terça-feira, 29 de junho de 2010

Deuses por uma noite

No céu um risco de fogo atraiu os olhares!
Tudo seria banal se esse fogo não me tivesse atingido a alma atirando-me de bolandas para o tempo ido.
Foi num dia assim de fremente verão quando os corpos reclamam no solstício a ânsia do amor e as almas partem sonhadoras em busca desse doce néctar que tu apareceste na ponta do risco e encandeáste nesse imediato o meu coração com a tua alegre beleza.
Os olhares parados sorriram devagar alargando o reconhecimento que algo havia que os atraia e que naquele momento já não podia ser separado.
E assim a história começou, não com "era uma vez" mas com um singelo e mudo pedido que nascera no nosso olhar só porque a estrela cadente escrevera nesse sarrabisco os nossos nomes na imensidão do céu e os gravou com o seu fogo nos nossos corações incendiando-os e assim Jorge e....sofreram em paixão, viveram numa noite uma vida,de mãos dadas subiram ao olimpo onde foram deuses por uma noite.

jorge d'alte 29.06.10

domingo, 27 de junho de 2010

Último acampamento

O toque suave chegou.
O rouxinol que na árvore cantava levantou vôo deixando no ar uma última nota de protesto. Mas que interesava isso se o meu corpo agora coberto pelo calor do seu me mantinha desperto e concentrado nas palavras que ouvia.
Promessas de um amo-te, um gosto de ti, vamos ser felizes um dia e ter os nossos botõezinhos a darem-nos cabo da cabeça.
O seu rosto resplandecia de intensa felicidade, dando à madrugada caída uma luz surreal fazendo o meu coração ansiar perante tamanha beleza numa atmosfera inédita e diferente onde o papel principal era ela.
O seu dedo contornou o meu rosto deslizando com extrema suavidade até aos meus lábios num prazer desejoso e o beijo aconteceu num mudo querer aguardado enquanto os olhos fechados viam um sonho emocionado onde éramos apenas um e aí eu senti que as nossas asas batiam ao ritmo de um coração e juntos voámos na emoção, no desejo, na esperança na fé no belo que grassava dentro e se eternizava num langor sem fim.
As mão agora dadas percorriam o campo aberto e verde onde acampáramos e dirigiam-se para a pequena lagoa cavada na pedra dura.
Sentados com os pés na água desfiávamos na conversa coisas passadas e presentes com o olhar num horizonte onde residia a nossa felicidade...
Foi o nosso último acampamento.
Depois tudo se perdeu tudo deixou de fazer sentido, mas a felicidade essa não morreu, pois trago-a sempre comigo e no dia em que nos abraçarmos de novo e o rouxinol deixar a sua última nota de protesto recomeçaremos numa nova madrugada uma nova história para a nossa vida


jorge d'alte 27.06.10

sábado, 26 de junho de 2010

Nevoeiro da vida

Hoje parti à tua procura!
Rumei decidido ao teu encontro. Não era sonho era verdade. Entrei no nevoeiro que se cerrou em mim apertando-me com a força que só a natureza tem.
Parei atônito pois a luz ficara retida e como cego eu via a tua áurea brilhar recortando-te com beleza nas gotículas que entretanto bailavam na brisa.
Não escutei a tua voz, mas senti-a, não te pude beijar mas desejei, não te pude abraçar mas sonhei, quis-te alcançar mas não voei...
Na minha mente ferravam-me as eternas perguntas sem resposta.
Porque tiveste que partir?
Porque tiveste que testar o meu amor desta maneira?
Porque não esperaste para te despedires?
Ai dor minha como te amo, pois é a unica coisa que hoje tenho certa de ti.
A dama de negro levou-te naquele dia em que a minha pobre vida parou. O teu sorriso já não corre para mim as tuas palavras sussurradas leva-as o tempo deixando na minha alma um rasto de mágoa.
Apesar de tudo o que continuou para lá desta dor,guardo na minha alma como maior tesouro a tua recordação e fico esperando que cada ruga gravada no meu rosto seja mais um passo para o nosso reencontro.
Não tenho medo dessa valquiria negra, pois sei que te vou encontrar e então sim as nossas almas se unirão de vez e o espaço será curto para a nossa eternidade.
Até lá vou continuar no nevoeiro onde a realidade se transforma e onde tudo é possível desde que o coração sonhe desde que o coração queira.

