domingo, 4 de dezembro de 2011

Natais passados


E a história começa algures...O pinheiro cortado jaz envasado na penumbra da sala. O entardecer trás agarrado como carraça o frio que não se vê, mas que começa a fazer-se sentir...é a hora da lareira e a centelha de fogo cresce, primeiro na tremura depois alta e arrogante, crepitando cada vez mais alto a sua chama. Em volta do vaso, as mãos rugosas de anos passados, colocam figuras e carneirinhos por entre o musgo e a terra barrenta, num palco imaginado. Mais atrás o presépio dá vida à quadra que atravessamos e o spray deita nuvens de neve fictícia e o manto branco repousa por fim por entre acordes de "Silent Night e O Tannenbaum".
No sofá onde recosto olho toda a cena. O espírito leva-me rápidamente no sonho num torvelinho de emoções...
... rapazola de seis anos, sentado na carpete arraiolada, vejo pessoas que partiram e que fizeram parte de toda uma vida, a minha. A azáfama e a algazarra dos preparativos, as luzinhas piscantes repousando na árvore, ora mostrando um pastor, um cordeiro o menino Jesus, o burrinho...
- Pai quando vem o Pai Natal? Já estou com sono e o sapatinho ainda não tem prendinhas.
- está atrasado e só vai chegar de noite, por isso é melhor deitares-te e quando acordares verás se ele deixou alguma coisa...
E os sonhos vinham embrulhados na luz áurea dessa noite, onde no céu cheio de estrelas, o trenó viajante ia depositando pela chaminé, prendinhas de surpresas arrancando gritinhos de satisfação de vozinhas finas e de adultos. A confusão instala-se no redor, mas os olhos estão fixos no lindo carro de metal...este seria uns dos sonhos que concretizei...o outro veio mais tarde nascido de um beijo que tornou realidade a existência dos meus filhos, por ventura a prendinha mais gostosa e apetecível.

jorge d'alte

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Desci a rua alagado no suor, que teimava em me ofuscar os olhos e em me cobrir o corpo, molhando a T-shirt azul que vestia. Os calções agora justos e colados moldavam as formas viris irritando-me.
Tinha subido a pequena montanha, pensando que tudo seria fácil nesse caminho tortuoso, cheio de abismos e contradições. No alto o sol torrava no seu esplendor e se a felicidade era isso eu não a queria. Não queria passar o resto da vida deitado e sonhando ao sol.Sabia que esta pequena montanha, era apenas uma fase desta vida, subida a custo, onde o suor era o fruto do esforço de cada dia. Naquele cimo tudo era dourado tudo era imenso horizonte, tudo era liberdade, mas...
Não havia escolha para as pequenas coisas que engrandecem a alma e os dias futuros. Não havia a luta diária para conquistarmos o nosso lugar, não havia a esquina onde moravam os teus olhos, apenas um horizonte tão imenso, que eu não conseguia agarrar e aí a vida passava na monotonia, escoando-se pelos dedos a cada minuto tornado eternidade.
Sufocado com a realidade, não baixei os braços. Lutei contra o acomodar e vi a luz da vida de novo. Estava mesmo ali como pirilampo um pouco mais em baixo...Se descesse a montanha talvez ainda a apanhasse, mas para isso teria que deixar para trás os dias dourados que conseguira. Mas para que os queria, se iria morrer no tédio, quando eu queria algo novo que voltasse a espicaçar-me e incendiar-me a vida.
Por isso corri no suor descendo a montanha, encontrando de novo aquele caminho singelo e lindo que me levava ao sorriso, aos olhos amados, ao beijo da perdição, sentindo de novo este bater grandioso, que nos leva, esse sim,mais alto, ao paraíso.


jorge d'alte

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

DEVASSA


Rasguei a lua, esventrei-lhe o ventre.
Procurava o pus que infecta, aquele negro que se esconde na outra face, iludindo-nos com a outra com o seu charmoso luar.
E o amor é como ela, moça de duas faces, uma que nos sorri e nos beija, enquanto que com a outra nos trai e nos espeta na alma, as mais amargas palavras.
O ódio agarra-se à alma, tentando destruir o sentimento belo e harmonioso do amor e as almas rolam como cascalho lixado na merda da calçada, mas ali também de repente sentimos a mão da amizade e essa é forte quando verdadeira e sincera. O nosso olhar reluz então na esperança e o passo caminha com duas sombras lado a lado. Não vemos o seu rosto mas sentimos o seu sorriso e o elo aperta-se a cada futuro alcançado.


jorge d'alte

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

AMIZADES

Nestes dias de tempestade, quando o vento nos apela, a chuva nos chora e procuramos no calor da chama o horizonte do passado onde nos relembramos em saudades, transfiguro a mente e sonho.

Tantas amizades consegui, não daquelas que nos pedem, mas sim aquelas que se deram.

As mais recentes foram as virtuais mas também foram as mais sinceras. DE tantas uma duzia fazem-me mais feliz, pois eu sei que essas se preocupam estão vigilantes e me apoiarão se eu necessitar mesmo sem pedir.

A todos esses lindos corações o meu obrigado!

Jorge d'alte

sábado, 22 de outubro de 2011

DIA TRISTE


A Terra gritou no som caindo, o vosso calor, deixando-me apenas nos olhos caindo, pérolas queimantes da angustia da perda, o vazio cheio da vossa saudade, o esvaecer da esperança cortada num mero segundo.
Vossos nomes ficaram bailando nos lábios de muitos, na incompreensão do momento, no porquê.
DE vez enquando ainda sinto os vossos olhares derretendo-se na meiguice, dando-me sem se ver esse momento de amor, levando meus passos com mãos de flor, que como beijo deposito na terra batida que vos cobre.
Guardo-vos para sempre no meu coração, ou não fosse eu um pouco de Vós Pai! Mãe!


jorge d'alte

terça-feira, 18 de outubro de 2011

E...


E ali estava eu descansado, sentado no banco alto, tendo como facho um copo cor de âmbar que me adormecia o olhar, anestesiado na rotina do ruído e do som berrante da musica...e foi um toque do tipo desafinado que ergueu o meu olhar e o levou até ao palco, onde corpos se contraiam em comprimidos agarrares cheios de paixão, ou em gestos frenéticos de falsa jovialidade, que faziam ondulados esquisitos e fastidiosos...
O tempo parara na doçura do sorriso, na ternura do olhar, na sombra de medo que pairava na ansiedade, chocado naquela beleza, sim era a palavra certa, beleza sem subterfúgios, simples e natural.Era um oásis no meio daquele infernal deserto do quotidiano fim de semana.
Quando dei por ela sorria parvo! O copo ficara perdido algures e o meu olhar brilhava com nova chama, com nova vida, alento que me levara até ali...Um encontrão fez-me vacilar como chama tremeluzindo, captando a atenção daquela traça que assustada e retirada do seu pouso, olhou em volta surpreendida, dando de caras com o meu sorriso.
Sorriu ou não sorriu? Fora apenas um esgar de surpresa e incompreensão que vira no seu olhar?
Não tive tempo para me decidir, pois a minha voz traidora dizia para ela" olá! Eu sou o Jorge " e...
As costas viraram-se para mim e o corpo franzino e bem delineado num gesto de pura sedução traiu-a, pois o seu rosto manteve-se virado para mim e como pirilampo na noite escura ora sorria, ora caia na cor da timidez, mas por fim perante o meu olhar interrogativo disse " Eu sou a Graça "

Eu sabia o seu nome, eu conhecia o seu perfume, eu ardia no seu fogo moendo sentimentos no colar dos nossos corpos, na tola dança que não ouvíamos...os dedos nas pontas das mãos dançavam entrelaçados e afagantes outra dança, com outra sedução, trazendo outra avidez que percorria a espinha de lés-a lés e morria no algures cá dentro, fervendo noutra calda de sentimentos velhos, sempre rejuvenescidos e novos, pois que quando se evocam com amor, são céu, terra, mar, universo continuo que nunca mais tem fim e assim a história seguiu seu rumo num outro local, numa outra dimensão, cheia de sensações, desejos receosos e ansiados, numa oferta total, numa dadiva sem fronteiras...


jorge d'alte

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

DESESPERO

Rasguei essa lua no auge da raiva,
noites que me enfeitam a alma
agora no desespero.
Clamo na sombra esguia a tua chama,
- Maldita seja a brisa que te apagou!
Arranco à terra tufos de dor rouca,
ergo-os aos céus banhados de ranho e lágrimas,
essas sentidas da nuvem amarga
sufocadas no fel que ficou.


