véspera do S.João e a noite seria longa.
Os amigos esperavam-me algures na cidade, onde decidiríamos reunirmo-nos.
Tínhamos aprontado uma festa de garagem onde nos divertiríamos antes da partida para baixa da cidade.
Não tinha perspectivas definidas a não ser ter uma noite de borga com a malta amiga e de viver mais uma noite em grande. A musica soava barulhenta com as bandas da época rodando em 33 rotações no gira discos. Senti alguém bater-me no ombro e perguntar com ar tímido
Queres dançar?

Hoje parece estúpido, mas naquela altura as miúdas eram pedidas pelos rapazes e não o contrário D:
Olhei para ela e nada pude dizer, porque a minha vontade fora vencida por aquele doce olhar e agora rodávamos, gesticulávamos embrulhados no som das musicas.
As palavras voavam estúpidas em frases sem sentido mas que na altura eram curtidas nos nossos 13 anos.
Um slow entrara e estávamos juntos olhos nos olhos sem dizer nada, mas os sentidos brincavam e a cabeça repousada agora no meu peito era emoção e desejo que nos unia.
Agora girávamos em grande velocidade, por entre o ruído da multidão. Ao meu lado gritando ela
me agarrava fechava os olhos numa intensa vida que me contagiava e já não queria ser despedida. Como a podia largar se ela já era minha? O carrossel da vida que girava e girava, a cada volta mais nos unia e eu sabia que estava preso e bem preso por algemas invisíveis e que o bater dos corações era a nossa música.
A alvorada estava prestes a nascer e os nossos passos cansados levavam-nos sem remissão até ao nosso altar junto ao mar naquela praia de eleição.
No alto a lua brilhava iluminando nossos passos gravados na areia.
Reunimo-nos todos à volta de uma fogueira deixando ver espectros de rostos avermelhados, uns pelo calor, outros pelo álcool e outros pelo desejo.
Levantamo-nos e de mãos dadas fomos andando na beira da água que ondulando na calmaria nos molhava de vez enquando, conversando pela primeira vez, tentando desvendar o segredo de cada alma. Uma estrela cortou os céus deixando o seu rasto de fogo e nesse momento como presságio nossas bocas se encontraram, primeiro num toque suave depois tentando gritar aquele sentir cá dentro que cavalgava sedento, varrendo no olhar a realidade e levando-nos aos céus ao encontro dessa lua onde numa nuvem de encanto nos deitamos gementes e delirantes com a pele tensa e suada brilhando agora como gotas de geada até ao culminar explodido que é agora esvaido num langor que nos uniu num novo sentir num novo bater em algo que até ali era apenas palavra e que agora era seiva que corria no nosso sangue e que viera para durarar " AMOR"

Como seria?


Partiste um dia amortalhada no silencio. Não me deixaste no vento a tua ultima palavra,o teu perfume o teu adeus, porque estava longe e por mais que tentasse não te consegui agarrar.
Partiste num apagar de luz e os teus olhos perderam aquele brilho de vida com que sempre me abraçaste, mas mesmo isto me foi recusado e essa mágoa ficou cá dentro sempre me moendo e espetando quando menos espero, mas o que me dói mesmo, foi não ter havido despedida.
Vejo-te sempre com um rosto de vinte anos, com um sorriso divinal, com o olhar cheio de amor, com o ultimo abraço e com as tuas palavras ditas no nosso ultimo dia "Volta depressa porque te amo".
O avião que me levou subiu aos ares e por entre nuvens de sonhos me embalou....
O acordar dias depois foi tormenta que se abateu sobre mim. O teu peito já não arfava, o teu coração já não batia, os teus lábios já não tinham cor, a tua voz já não me atingia, tudo porque tu, morte malvada, me a arrancaste da vida quando eu não estava para a proteger para a agarrar para me levares junto. Mas não contente com isso me deixaste aqui mergulhado na saudade.
A vida corre agora nas veias da minha carcaça, a felicidade sorriu-me um dia e deu-me frutos que amo e amarei, mas não me responde à minha pergunta "se não a tivesses levado morte, como seria?

Jorge d'alte 1.06.10