jorge d'alte 26.96.10

quarta-feira, 23 de junho de 2010

è tempo de Verão


É tempo de verão!
Ontem estive num local sagrado, onde há muito tempo eu e os meus amigos nos juntávamos depois das aulas do Garcia de Orta.
É na praia do MOlhe nesse areal de pedra grossa junto às pedras milenares do tempo da formação da Terra.
Ai a amizade era pura como as águas dessa época onde nada manchava onde não havia a poluição de sentimentos que há hoje, onde os sentimentos eram chamados com a voz da nossa alma.
Amigos que vivem no coração e na saudade.
Muitos hoje vivem longe outros partiram, mas uma coisa ficou na memória tal como essas pedras antigas que ainda hoje nos cantam tempos passados " O amor da nossa amizade".


jorge d'Alte 23.06.10

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A voz


A voz batia à porta do meu sono, tentando entrar nos sonhos sem sentido que me assolavam.
Irritada a minha mente fremia com tamanha ousadia. Quem se julgava essa vozinha mimada, para entrar assim sem ser anunciada.
Arre que é chata!
A doçura entretanto deslizara tentando insinuar-se sensualmente em murmúrios tocados e a mente deixava-se pouco a pouco enredar-se nessa malha que tudo prende, onde fugir já não é opção onde a vontade já não é nossa onde a ternura faz estragos como um furacão.
Nos meus sonhos a voz tornou-se bela num corpo de mulher que agora me apertava num abraçar tirando-me os últimos laivos de rebeldia e fazendo-me definitivamente seu.
Pouco a pouco a emoção traçou no sonho seu rosto com o desvelo de um cultor.Fez-lo sorrir no seu alvor como madrugada húmida que me beijou deixando que as gotas do desejo escorrecem na lentidão, prolongando o momento até este arder numa suave combustão que irradiava serena e persistente alcançando aos poucos todo o meu ser.
A vozinha lá continuou dizendo palavras sem frases mas que elevavam esse fogo até ao olhar. A mágica tornou-se agora em corpo volupto que se enrolava no meu como trepadeira ousada erguendo-me até aos céus.
Aí o sonho transformava-se, era rio que me levava pelos escolhos dos sentidos, por entre quedas, ravinas até ao lago imenso e sentido onde a voz se transformava numa só palavra "amor"
A voz era mel atraindo os meus sentidos invadira os meus sonhos e agora que os olhos se abriram era saudade despida jazendo deitada ao meu lado.


jonel 18.06.10

domingo, 13 de junho de 2010

Porque me chamaste?

Porque me chamaste?
O sonho era lindo naquele dia de primavera. Os olhos fechados viam por entre nuvens esbranquiçadas as mãos dadas correndo ao sabor do vento levando nossos corpos em atropelos onde a alegria brilhava nos olhos e o gargalhar do sorriso era promessa culminada em beijos que chegavam como aquelas mansas ondas do mar. E como elas, trazia o sabor e o cheiro do nosso amor.
Sim eram dias ofuscantes onde a juventude era irreverência, era desprendimento era a força dessa vida.
Diz-me quanto tempo se passou?
Naqueles dias nunca nos passou pela cabeça que o nosso futuro eram só mais duas semanas.
Não nunca nos passou pela cabeça!
Onde estás agora?
Por favor o que é aquilo no canto dos teus olhos?
Deixa-me enxugar essas pérolas salgadas que rolam desses olhos cor de mar!
Abraça-me agora no meu sonho e deixa-me sentir o perfume do teu corpo, a tua pele tisnada como cetim dourado, o teu coração descompassado, a tua respiração apressada...tudo o que me foi retirado.
Porque me chamaste agora?
O vazio enche a minha alma. A dor e a tristeza mordem-me de vez enquando, mas a recordação vive na minha mente. Vejo-te como sempre bela e morena quente, com rosto de vinte anos, sem rugas, sem máculas, mas agora sem vida.
Estou quase a acordar, os meus olhos despertam no escuro escutando o teu apelo, envolto no meu sorriso.
Há quanto tempo já não sorria assim?
Agora sei porque me chamaste!