Jorge d'alte

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

TU ÉS SETEMBRO


Para mim é sempre Setembro !

A grande laranjeira cortava o calor com a sua frondosa sombra. A seus pés alheados de tudo os olhos mitigavam a sua fome no belo, traduzindo em expressões cheias de puro amor. Éramos ainda crianças e inocentes, mas a vida começava já a ferrar.
As promessas raiavam, como bocados de sol no meio das folhas agitadas pela brisa, e enchiam a nossa alma de um sabor diferente que nos tornava crescidos a cada passo dado. Eram os quinze anos e o despertar para algo mais sério e responsável. Traçávamos no curto espaço entre Tu e Eu os primeiros esboços de uma nova vida que queríamos partilhada em todos os sentidos.

Era outro Setembro, este mais frio e raivoso nas rajadas que trespassavam os nossos corpos.Mas o tempo não nos afectava pois a magia do amor fora algo inolvidável e deixara para sempre a sua marca o seu estigma e a união das almas.

Os Setembros passaram na vida como meses intermédios como preparação para a primavera que queríamos viver onde o nosso amor iria por fim ser renascer e florir preparando um verão onde as luas seriam fogo e o luar a nossa mortalha.

Mas o sonho morreu num Setembro abrupto onde o terror imperou no cutelo de uma morte inesperada que te levou e me remeteu ao inferno onde em redopios de dor e choque me perdi afundando-me nessa cor negra que me rasgava o coração. Mas sobrevivi fazendo-te viver de novo na minha alma, guardando para mim esse teu rosto sempre jovem que amo e as tuas palavras que muitas vezes me acordam na noite tirando-me um sorriso nesta máscara que me envolve pois por muito que me sinta feliz a dor está sempre lá, cantando a sua melodia algures debaixo da frondosa laranjeira arrancando à brisa a cor de um amor que nunca morreu.


jorge d'alte

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Página Vinte


A pele retraiu-se como capa de livro, guardando no âmago da alma toda a beleza de uma vida.Pudera ter sido mais bela, mais vivida mais preenchida? Sem dúvida que sim, mas por muito que queiramos controlar o seu rumo, a vida desafia-nos a cada instante e ao mínimo deslize pagamos duramente, pois só podemos aprender com os nossos erros. Entramos deste modo no mundo dos "SES"...

Página vinte o acabar de um lindo sonho...Se... a velha negra que tudo tira sem dó não existisse tu estavas porventura aqui sorridente e bela só para mim. Agora só me resta a saudade das recordações para te sentir e ver mesmo à luz do dia, mas é nas noites que mais te desejo e que tu vens ter comigo envolta no teu manto de luar, ou vestida de negro com estrelas rebrilhando ofuscadas no teu sorriso. Assim danço contigo nas estrelas do nosso céu, em nuvens fofas e viajantes que nos levam pelo universo dos sentidos, pelos sonhos que um dia foram idealizados para serem realidade.A partitura que regeria esses sonhos foi arrancada na brutalidade e a musica caiu solene e tenebrosa pela força de um destino que não escolhêramos mas tu serás sempre jovem nos meus olhos porque não envelheceste, enquanto que eu definho em cada olhadela num espelho que não mente... mas não morri! Luto por outros sonhos que me trouxeram partes de mim de que não abdico, que são o meu orgulho o meu amor a minha força para viver.
Abracei este novo sonho em amor numa outra sinfonia que se revelou bela e é com ela que percorro todas as notas em cada dia tirando delas o que há de mais belo.Sons que nos enchem de vida, mas algures cá dentro existe uma outra melodia, a tua que foi a primeira.

Jorge d'Alte

domingo, 28 de agosto de 2011

AFINAL


AFINAL




Afinal a dama já não vem!
Tantos momentos criados em sonhos retorcidos,
inventando-os belos como únicos, como ramo de rosas,
criadas pela alma de um cultor,
cada uma com a cor do significado; eram dela.
Contei um a um esses segundos que nos aproximavam
dentro deste céu escuro, silencioso e fechado do meu quarto.
Perdido procuro, apalpando frenético uma porta imaginária,
que me leve à saída; é este o meu estado de alma.
Sinto o cheiro do seu murchar definhando na minha desilusão.
Ascendo à posição erecta dos “sapiens” e os passos abrem a janela.
Vejo de novo este mundo de luz que dizem belo,
esse mundo que por ser tão linear, nunca será o meu.

Jorge d'Alte

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

MENSAGEM



A mensagem sonou e entrou descodificada,
Porte-se bem!
E eu não queria!
Por isso refugiei-me no cinzento das palavras
facetando-as em refracções de acções e intenções.
Aos poucos montei esse castelo de cartas
amontoando as letras, baralhando-as,
dando-lhe novos significados, que no virar duma qualquer esquina
podiam ser esse novo caminho para o meu céu imaginado.
Só ela poderia ser a Estrela desse céu, só ela poderia ser a luz,
só ela e o seu sorriso poderiam encher o meu universo.
Por isso busquei na paleta da minha mente, as cores;
Com a alma em amor e ternura fui misturando-as,
dando-lhes o mote e o mate, a minha tonalidade e pintei - pintei horas a fio!
Por fim a tela ficou repleta e eu estava lá, fechado por cada pincelada.
Agora espero pelo seu olhar rezando uma ode ao belo encanto,
esperando que ela simplesmente me veja como sou…
Me dê a sua mão com amizade e me leve de novo à vida, que sou.
Por isso conto o tempo nos segundos, pois a resposta vem algures no caminho…
Queira Deus!

Mas não veio!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

FÈRIAS


Hoje percorria em passos corridos os trilhos de terra batida do parque da cidade, que de curva em curva, de descida em descida me depositaram frente a este mágico lençol de água que é o mar, onde dezenas de jovens se divertiam, uns com as suas pranchas de surf, outros nadando. Os meus olhos regalaram-se uma vez mais com este imponente espectáculo sempre renovado e os meus olhos mergulharam na recordação...

junto com os meus amigos, no meio da algazarra das vozes finas, os meus passos lá iam pequeninos mas firmes, levando-me em direcção ao mar. Não eram trilhos de terra que eu percorria, mas a avenida descendente que partia desde a porta da casa. O cansaço dos quilómetros não contava, pois estavam diluídos na adrenalina que nos consumia em mil e um projectos de brincadeira.
A areia grossa de pedrinhas lisas pela eternidade dos tempos, magoava os pezinhos que a calcavam. O mar chamava-me mesmo ali enfrente, lançando ondas em desafio que troavam nos meus ouvidos como rugidos de monstros escondidos. Virei-lhe as costas brincando com o balde, as pás e as formas.Sabia que mais cedo ou mais tarde havia de ter de enfrentar este desafio e enterrar na cova feita na areia seca, os medos desse belo monstro que se chamava mar. O sol estava quase a pino lançando dardos de forte calor. Tinha chegado a hora de tomar a banhoca, mas o passo recuava perante a investida das ondas, que deixavam o seu riso espumante na areia, troçando da minha pequenês.
Os meus amigos, alguns mais velhos, chamavam por mim para que fosse ter com eles e entrar nas sua brincadeiras. A mente queria dar o tal passo enfrente, mas as pernas recusavam-se murmurando dilacerantes " não vás, pois as ondas podem-te comer". A reacção foi o salto para trás, mas ao mesmo tempo senti uma mãozinha agarrando a minha e como pena sorridente me depositou incolome no meio das ondas. Olhei sufocado pela frieza da água, mas depressa esqueci subjugado pela pureza do sorrir. Era ... a minha amiga mais velha que metendo as mãos dentro da água me começou a chapinar no meio de risos e gritos.
Afinal o monstro que me consumira durante longos momentos fora cordeiro quando enfrentado, mas bem lá no fundo a voz da razão murmurava "tem cuidado".

Naqueles tempos tudo era diferente e hoje adoro nadar e escutar a suave musica do mar e da água.Daria tudo para que no meu tempo houvesse pranchas para surfar para percorrer essas ondas selvagens que de longínquas paragens vêm, cada uma com a sua história para nos contar, pois como os dedos das mãos todas são diferentes...
Agora a mente questionava-se - que terá sido feito dessa amiga...os passos voltaram a bater no solo levando o corpo abstracto mergulhando de novo no mar vivo das recordações, e as ondas vinham trazendo rostos amados que algures por aí talvez continuassem a sorrir.

