quinta-feira, 22 de março de 2012


Palmilhava a rua deserta de fachadas desgastadas e tristes, curvando-se bem lá no alto em gradeamentos de varandas, como se quisessem manter-me sequestrado nessa sombra, cada vez mais terrifica e putrida, que caia com o desprezo da luz solar. A única companhia era a sombra que se movia, ora ao meu lado como um amigo, ora atrás como um predador, buscando no seu cérebro doentio fantasias para se alimentar, ou à frente como anjo indicando-me o caminho. A angustia retia os meus passos e a mão esticada buscava o apoio na luz que se esvaia. A rajada encorajou a árvore negra que se vergou como se tentasse agarrar-me com os seus ramos nus e dançantes e o coração bateu no terror. Que me estava a acontecer? Só podia ser um pesadelo! Estava perdido no tempo. A estrela que eu amara caíra do céu abatida pelo destino, e eu não tinha a sua luz para me guiar, o seu calor para me aquecer, a sua dança astral para me enfeitiçar, os seus lábios colados aos meus, esse mel de vida que nos faz amar, nos dá um sentido à vida e nos coloca da dependência.
Olho o caminho que só tem um sentido, tento olhar para trás para ver onde ficaste...mas o tempo engoliu esse momento e deu-me a dor e a saudade por companhia. Arrasto os pés na calçada agreste da rua e a sombra faz-me companhia até que um dia a luz se apague também e me dê outro céu onde te encontrarei e então seguiremos de novo com as mãos dadas na planície onde as sombras foram banidas e a áurea deste outro amor a ilumine para a eternidade.


jorge d'alte

segunda-feira, 19 de março de 2012


Quanta tempestade
quanta bonança
queimaram o teu corpo sem remissão
O nevoeiro da idade
esfumou a lembrança
mas tu ardes sempre em saudade, no coração.



Jorge d'alte

terça-feira, 13 de março de 2012



...A primavera rebentou como imensa flor, alegrando os olhares e retemperando os corações do Inverno que não fora. O frio deixou-se envolver no calor do sol e tudo tem sido diferente.

...a noite fúlgida refugiava-se nos becos e nas estreitas ruas, daquilo que fora eu. Aprisionava no seu negrume as asas do meu coração, tentando tragá-lo para chamá-lo de seu. Fora antes um corpo de sedução, um rosto belo que dera volta à minha cabeça, cegando os meus olhos num deslumbramento desmedido.
Como traça voando em volta dessa luz ,acabei preso na sua teia de magia, deixando-me ficar ali mudo sem sentido de vida, langoroso naquela rotina e as interrogações que eu quisera e pensara fazer, ficaram caladas nos beijos impetuosos que me colheram e seduziram.

...agora vergado pelo peso da escura dor, qual tormenta invernosa e frio que racha, tento cavar trincheiras de refugio no seio da minha alma, apelando ao imo do coração. para que volte a bater de novo e me traga uma nova vida nas rédeas da esperança.

jorge d'alte

sexta-feira, 2 de março de 2012

Hoje clamei a tua presença e os sonhos vieram em tons de rosa...
........Era dia de anos e andava nervoso. Os treze chegavam hoje mas não havia diferença, continuava o mesmo por dentro e por fora. Talvez tivesse crescido mais um centímetro desde a ultima vez. Ansiava pelo lanche e pela companhia dos meus amigos e sonhava com sorvete de chocolate conforme me fora prometido.
...As batidelas na porta sucederam-se continuamente tantas quanto os meus amigos que chegavam. Choveram prendinhas mirabolantes que me fizeram sorrir mas .... Foi um grande mas que surgiu perante mim nuns olhos verdes de prados húmidos num sorriso deslumbrante de luminosa alvura...desculpa trouxe a minha prima comigo pois não a queria deixar sozinha - Não te importas?
Se querem saber o que disse têm que esperar muito pois eu perdi-me nesse prado e corri nesse vento quando o nome foi soprado como canto de sereia... Pois já devem estar a ver...foi mesmo isso que aconteceu fui apanhado num sentimento tão angustiante e belo tão ansioso e novo que me movia a seu belo prazer como marioneta controlada por invisíveis fios...soube sem saber que lhe chamavam "amor" e era tudo o que eu via nela e era tudo o que eu queria e por isso já perto do entardecer segurando a sua linda mão lhe perguntei - como te chamas?
- Eu sou a M... mas porque sorris assim para mim?
- Tu fostes a mais bela prenda que me trouxeram e gostava que fosses minha?
E os anos voaram sempre cheios de ti e os nossos corpos mudaram como as estações e os sonhos com eles...e ficaram ali naquela primavera quando partiste e eu fiquei quando o sono eterno te fez dele e a mim calhou-me a eternidade da dor da esperança de nos voltarmos a ver um dia nesse lugar onde agora vives.
Obrigado por teres vindo mais uma vez ao meu encontro pois por mais que eu viva nesse dia também morri.