Jonel 13.07.10

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Tempos


Nestes anos idos recordo com saudade os tempos em que perdidos na nossa ânsia de vida nos divertíamos em grande sem recursos aos aparelhos de alta tecnologia.
O computador tinha dado os primeiros passos na mudança radical da nossa sociedade, mas sem internet. As musicas eram ouvidas ainda em rádios, gira-discos e gravadores, mas com tanta ou mais sofreguidão do que agora. A TV só tinha 3 canais e não havia tv por cabo. Assim nos cafés e esplanadas os jovens conviviam em conversas animadas questionando o dia a dia e avançando nos seus sonhos.
Um dos locais em que nos reuníamos era no clube de naval de Leça junto ao porto de Leixões. Aí fazíamos nós a festa desde sexta até final de sabado.
Assim comprávamos mantimentos divididos por todos e ali estávamos, conversando discutindo, cantando, amando, e dando azo à imaginação. Acendíamos a lareira da sala e aí à sua volta nos uníamos numa comunhão fraterna de enorme amizade.
Aprendi a cultivar este enorme sentimento, que o diálogo é motor de vida, que os sonhos nos levam a avançar que o amor é para ser vivido.
Foram sem dúvida momentos importantes da vida onde a palavra era força, era amizade era amor.

Jorge d'Alte 10.06.10

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Guerra


As balas assobiavam no ar e o estampido rompia os meus ouvidos. De vez enquanto um troar mais forte precedia o longo assobio e a bomba caia com um deflagrar tremendo tirando-nos o ar dos pulmões. As pernas corriam em Zigs-zags constantes tentando desviar-se do caminho do ferro bicudo que nos podia matar. No ar o cheiro a cordite era medonho e dos olhos escorriam lágrimas de tanto fumo tirando-nos a visão do medo e instigando-nos a andar para acabar mais depressa com o inimigo.
De repente rastejava no chão cru de terra e pedras tentando respirar e acalmar o coração. Os gritos dos feridos arrepelava-me a nuca e o suor misturava-se com o pó e o medo. Dos meus dedos saia o cantar constante da metralha e a alma sangrava por aqueles que poderia matar. De repente no chão um arfar chamou a minha atenção.Um corpo estendido estremecia espamódicamente com sangue a borbulhar de uma ferida que lhe enchia o peito já sem ar. Por cima de todo este estrondoso matraquear ouvi o ultimo estertor da vida que daquela alma se escapava.
Porquê meu Deus!
Que fizeste a estes jovens?
Porque tem a vida de ser assim?
E ali fiquei a olhar sem brilho nos olhos nem lágrimas para chorar.

jonel 7.06.10

sexta-feira, 4 de junho de 2010

A Lagoa perdida


Lá para as bandas mais a norte existe um local a que chamávamos "lagoa de pedra".
O passado encontrou-me aí deitado nas quentes pedras e mergulhado nas doces águas calmas. Foi um sítio de sonho, onde vivi alguns dos momentos mais fantásticos da minha vida. Ainda escuto o gritar da água caíndo das alturas enchendo com a sua graça a pequena lagoa presa entre pedras sem tempo.Como tempestade as águas despenhavam-se raivosas, mas num ápice acalmavam conformadas e criavam a frescura onde a lascívia nos incutia ondas de luxúria na sensualidade dos corpos vestidos ou nus. Assim amar foi Adão e Eva, foi verbo conjugado em todos os seus tempos, umas vezes sob sol abrasador, outras na companhia da velha lua que não sei porquê acompanha todos estes momentos únicos. Mas também foi local de convívio, onde a nossa juventude dava aso à sua imaginação, muitas vezes misturadas com laivos de inconsciência sobretudo quando nos lançavamos no abismo para mergulhar nas águas. Aí compreendemos a amizade reforçando com fortes correntes de ternura, um sentir que ficou para a vida inteira.As músicas entoadas e tocadas na viola,as caminhadas na natureza, as partidas pregadas, as ideias bailando-nos na mente, a política presente, a angustia dos exames, a alegria de sabermos que mais metas tinham sido alcançadas, os abraços para toda a vida, as promessas sussurradas, a ajuda dada sem ser pedida. Sim foram tempos de glória em espadas brandidas em nome de uma mudança, onde todos tivéssemos a possibilidade de um novo futuro de liberdade, de escolhas e pensares. Hoje lembrei-me deste sítio, e por mais que pareça magia este lugar esfumou-se nas memórias e dele só tenho a recordação. A vida conjurou na separação das partes e cada um seguiu por caminhos diferentes com cruzamentos esporádicos e profundos de tempos a tempos onde procuramos reviver tudo aquilo que eramos e o que hoje somos. Assim na bruma do tempo este local paradisíaco se perdeu. Por mais que hoje procure todos os trilhos me afastam dele e nunca mais lá fui.
E a magia está aí como lição de vida, nunca devemos esquecer ou afastar as pessoas ou as coisas e locais que amamos sob a pena de nunca mais voltarem e assim passarem à história como mera doce recordação.

jonel 4.06.10 (Foto quando tinha 22anos)