Este deve ser o meu ultimo texto, pois vou partir de férias, curtir ondas frias e quentes, trepar montes e descer até vales desconhecidos, entrar na piscina azul que enche o quintal...mergulhar num livro e perder-me.

jorge d'alte

terça-feira, 26 de julho de 2011

RECORDAÇÃO

O sol nascera e a minha vida despontara. A minha sombra crescia no chão que pisava. Tudo era novidade, tudo era aprendizagem,e a alma encheu de milhentas coisas que lá guardei. Agora o sol estava no zénite a a sombra estabilizara. Já não seguia á minha frente mas ao meu lado. Foi aí que a alma descobriu o coração e este o amor. E tu foste entre muitas a escolhida, aquela que compartilhou comigo a nova aventura, em descobertas permanentes de um outro estado de espírito e emocional. E aí encontrei essa união essa árvore que ramificou e deu rebentos. Agora a sombra segue atrás dos meus passos. O meu rosto enfrenta a cada hora a cada dia a vida traiçoeira, mas não vacila mesmo sabendo que um dia o sol se vai pôr e não trará novo dia.

A árvore frondosa ensombrava o espaço, mesmo ali ao lado onde o regato cantava mil sons através das pedras desgastadas.Tu olhavas para mim de uma forma diferente...Senti-me mal no teu silencio, enquanto os teus lábios cantavam o teu sorriso.
Ai que lhe deu pensei!
A nossa amizade desde miúdos era livro aberto cujas linhas cheias de letras formavam palavras que conhecia de cor.
Desta vez as letras eram diferentes, como diferentes eram as sensações que trazia o teu olhar.
Aproximei-me dela pegando-lhe na mão acetinada e dourada pelo sol, quando me senti puxado pelo seu olhar e abraçado e sem dizer palavras as bocas uniram-se numa bola incendida de um sentimento novo que dera lugar ao da amizade.
O amor despontara nesse dia e ficou para sempre ardendo no meu coração.

jorge d'alte

sábado, 16 de julho de 2011

... VI-TE


... Vi-te hoje mais uma vez para lá das estrelas para lá de tudo iluminando este meu céu ferido pela adversidade do destino. Não eras estrela, astro ou enigma. Eras apenas tu sorrindo na alvura embrulhando-me na tua ternura e sussurrando-me aos ouvidos em brisas de amor.
Desta vez, talvez por a saudade ter sido mais forte mais penetrante mais apelativa ganhei as asas da fantasia e voei até ti.

Apenas nos olhamos sentidos, nos contemplamos com doçura e deitados na nuvem branca como lençol de linho, sonhamos o nosso amor interrompido.

Amo-te como sempre te amei!


Jorge d'alte

quinta-feira, 7 de julho de 2011

...UFA!


...Ufa! Custou a chegar até aqui, subir tantos degraus e escorregar em tantos deles, mas olhando aquilo que sou, no que me tornei, acho que valeu a pena.
Mas vocês não me conhecem, não é?
Deixei muitas pistas naquilo que escrevi, nas ideias que deixei ficar, na mão que dei a algumas amigas, mas por outro lado recebi sangue de ideias novas destes tempos turbulentos, controversos e indecisos, que me ajudaram a compreender a nova juventude que tanto quer amar, que acaba a chuchar no dedo...mas isso são outras histórias... e lá vou eu resvalar na saudade e verter mais ondas de tristeza nesta noite sem lua.

Porque me chamaste na noite fria calando o brilho das estrelas e dando-me a tua luz? Eu sei que esperas por mim desde há muito nesse outro lá, onde tu existes e eu não consigo entrar. Por isso sonho para te ver, para te sentir, para te continuar a amar, independentemente de qualquer vida que o destino me dê. Inexoravelmente os ventos empurram-me para a meta, esse lugar onde conquistamos por fim a nossa paz e onde o amor é aquilo de que somos feitos. A dor trespassa por mim em cada canto onde me tento esconder; preferia que as tuas mãos se soltassem, tocassem no meu rosto e descessem até ás minhas apertando-as de novo e partíssemos agora juntos num novo caminho sem chão de pedra, sem lágrimas escorregadias, sem raivas e fúrias por te ter perdido.
Abri a janela para te ver nesse céu onde tu és a minha estrela, escutando ainda o eco do teu chamar, doce lamento como brisa deste mar que ondeia cá dentro. Pedi de novo as minhas asas para ir ter contigo, pois mesmo os sonhos já não me chegam, mas como as borboletas perdi-as e agora apenas me resta arrastar-me na escrita onde o meu grito se grava nas letras da desdita...


jorge d'alte

sexta-feira, 10 de junho de 2011

...TERRA


...Terra! Os Deuses debruçavam-se da núvem branca, espreitando essa bola azul pairante no céu negro, rodando enexoravelmente na volta à sua estrela. Era lindo este planeta cheio de vida e de cores imensas que os atraiam. Tinham visto pela nesga do céu nublado, seres diabólicamente lindos e desceram no proibido cativados.
Cegos amaram e agora jazem presos na história como deuses caidos na desgraça condenando-nos ao fogo eterno.

Assim tu e eu nos encontramos na teia infinita que nos rodeou e prendeu. fomos cascata de sentimentos unicos e belos, fomos corrente desvairada de rio louco que tudo venceu, fomos noites de lua sem luar, bordadas com estrelas sem fim. Desejamos em beijos sorventes que nos sugaram a alma, deixando-nos jazentes na felicidade e fomos continuação de vida, nos rebentos que deixamos.

Agora é a vez deles nos levarem mais longe no legado que recebemos dos nossos antepassados, transmitindo a alma dos Deuses que um dia fomos e que um dia seremos quando nos reencontrarmos.

Até lá, apago a luz e na liberdade da escuridão procuro teus lábios amor, e sonho...


jorge d'alte

sexta-feira, 27 de maio de 2011

...SERÁFICA

...Seráfica veio com pezinhos de lã.
Abriu a porta e espreitou. O olhar misturou-se nas sombras esquivas, que ora pareciam monstros caindo sobre os ombros, ora pareciam estrelinhas desafiantes em noites de lua nova. E ali estava a cama, qual barco flutuando nas ondas cinzentas do escuro, onde o branco dos lençóis convidava.
Estendido o rapaz sonhava.
Os passos ardentes correram suaves mas pungentes no desejo e ela estática olhava a forma indistinta com ratinhos na barriga. Ela tinha a idade que tinha e um corpo de mulher, pelo menos assim pensava, mas para isso queria que lhe matassem aquela fome que não era da barriga.
Levantou o lençol com cuidado e enfiou-se no seu calor agradada. Agora havia um novo filme para rodar. O seu olhar incendiara-se de excitação. Seria que o rapaz a quereria?
As mãos foram impelidas pelo coração e os dedos passavam suaves naquele rosto que picava. Murmurou um nome que gritou no silêncio, sussurrou palavras mágicas de ternura.O seu corpo colou-se como ventosa e depressa sentiu o arrepio que a invadira. Sua alma partira para novos céus apenas imaginados e nunca sentidos. Como era bom! E o suspiro correu-lhe até á garganta onde foi som.
As mãos descontrolaram-se. Que estava a fazer?
E o olhar do rapaz fitava-a na escuridão sem dizer palavra. Quem seria que o amava no sonho, ou era realidade? Sacudiu a cabeça sentindo algo forte percorre-lo e a luz acendeu-se no seu olhar, era realidade e tomado por emoções sem nexo abraçou aquele corpo, franzino de longos cabelos e pele tão suave. também as suas mãos saltaram ávidas como sorrindo e percorreram altos e baixos explorando, e os lábios eram canção, sinfonia sem notas nem pautas, apenas de cores sentidas e vibrantes. E tudo aconteceu! A moça transformava-se a cada momento, agora era mulher vivendo o primeiro sonho realizado num ato convicto de mordente amor.
A sua mente não pensava, mas o seu coração perguntava - E depois?


Jorge d'Alte

quarta-feira, 25 de maio de 2011

...RENUNCIAR


...Renunciar!
É a palavra que já pronunciei várias vezes, principalmente quando a minha alma se enfeita de cinzento e o sol não brilha e a brisa é vento varrendo do meu blog aqueles que eu queria escutar, que queria sentir, que me dão alento.
E tudo porquê? perguntam os vossos olhos desdenhosos...talvez não tanto assim, maybe curiosos...espectantes...Sim porquê? pergunto-me eu.
Não é que não tenha os ditos seguidores...não é que não comente os que sigo, è apenas porque não tenho eco na volta o que me faz pensar: para quê escrever aqui se o que encontro é silencio...pois é!
Eu sou gémeo (signos claro)e aí está o busilis da questão - dois em um - enquanto a razão diz-me, acaba com esta treta o outro o coração diz-me - e esses amigos que fizeste que te lêem (tenho mais de 5000 entradas)- lá está a porra da razão dizendo: mas são mudos PÁ! e o coração encolhe-se, revolve-se e ergue-se de novo forte e lutador.Mas que te interessa isso se o que eu quero é esse amor essa amizade essa fonte de aprendizagem, essa ponte entre o "Eu" e o "Tu"
hahah! E que aprendeste afinal?
Apenas a ser mais, mais do que tu, razão...

Renunciar; talvez seja efectivamente a hora certa.

jorge d'alte

terça-feira, 17 de maio de 2011

...QUE

...Que coisa é essa que me afaga o peito e por direito se entrega a mim?
No procénio como bela actriz ensinaste-me a ser actor. Mil caras desenhei em feições de amor, de desejos, emoções, dor...
Qual foi a mais bela? Perguntaste-me com o sorriso com que me cativaste.
Mãos estão suaves como borboletas beijando a flor.
Lábios de paixão vestidos, tiram-me o néctar da alma. Depois veio o sonho, que como gostoso etílico me inebriou e a pele corria liquida, desvairada, atirando-se da ravina, caindo com estrondo salpicando a gota, meu rio cheio que extravasa as margens da minha alma.
Que coisa é essa que me afaga o peito?


Jorge d'alte

domingo, 15 de maio de 2011

...POIS

...Pois foi assim que tudo começou!

" Desabotoou-me o casaco, despiu-me e massajou-me a nuca.Fechei os olhos e senti a tensão começar-se a dissolver sob a suave pressão dos seus dedos. tirou-me a gravata e depois foi a vez da camisa. Empurrou-me para trás e começou a desabotoar-me o cinto.Deixei-a prosseguir até ao fim. Senti-a levantar-se, ouvi o roçagar do tecido, entreabri os olhos e vi-a nua e sorridente.
- não te mexas!
Fechei outra vez os olhos e afastei todos os pensamentos do espírito.
O tempo passou em círculos lentos e indolentes até tudo se dissolver numa espiral explosiva que nos deixou ofegantes.
Em cima da mesa o telemóvel começou a tocar...
Estendi o braço para pegar...o beijo colheu o meu gesto.
A água corria erótica sobre peles esticadas, sensuais e dadas".


jorge d'alte


Jorge d'alte

domingo, 8 de maio de 2011

...ONTEM


...Ontem pairou um vento suspenso.
Ninguém vê a cara desfeita em lágrimas
há um inferno que queima
e deixa brasas que estralam na alma.
Essa negra que te beijou
levou-te a vida nesse beijo,
deixando um tosco corpo sem sopro
velado ás luzes das velas,
enfeitado de rosas e malmequeres,
sem borboleras azuis e amarelas
nem cantos de pássaros desafinados
de bicos risonhos em vez de dourados.
Triste primavera foi essa onde o mundo parou,
onde a mágoa cresceu,
caratatas do desespero e da desolação.
A saudade trouxe de volta esse cheiro perdido
esse calor ardido quando se abraça e ama.

Jorge d'Alte

quarta-feira, 4 de maio de 2011

...NOSTALGIA


...Notalgia! Moça refeita bem moldada no nosso espírito, vestes do passado em tons de presente. Botões de sentimentos que se arrastam no tempo, ditos que não foram como não foram prescritos e ali vogam nos "SES" desta vida e o talvez tentando acasalar para nos lixar a mona. Gostava de voltar a um utópico mar de rosas onde fosse impossível sofrer mas viver os sonhos como eram e não como foram ou se tornaram.

" A roupa desfolhando no luar morno do verão. A carne crua retesada nos arrepios da candura, as mãos naufragas vasculhando esse mar de pele, as bocas murmurando nas sombras da noite poemas que a brisa levava, os lábios que como crias sedentas procuravam as mamas do beijo, o encontro ávido do primeiro beijo, o caminhar cambaleante na virgem que foste o deleite que se sente na primeira vez o abraço que se segue no espaço em que se sente a verdade pura da palavra amar"


Jorge d'alte

quarta-feira, 27 de abril de 2011

...Malidicência

...DETRACÇÂO


Arrebentei com as portas fechadas!
É tempo de acabar com o mesquinho das fachadas,
mesmo que pintadas de preto e branco.
Não quero esses sombreados que nos confundem
como sombras chinesas, neste teatro.
Quero ver esses rostos e amá-los,
ou cuspir-lhes em cima nessa hipocrisia
sacrossanta.
Descarnei a alma e deixei-a a secar
em papel de jornal.
Tirei-lhe os podres como poda,
deixei-a de novo vingar em raminhos tenros
e botões a fecundar.
Vós que me olhais, porque não me sentis?
O meu diagrama está diagrafado,
linhas e curvas contornam sentimentos.
Não me detractem!
Não detonem essa bomba sub-reptícia
no sorrateiro, pelas costas.
Sublevo, não na fúria ou no ódio
sublimo este amor que trago dentro.
Não quero sublinear com atos do inferno!
Deixemo-nos de treitas,
treliças que não suportam esse vão entre o bem e o mal
e nos despejam nesse vazio, onde não somos.
A custo voltarei a abrir a escotilha do meu peito,
que trará a luz, me tirará dos brejos.
Frondosos dias alumiarão este caminho,
que ora se estreita ou alarga com agras ladeiras,
fazendo ressurgir nas portas escancaradas,
o meu amor!

Jorge d'alte

sexta-feira, 15 de abril de 2011

...L

...Longe varrem os meus olhos sedentos, o espelho mágico troa na areia em pequenas ondas baloiçadas no vai-vem.Escorrego a ladeira que me comicha os pés com fina areia, inspiro esse aroma forte da maresia e a brisa que sopra passa rápida a ventania. As ondas iradas de profanos rugem agora alterosas intimidando.
O meu sorriso fica ali enquanto espeto na areia espumada a ponta da minha prancha. Num desafio visto novo corpo de borracha...sim não desisto...a razão puxa-me para trás mas a vontade avança e a água passa apressada gritando-me desatinada, tentando empurrar-me para trás e a onda enfurecida esmaga-se perdida em cima de mim. Braçadas levam-me vogando na prancha no p'ra lá e ufano ultrajo esse mar desafiando-o agora a me tragar. A resposta vem rápida na onda que nasce, viro as costas à desgraçada e os braços movem-se com firmeza lançando-me. Erguido sinto o vento incentivar-me, meus pés deslizam juntos com a prancha e na crista da onda lá vou ziguezagueando na bolina e abrigado me recolho no túnel que me garrotilha...é a loucura, é adrenalina no corpo meio encolhido. O súbito trás-me a luz que recorta a minha silhueta no contra luz, garboso e deslizando na pouca velocidade afundo-me na água vencida que num turbilhão me deposita de novo na tenra areia molhada como herói de fantasia...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

...J

...J até podias ser tu! Vá lá! olha bem esse espelho mas sem o quebrares,não faças essa cara, apenas entra no jogo, talvez se mudares um pouco o penteado, porque não mudar a sua cor? Talves eles possam cair sobre esses ombros tostados por solares de fim de semana...ou na sua pequenês apenas te abrigar o rosto como mãos que te afaguem. Talvez...Mas porque não haver sorrisos? Sim daqueles que nos fazem sofrer porque são de outros e não nossos, daqueles que nos entram na alma e depois descarados inventam os nossos sonhos. Podia ser olhar que nos olha como sente e neste poço profundo dizer-nos que não mente. Sim! podias ser esse corpo franzino, branco ou bronzeado, mas que dance connosco e não com a nossa sombra.Essa pele que esvoaça como cega traça em volta,revolteando um coração, que chora suor em horas curtidas de maresias surfadas, ou de amores agrestes quebrados por fundas ravinas. E se fosses lágrima? pérolas só de alegria que limpamos com a ternura e as enrolamos em baús estanques feitos de promessas e de sentimentos que levitam o nosso ego pois agora somos mais do que éramos.
Como vês podias ser...J
Costuma-se dizer " O sonho comanda a vida"
E tu sempre queres ser ...J?

jorge d'alte

sábado, 9 de abril de 2011

...IMAGINA

...Imagina um corpo recortado na penumbra, cheio de linhas douradas do contra luz. Lança a tua fantasia no ar, retém a respiração por um momento, imagina o sorriso que não tem, o olhar que não vês, a vida que não sentes...deixa a tua imaginação voar ao encontro do desejo, deixa a emoção que te bate à porta fazer parte do teu peito...sente esses lábios que não são, percorrer teu corpo como passos na escuridão...deixa-os subir esses degraus até á tua mente, deixa-os enchê-la como balão prenhe dessa musica que a cada golfada sobe, sobe...deixa que rebente nesse cumulo...apanha esses farrapos de borracha que caiem, que esticam a nossa pele no auge do que se sente... imagina-te a voar num céu escuro onde não há estrelas só tu, imagina então...que deste vida a essa recordação e que ela está ali sorridente como sempre, com a luz viva do seu olhar, com a vida a pulsar nesse bater, procura nos seus lábios o teu desejo, a emoção que te enche o peito, abraça-a com todo o teu sentir, chama seu nome e vive!

Jorge d'alte

segunda-feira, 28 de março de 2011

...HIPOTENUSA





Hipotenusa = Teorema de Pitágoras!

Pitágoras...tenho que falar com ele!

Como tinha tempo e a viagem ainda demorava um pouco, resolvi falar com tão ilustre pessoa. Quem havia de ser? Pois é, o internacional Sr Pitágoras! Não, não é nenhum novo craque do futebol, apenas um filosofo matemático, que embora já esteja um pouco esquecido, pois a reforma já o colheu há muito e passa agora a vida retirado num qualquer lugar, pescando números, equações, e teoremas, uma vez que no sítio onde está não tem "Tv" e muito menos "internet". Eu falei-lhe destas duas fulanas que estão muito em voga em todo o mundo e que fazem ciúmes ao menino Ronaldo pois batem o recorde de assistências.
P- Claro que já ouvi falar da TV e(I)... quê? Perguntou-me ele.
EU - O tal canal que despediu a tal jornalista Manuela...
P - AH! Já me lembro! Matematicamente falando e equacionando ela dava para fazer um bom teorema em que a raiz quadrada estava para a bocarra asim como....
Eu - OHHH! Sr. Pitágoras deixe lá isso!
P - Olhe lá! Disse-me ele. Eu sou Pitágoras mas não sou pitosgas eheheh! Aquilo é que é... no meu tempo... todas aquelas coisas rechonchudas...
Eu - Deixe lá agora, esse tempo já passou! Sabe eu estava a falar consigo para ver se me dava o número da tal Hipotenusa e o dos Catetos.
P - Ora deixa-me lá ver...acho que uma vez lhe fiz um poema, ou era outra coisa?
Vou recitá-lo! " O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos" não é lindo?
Eu - Oh Sr. Pitágoras não é um poema mas sim um teorema!
P - E depois, é lindo na mesma,não é?
Eu - A nova juventude não lhe acha graça nenhuma, pois a matemática para eles é como a net para si.
P - Nets qual carapuça, isso é magia negra e cuidado com a inquisição, pois ela está em todo o lado, e nunca se sabe quem escutou, quem acusou e quem é o verdadeiro culpado e depois qualquer um vai assar o traseiro no fogo redentor.
Eu - Nisso tem razão, pois mesmo agora há as escutas, ninguém sabe quem as ordenou e ninguém é responsável. Agora vão colocar chips nas matriculas dos carros e mais tarde no nosso traseiro.
P - Ah! Vê como tenho razão?
Eu - Pf professor sabe, ou não sabe, onde moram os ídolos do seu teorema.
P - Ídolos? Não há um programa qualquer que se vai ver naquele caixote da bruxaria?
Eu - Não, não! do teorema, a hi po te NUSA!!!!
P - Ah! Muito bem não vale a pena gritar, que apesar de não ouvir não sou surdo e ouço muito bem matemáticamente falando e há a lei das probabilidades...
Eu - Pois desculpe lá... o nnuuumerroooo pf.
P - Quais números? Ela mora ali já!
Eu - E os Catetos?
P - já ali!
Eu - Bom, muito obrigado eu vou tentar falar com ela.
P - Tenha cuidado com ela, pois ela é ....bem sabe como é...assim pró cheio de tudo...aquilo é que foram tempos. Andava sempre nas bocas do mundo. Não havia corte ou palácio onde ela não estivesse presente e então naqueles bailes...
Eu - Adeusinho até um dia! Obrigada.
As minhas pernas iam fraquejando, enquanto abria o portão da antiga casa que vivia no alto da colina.
A cor ainda tentava reluzir aqui ou acolá, mas as heras que a cobriam asfixiavam-na, tornando-a mais pálida. As madeiras eram habitadas por carunchos ruidosos que se refastelavam num repasto de séculos. Os vidros apagados, pela poeira do tempo, reflectiam a luz morna daquele fim de tarde.
O telhado corcovado pelo peso dos anos, ainda se mantinha erguido a custo e dava a impressão que uma qualquer brisa o iria levar. A porta de madeira maciça erguia-se altaneira defronte do meu olhar. O meu bigode estremeceu num arrepio, como seria ela? Como me iria receber?
Peguei na enorme aldrava e deixei-a cair com um estrondo que abalou toda a estrutura e fez levantar voo enormes morcegos e vampiros e a vegetação até ai quieta se revolucionou num frenesim escondido, apenas visível no seu restolhar.
Ia para voltar a bater quando um chiar agudo me fez encolher e tapar os ouvidos.
- Quem está ai? Perguntaram-me das sombras internas da bocarra que se abrira.
- Sou EU! Queria falar com a dona Hipotenusa.
- Miss Hipotenusa está a meditar e não pode atender ninguém.
- Mas é que eu venho de longe, do século XXI e necessitava mesmo de lhe falar.
BRUUUUUUUUUUUUMMMMMMMM!
A porta tinha-se fechado mesmo na ponta do meu nariz.
O pó levantado fez com que a minha alergia acordasse e se pusesse aos saltos com dezenas de espirros...
De novo o chiar comeu a minha audição fazendo-me soltar em língua vernácula um dito nada jocoso.
A linda rapariga franzina que me abriu a porta assomou tímida e com uma vénia me fez entrar na pequena salinha, que mais parecia um parque de estacionamento de um qualquer hipermercado.
Ali fiquei parado por breves momentos no meio das teias e do pó acumulado, funcionando como sinais de transito. Depois lá fui seguindo os passos que ecoavam mais lá prá frente. De tantas portas e arcadas ultrapassadas entramos por fim naquela que era para mim a mais pequena.
Sentada numa chaise longue estava um vulto de longos cabelos encaracolados caindo sobre um níveo pescoço ,orlado de golas de rendas, presos a um enorme vestido de azul celeste que caia pendendo na carpete, que ilustrava o soalho em grandes figuras carcomidas e esbatidas pelo tempo
O enorme leque de tons dourados e azulados tapava aquele rosto como um mistério a desvendar.
Cá estou eu! Pensei! que me vai acontecer?
Preparei o meu Karaté, aquele do AHAHAH! para o que desse e viesse. Não! não estava com medo, só...bem talvez com pouco de cagaço.
De repente o leque abanou e fechou-se com a aragem. O seu rosto explodiu no ar e arremessou-me para uma outra dimensão, tal era a sua beleza. Olhos azuis fitavam-me e o sorriso cativava-me e eu não podia falar pois estava de boca aberta de par em par. Por fim lá consegui balbuciar:
- Eu sou Eu e vim do século XXI para conhecer a história do teorema de Pitágoras.
H - Ah Pitágoras, Pitágoras, aquilo é foram tempos e os Catetos sempre encima de mim, ai seus malandrecos que ainda me provocam estes calores, mas nem a Soma e os Quadrados os demoviam quanto mais a Área.
Enquanto falava eu não tirava os olhos dela. Longilinea... como uma linha. Os corpos danones eram montes de gordura à sua beira. Como ela era linda! Todos aqueles arredondados perfeitos. Ai hipotenusa minha deusa! Pensava eu enfeitiçado...
Ela lá ia perorando a sua conversa contando-me a sua vida amorosa com todos os intervenientes do teorema.
"
Teorema era muito charmosa, tinha curtos cabelos castanhos encaracolados e olhos da mesma cor. O seu sorriso era fácil e deslumbrante e gostava muito das festas de "la belle époque". Vestia um longo vestido branco arredondado com um casaquito curto que lhe moldava o que havia para moldar.
Tinha uma grande paixão pelos gémeos Catetos e disputava-os como seus. Por outro lado havia os Quadrados que eram os anjos da guarda dos gémeos e da bela Hipotenusa. Estavam sempre por cima deles. Já naquela altura havia aquele toque de gay nestes Quadrados. Por isso andavam sempre por ali e sempre embaralhados uns nos outros. Coitados eram mesmo quadrados! Hipotenusa era amada pelos dois Catetos gémeos mas nunca sabia qual deles era quem, e por isso desfrutava os dois. Chamava "catetinhos! " e eles vinham logo correndo com os Quadrados alvoraçados e estridentes gritando em cima deles"- esperem por nós ! ai, ai estes meninos são mesmo marotos uns diabinhos". Depois Hipotenusa lançava aquele seu olhar diabolicamente doce e convidativo que veio mais tarde a ser muito conhecido como "hipnotizar". Eles como tarecos lá iam mimando-a e levando-a a todas as grandes festas onde os eruditos discutiam a filosofia das artes, das ciências e das matemáticas.
Teorema era por seu lado muito ciumenta pois os Catetos davam mais atenção a Hipotenusa.
Um dia toda roída pelos ciúmes e louca de amor pelos Catetos foi ter com Pitágoras seu grande amigo, mas que também amava Teorema desfiando o seu rosário.
Assim um belo dia Teorema foi muito clara, ou ele arranjava um modo de os unir a todos ou acabava tudo à bofetada.
Pitágoras grande filosofo e matemático, lá consegui somar 2+2 mas não dava conta certa.
- Esta agora? Como é que eu vou poder ajudar Teorema e livrar-me das complicações entre mulheres.
Naquela altura ainda não havia neurónios, mas sim massa cinzenta. Por isso era mais difícil de pensar. Os dias foram-se passando até que conseguiu chegar a uma solução que abrangesse todos os intervenientes. Fora uma enorme luz que se acendera e Thomas Edison que por acaso estava por ali, topou o golpe e resolveu divulgar esta descoberta metendo a luz dentro de um vidro e descobrindo a lâmpada e mais tarde tornou-se célebre,"um homem tinha dado por fim à Luz..."
Pitágoras chamou dois amigos e contou-lhes o que se passava, e se eles estavam de acordo com o que lhes tinha segredado antes.
Os amigos chamavam-se Área, amazonas, tipo moreno e arisca, longos cabelos com madeixas douradas e Soma tipo copinho de leite, loiro com cabelo espetado e betinho. Ele seria o crómo do grupo.
Num belo fim-de-semana Pitágoras convocou uma reunião de alto nível como o G8.
P - Já tenho a solução dos vossos problemas.(tratado de Lisboa) Assim para satisfazer Teorema minha amada e unir-vos a todos resolvi a questão desta maneira.(tipo Ferreira Leite)
Fiz um enunciado histórico: (Discurso á Socrates)
"A Área do Quadrado da hipotenusa é igual à Soma da área dos quadrados dos catetos". Desta maneira foi celebrizado o grupo e têm todos vivido em amizade desde há muitos séculos."( 3 grandes do futebol)

Teorema, Área e Hipotenusa vivem juntos numa das páginas da matemática. Na outra estão Soma, Quadrados e Catetos. De vez enquando juntam-se para fazerem o Teorema quando convocados. Os Catetos continuam a sua guerra por Hipotenusa e Teorema ama-os a todos numa onda abraçada de amizade, pois de outra maneira não conseguia surfar , pois os Catetos apenas viam a bela Hipotenusa. Pitágoras vive no Mundo da matemática e lá vai suspirando pelo seu eterno amor Teorema.
De vez enquando ouvem-se risos abafados e bolorentos quando algum aluno se espalha quando confrontado com este Teorema.
"
Hipotenusa ergueu sua mão esguia e quente, que beijei suavemente, mas pensando por dentro "ai Hipotenusa, Hipotenusa " o que eu te diria , se tivesse vivido no teu tempo. Agora digo para comigo" Hipotenusa queres andar com o Eu que eu ando com o TU?"
Meu coração vibrava de emoção, pois conseguira decifrar um dos maiores enigmas da antiguidade, a história do Teorema de Pitágoras.
Miss franzina trouxe-me de regresso à porta agora aberta e que se fechou nas minhas costas com um suave chiar que que me arrepelou todo e me fez soltar aquela palavra proibida que nunca se diz , pensa-se e está sempre lá.
A casa foi-se diluindo no nevoeiro do tempo enquanto a realidade se apoderava de mim rindo á socapa. "Coitado do Jorginho, está mesmo apanhado".
Por fim, é tempo de escrever FIM!
F I M !

Posso mandar um beijinho(uma canção para ti) Queria agradecer ao sr.....

Jorge d'alte

quinta-feira, 10 de março de 2011

...Gota

... Gota!
A névoa cresceu fria queimando asperamente com seu toque insano. Cá dentro como lá fora os olhos não conseguem ver.É a dor fervente que se agita descendo em redemoinhos como tufão levando tudo de vencida e aí estou eu.
Cresci devagar no auge da emoção,no proscénio do olhar espreitei a medo e envergonhada fiquei ali parada no canto do olho.
De súbito num outro soluço solto-me e escorrego na loucura desta montanha russa e caio desamparada no meio do pó do caminho.
Ali perto outra gota me olha perdida. É a gota condensada presa na madrugada. Esta não rola está ali parada. Perdeu o seu rumo e está destinada a ficar ali presa até que o sol dos tempos a definhe e a mirre na amargura até ao seu âmago.
No entanto aquela ali que passa, foi a primeira gota, esperou na paciência e engrossou, foi pinga pinga cada vez mais sábia, fez outras suas amigas, juntas encetaram uma nova via, percorreram esses trilhos alcantilados, foram voz na ravina lutaram pelo mesmo ideal em busca do horizonte,foram riacho, ribeiro e rio e hoje rolam orgulhosas nesse mar que sonharam e construíram.


jorge d'alte

quarta-feira, 9 de março de 2011

...Fizemos

...- Fizemos as pazes gritou Manuel para o Zé.
- Já não era sem tempo disse-lhe este contente...mas afinal porque se zangaram?
- Se queres que te diga já nem sei bem... eu estava no recreio da escola quando a Andreia veio ter comigo toda bamboleante cada vez mais perto, mais perto e passou-me a mão por detrás do pescoço puxando-me para me beijar...eu tentei resistir mas ela estava possessa e pronto aconteceu...Para mal dos meus pecados Emilia dobrava a esquina juntamente com Filipa e... foi aqui que tudo aconteceu...viu-me e passou-se e atirou-se com unhas e dentes à dengosa da Andreia...
- Dengosa? Disse Zé suspirando e continuando disse:
- ela é um espanto!
- Tem cuidado pois se Filipa te ouve nem as tripas se te aproveitam...disse Manuel monologando tristemente...arranharam-se uma à outra arrancaram cabelo e o pior foi o soco de Emília, que acertou mesmo no olho da Andreia...tudo acabou nesse momento mas então começou o meu calvário...Por mais que tentasse explicar-lhe que fora a Andreia quem se atirara a mim e que eu não tinha culpa ela não queria saber, não queria ouvir e socou o meu peito desvairada e perdida enquanto os seu soluços me alagavam os ombros...depois simplesmente virou-me as costas e tu sabes o resto.
- Pois sei! sei! a Filipa arrastou-me dali também furibunda, dizia o Zé ainda sentindo toda a fúria desta, que quase me arrancou o braço...depois tive que lhe contar vezes sem conta o que se passou e disse-lhe que tu não tinhas tido culpa...e ela dizia!
- ai não! então porque é que a boca dele estava na dela...
- percebes ela vêm sempre tudo ao contrário, eheheh!mas conta lá e depois como conseguiste safares-te e fazeres as pazes?
Depois de Emilia me ter virado as costas eu fui atrás dela chamando-a vezes sem conta, mas ela não me ligava pivea. Então parei e disse-lhe:
- sem diálogo, tolerância e compreensão, como queres que haja amor entre nós?
Ela estacou e virou-se para trás com olhos faiscantes,que logo morreram quando encontraram os meus.Eu estava perdido na desilusão e ela viu e compreendeu que ou me conquistava de novo ou me perdia de vez.
- Tens razão! disse-me ela, devemos resolver sempre os nossos problemas falando por isso vem daí! E sem mais começou a andar até à árvore grande onde se sentou expectante no murete que a rodeia.
- Fala disse-me ela! Que foi aquilo que se passou ali à pouco?
- Precisamente aquilo que viste! Apenas eu sou injustiçado pois não cometi qualquer crime. Ela veio de repente, tu sabes como ela é...e já há algum tempo que vem com sorrisinhos e poses sexys para mim. Aliás tu já comentaste isso, mas hoje ultrapassou todos os limites...Todos viram o que se passou e se não acreditas em mim temos que ficar por aqui...
- Tens razão Manuel! O pior é que eu sei que não tiveste culpa, mas os meus ciúmes cegaram-me e fizeram com que procedesse assim. Como estou tão arrependida meu Deus! Perdoas-me?
- Como não te posso perdoar? Tu és tudo para mim e perder-te seria ficar amputado de parte de mim...anda cá minha tontinha, o nosso amor vale mais que uma simples cena rasca...
Emília ardia de alegria e desejo, queria beijar Manuel e foi isso mesmo que fez, puxou-o devagarinho, olhou-o com candura, afagou a sua face tisnada, encostou a sua boca húmida e fremente e voou para lá do ciúme encontrando de novo aquela paz que une os corações que se amam...

jorge d'alte (excerto de um dos livros que estou a escrever)

domingo, 6 de março de 2011

...ELA

...Ela entrou um dia na minha vida com o seu post "Sorriso". Foi em Outubro quando as folhas caiem levadas pelos primeiros ventos frios e nesse dia algo modificou o meu horizonte. Uma alma linda tinha caido nesse vai vem desfolhado dentro da minha escrita e a partir daí acho que um laço talvez ténue e imberbe se estabeleceu entre nós. Eu chamei-lhe amizade e entreguei-lhe de alma e coração esta chama que se quer para sempre duradoira.
Gosto muito dos seus postes e acho que tem muito potencial para que se um dia quiser se dedicar à escrita.Sempre gostei dos seus comentários pois me trouxeram sempre uma mais valia à minha vida mostrando-me muitas vezes um ponto de vista quiçá diferente do que eu tinha, e como a vida é feita de aprendizagem e compreenção eu fico-lhe para sempre reconhecido.
Sei que não sou aquela figura importante numa vida que cresce dia a dia numa intensa jovialidade, com as suas duvidas as suas incertezas mas com a sabedoria inata daqueles que um dia souberam aprender.
Por tudo isto que és e pelo que me destes eu te agradeço Joana Villacampa

Jorge d'alte

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

...DESESPERO

...Desespero!
A minha alma rasga as carnes tentando saltar cá para fora, concorrendo com a força das lágrimas que já não correm, nem sulcam, mas gritam.
O arder lancinante e lacerante desfigura o meu rosto e as unhas cravam-se nas palmas das mãos e com o sangue derramado escrevo com sôfrega ansiedade o teu nome no chão, enquanto os joelhos se vergam aos poucos, sob o peso da dor.
No solo de joelhos, olho o céu sereno tentando vislumbrar nas abertas das nuvens que correm, o teu rosto mas em vão.
Por isso desespero revoltado contra ti Vida ingrata, que me tiraste do convívio aquela que mais amava, deixando-me ali exposto como tolo no deserto sem rumo nem nexo.
Estendo as minhas mãos como cego para fora do sonho, mas este não está ali, apenas a realidade me recebe e crua me atira à cara na sua voz surda que tudo tem um preço e o amor que sentíamos, que vivíamos que nos alegrava tinha chegado a esse fim prematuro pela birra quezilenta da dona Morte.
Agora a tua vida será outra disse-me ela com ar pungente. Apenas a recordação e o sonhar, te trará de volta aquela que comigo está, mas um dia te virei também buscar e nesse dia vos unirei de novo, mas desta vez para a eternidade.


jorge d'alte

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

... COMO

...Como es triste escuchar
la lluvia cayendo
Sentir el viento
en mi rostro
vibrante en mil y una emociones
Como es triste
sentir aqui dentro
lloro de los ninos
pidiendo pan
Sentir el miedo
en sus ojos
lagrimas cayendo como lluvia de verano
Como es triste
ver lo sangre
escurriendo en la calzada del camino
Sentir tu vida
se escapando
mi amor cayendo como pajaro abatido
Como es triste
mirar el sol
entrando en la ventana de la prision
Sentir los cuerpos
sudando olores
de terror, dolor y soledad
Como es triste...escucha!
los pasos sordos
de la muerte que viene cogerme
Sentir los sueños y la vida
se desvaneciendo con la noche que me está abrazando
Como es triste escuchar
la lluvia cayendo
y el silencio sordo se está cerrando...


jorge d'alte
(

...BELA

...Bela! bela! repetia o meu coração dando aquele pulo para lá de tudo...
As minhas pernas movimentaram-se, não ao ritmo da música que bulia e estoirava nos meus ouvidos, mas em passos decididos que encurtaram a distância.
Algo fazia aterrar no meu olhar uma mensagem interrogativa, quando esse ser deu por mim ali parado olhando sem nada dizer. A contemplação tornara-se desconfortável para ela, mas depressa se recompôs num sorriso...e que sorriso! Nesse momento alguém falou e a sua atenção foi desviada e o mesmo sorriso bailava nos seu rosto e os lábios mexiam-se em palavras que não escutava e a boca soltou a gargalhada enquanto seu corpo se agitava ao ritmo da dança. A sensualidade despertou em mim uma vontade inabalável de a conhecer.As minhas costas apoiadas no balcão do bar davam-me a visão exacta da voluptuosidade do seu corpo, dos gestos sensuais e da sua estudada técnica de cativar, fazendo o seu par delirar em obscenos pensares ritualizados pelo carisma dos seus movimentos.
Nessa altura outros se lhe juntaram e as cenas repetiram-se sempre na mesma no mesmo sentido.
Bela! repetia cá dentro...
Por isso o meu corpo rodopiava e tocava no dela e os nossos sorrisos evoluíam na musica maluca que nos aturdia. A musica passou a uma quente e bela melodia onde as odes ao amor estavam perenes e os nossos rostos se colaram num afagar de peles e cabelos e os corpos tremeram pela primeira vez e a paixão do momento fez os seus estragos quando subitamente os nossos lábios se encontraram húmidos e frementes cheios de algo partilhado e o gemido soou nos meus ouvidos e palavras soaram arrastadas pela emoção, ou seria o desejo?
O momento aproximava-se do final e o end estava ali na música que se calara e nos nossos corpos unidos ainda sob o efeito dessa luxúria.
O abraço alargou-se como o seu sorriso e esse foi o momento do nosso adeus pois de novo ela sorria aquele sorriso, um novo corpo abraçou, com os movimentos retomados sensualizou... Ela era a menina da moda e todos giravam por ela pobre alma desafinada, era bela...sim era bela e muito mais...mas dentro dela trazia o vazio daquela chama que deixa a futilidade na estrada mas enche as nossas almas de algo inolvidável que vale a pena ser vivido e amado.

jorge d'alte

sábado, 5 de fevereiro de 2011

...A

... a porta chiou no seu repentino. Fora aberta de par em par e o ar ferido pelo gelo trazido pelo vento trespassou-me a pele arrepiando-me a nuca. Dois vultos pequenos entraram, dentro da sua correria gritando e gargalhando a sua alegria fazendo sair das suas bocas cansadas e abertas rolos de vapor. Os pestinhas rebolavam-se agora no chão numa frenética luta pelo vencer e eu vi-me contagiado nessa loucura entre pernas cambalhotas e rebolanços...
As suas vozes soam agora mais fortes e mais calmas. Passaram-se alguns anos desde que a porta se abriu e a amizade se fez como malha feita em agulhas manobradas pela mágica mão do destino. Agora somos adolescentes e os nossos olhares morrem na beleza e os nossos corações pulam quando encontram o beijo quando os corpos se colam dentro da musica que toca e nos enlaça no encanto dessa dança, quando a lua espreita e lá do alto lança seu manto iluminando nossos corpos suados pelo calor do amor.
Agora somos divididos cada um seguiu o seu rumo divergente, mas a alma arde com a mesma chama de sempre e a amizade é apelada quer nos bons quer nos maus momentos.
Os livros trouxeram-nos a sabedoria que até ali não tinhamos, que tragamos em muitas noites de palpebras caidas de cansaço, mas no fim uma parte do nosso sonho estava ali,e os devaneios de adolescentes tinham passado a elos prenhes de algo tão forte que a palavra mais bela soava ainda nos nossos ouvidos "Amo-te e prometo que ficarei para sempre a teu lado"
Como gostaria de voltar a esses tempos de criança e adolescencia, para viver de novo esses momentos intensos mas sem responsabilidades, tempos em que o futuro se abria e podiamos sonhar num futuro certo, nos filhos que teriamos e que tivemos no emprego que nos daria a segurança para toda a vida.
Agora luto não pelos meus sonhos que já estão no fim, mas por uma nova ordem que traga aos nossos filhos e aos nossos netos um pouco daquilo que usufruimos um dia e que o grande valor da amizade continue pois ela é talvez o amor mais puro e duradouro.

jorge d'alte

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

PÉROLAS!


Foto de Meteopt.com


O pássaro saltitava de raminho em raminho debicando na sua alegria, algo para dar aos seus filhos. O meu olhar de pesar amargo e doce, sorvia toda esta pulsante vida.
Um cantar mais estridente levou-me a erguer o olhar e na liberdade da brisa levantada, o coro chilreava o cântico da fertilidade e dois melros voavam e esvoaçavam traçando na madrugada crescente, um rumo para a sua vida. Mas tal como entre nós, a fêmea fazia-se rogada para desespero desse conquistador e apesar dos constantes contactos de bicos ela fugia, ele voava desesperado, ela esperava por ele encantada, mas como danada, quando ele erguia o bico, ela batia as asas e agora no cimo do fio eléctrico cantava uma canção mais romântica...mas o melro de bico amarelo já não ia na sua cantiga e virava costas a esta melodia e em saltinhos e bateres de asas, manifestava o seu descontentamento. Abanando a sua cabeça e rolando os olhitos aflita a fêmea voou na direcção do seu par e desta vez bicou numa suave ternura e juntaram as suas asas em bateres descompassados até acertarem o ritmo. A fêmea ritualizou um primeiro esvoaçar de encorajamento chilreando pelo seu amor e este após um momento de hesitação bateu suas asas decidido e pousou de mansinho junto da sua amada. Na ponta do raminho chilreavam juntos numa conversa animada, tinham jurado essa fidelidade que nós humanos tantas vezes traímos. Saltaram no vazio e apanhando o ar subiram, asas pretas e castanhas unidas. O caminho era para ali. O futuro era deles e na liberdade dessa madrugada as gotas orvalhadas eram pérolas e não lágrimas.
Com a minha mão em concha recolhi na minha palma, algumas dessas pérolas, com ela fiz um colar e fechando os olhos revi nos rios do meu sonho a face doce e adorada daquela que me dera ao mundo. Estendi os braços aos céus e com saudade estampada no meu olhar chamei teu nome Mãe e dei-te como presente pérolas cristalinas cheias do meu amor.

Jorge d'Alte

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

ATÉ ONDE ESTOU




Os tempos retrocederam na recordação e revejo-me caminhando a íngreme estrada que me há-de levar ao sitio onde estou.
Quando os sons fizeram sentido, a palavra saiu ilesa do meu peito, Mãe! mais tarde surgiu o Pai numa súplica e os passos levaram-e até ele, com a gargalhadinha solta num momento de extrema alegria. Agora vejo-me triste mas ao mesmo tempo expectante, caminhando com uma sacola cheia de livros, lápis e cadernos, mas vazia de sabedoria. Os ingredientes estavam mesmo ali á mão de semear, agora era necessária atenção e compreensão para passar ao degrau seguinte. Aqui encontrei o primeiro companheiro de toda uma vida, aqui encontrei um ser novo para conquistar" chamavam-lhe rapariga" e o porquê dessa diferença, levou-me um pouco mais longe e a curiosidade que fora motor trouxe-me pela primeira vez uma coisa diferente que não saía da mente, me atrofiava a fala, me fazia tremer e provocava aquele mal estar na barriga e então aprendi o verbo amar, então aprendi qual o sentido da minha vida, abraçando ao mesmo tempo a amizade e o amor de uma rapariga. Mas este amor não veio para ficar e essa doçura ficou na calçada no pingar de lágrimas sofridas e pela primeira vez me senti perdido porque esta dor que encontrei cá dentro moía-me como água em pedra dura e a primeira ferida fora sulcada e escorria como rio para a saudade que me trazia a tristeza ao olhar. Mas tudo tem outra face, e a dor foi diluída pela força da amizade e então um novo degrau me levou a outro olhar, este foi o amor de uma vida. Deu-me a estabilidade emocional, deu-me a luz em cada dia no sorriso que me desejava bom dia, no beijo que trás o desejo na emoção dos sentidos no poder de sonhar toda aquela vida pela frente. Mas também aqui fui traído não pelo amor amado mas pela traiçoeira morte que levou prematuramente aquele sorriso aquele ardente calor a força do meu sonhar e me deixou a tristeza, o gelo que me cobriu tirando à minha alma aquele fogo e deixou como sonho um imenso vazio. Então percorri caminhos cruzados, como tonto perdido e por mais voltas que desse voltava sempre ao inicio até que um dia o meu coração massacrado viu um novo rosto dourado e acreditou, me fez voar na vida nas asas deste meu novo sonhar e agora voo como gaivota rumo ao meu horizonte preso no bater das minhas asas que me levarão até onde eu estou.

jorge d'alte

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Homenagem



O sol ardia o ar que respirava tornando o bater do meu coração numa penosa ansiedade. As nuvens negras de dor teimavam em o obscurecer e perdido nessa imensa ferida lacerante e aberta sacudi a minha cabeça tentando afastar o enevitável e como recém -nascido buscava a teta que alimenta a alma procurando esse amor fenecido que era ternura que era sabedoria, era paz, para que mitigasse este esvair de perda que trespassa todos os poros do meu ser, levando toda a minha energia e vontade.
Os soluços saiem arrancados ao meu peito como musica triste e nos meus olhos perpassam cenas e cenas bem coloridas,de um filme a que puseram fim quando havia ainda muito a dizer, muito a receber, muito a dar.
No entanto vejo sempre esse rosto sorridente para onde quer que vá, onde quer que esteja,onde quer que sonhe, esse rosto amado que apesar de todas as adversidades teimava em não chorar, mas sofrendo no canto do seu silêncio, apenas para não nos incomodar. A alegria com que enfrentava a sua vida, esses dia a dia longos mas preenchidos em literatura ou tv, esperando sempre por uma visita dos filhos, netos ou outros familiares.
Nessa manhã fatídica, apesar do seu mal estar, ainda teve a coragem quando lhe peguei na sua mão amornada, de me sorrir já esvaecida sem pinta de sangue e de me dizer "Já vieste!"
Agora que escrevi a minha revolta, o meu sofrimento foi vencido, vejo esse sol de sorriso e perpétuo-o cá dentro da minha alma.

Jorge d'alte (Mãe, fazias 91 anos na passagem do ano!)
Fotos com 21 anos e 90 anos

sábado, 1 de janeiro de 2011

MÃE!



Chamava-se Libânia era uma pessoa que gostava da vida das pessoas, sabia aguentar as piores intempéries sempre com um sorriso no rosto sempre com uma Fé inabalável de que o dia seguinte seria melhor.Tinha sempre a frase certa o conselho feito de toda uma vida e um coração tão grande que abarcava todas as pessoas e foi na paz desse amor que o seu coração a levou sem sofrimento.
Era a minha MÃE e morreu a poucas horas de fazer anos precisamente na passagem do ano.

Agora guardo esta dor cá dentro e não sei como a hei-de tirar!


Jorge d'alte