terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A MAGIA DE UMA NOITE DE NATAL









Estávamos em pleno Dezembro.


Pedro tinha partido com o seu rebanho há já alguns dias, escalando as montanhas perto da casa onde vivia. Alegremente cantava, ao mesmo tempo que ia chamando algumas das suas ovelhas que manhosamente se afastavam ou ficavam para trás. Gostava deste ar liberto como livre era a sua alma de 15 anos. Na sua velha sacola de pano remendado, pendurada a tiracolo, levava alguma comida enlatada, queijo seco e pão duro. Pelo caminho mordiscava alguns frutos selvagens que conhecia e que o ajudavam a mitigar a fome, mas também levava o seu "Livro dos Sonhos", onde escrevia o seu dia a dia, o que lhe abrasava a alma e o que pretendia ser quando fosse grande. A escola tivera que esperar alguns dias, pois era importante para a sua família que nesta altura do ano o gado se alimentasse bem, para depois mais tarde nas noites cada vez mais invernosas, poderem fazer o seu tão afamado queijo que venderiam na feira e em algumas mercearias e que lhes renderia o bastante para que os seus pais e irmãos não morressem de fome durante o ano.
Sofia era uma menina de cidade que fora viver com os avós para a aldeia montanhosa. A separação de seus pais fora conflituosa e ela sofrera tanto que um dia gritara na algazarra da discussão, que queria paz e se ia embora e que por isso ia viver com os seus avós. No dia seguinte pegara nas suas economias que eram abundantes e partira sem olhar para trás deixando naquele quarto luxuoso as memórias da sua infância de 14 anos.
Na escola da aldeia conhecera Pedro e mais amigos e amigas, que a princípio desconfiavam dela pelos seus ricos vestidos, pelos seus longos cabelos castanhos encaracolados sempre bem escovados e limpos, pelo seu rosto trigueiro e pelos seus magníficos olhos verdes. Mas depressa se deram conta que a sua alma era generosa, tentando ajudar sempre o próximo, explicando nas suas horas livres problemas de matemática e outras matérias onde era barra.
Todavia o seu coração alvoraçava-se sempre que pensava no seu muito amigo Pedro. Gostava dele porque este era sensível, porque estava sempre pronto para a acompanhar sobretudo nestes dias onde a noite caia mais cedo e a sombras gemiam com o soprar do vento. Gostava do seu eterno sorriso, gostava dos poemas que ele escrevia, do seu rosto energético e da sua força de vontade e de aprender.
Davam grandes caminhadas aos domingos falando dos seus sonhos e do seu futuro do que iriam fazer quando o seu crescer decidisse que eram horas de viverem uma nova experiencia de vida. Ela queria ser médica e por isso aplicava-se em estudos muito para alem das matérias do liceu e lá ia compreendendo o que era ser médica; a dedicação necessária, a vontade de ajuda e de um dia poder dizer á sua alma, que a sua vida valera a pena ser vivida.
Pedro tinha-lhe confessado que queria ser escritor e poeta pois estava-lhe no sangue e também ensinar, sobretudo a sua língua mãe.
O tempo voara e estavam em Dezembro e tinham chegado as férias de Natal, mas o seu coraçãozinho ficara perdido, quando vira Pedro com seu cajado começar a subir o trilho que o levaria até á alta montanha onde ficaria até á véspera de Natal.
No seu cantinho especial, no cimo de uma laranjeira, chorara lágrimas malucas de tristeza e saudade, sem saber bem porquê.
O sentimento de vazio alimentava a sua alma, fazendo-a gemer e estremecer de dor e dava-lhe um ar de nostalgia. E ali ficava longas horas olhando a montanha que devorara o seu "amor". Amor? Murmurara baixinho, era isso que a consumia, era esse ardor que ardia sem se ver? Então a alegria brilhou nas pérolas que saiam dos seus olhitos, transformando o seu rosto num imenso sorriso. Amor! Era isso que sentia, bem encaixado lá dentro nas profundezas da sua alma.
Entretanto os dias na montanha tinham-se passado com demasiada lentidão e Pedro sentia que uma parte dele tinha ficado lá em baixo. Sim, tinha desde há muito a noção de que gostava de Sofia e que a sua vida e os seus sonhos passavam por uma vida rumada em conjunto, mas o seu olhar entristecia-se ao lembrar-se que ela era uma menina de cidade e que talvez nunca se interessasse por ele, pobre e como futuro somente trabalho, pulso e vontade, para ser mais do que poderia ser.
Amanhã seria véspera de Natal e ele desceria a montanha para se juntar á sua família e á volta da lareira cantarem e cearem a parca comida que conseguiriam arranjar, mas o que interessava era mesmo a alegria e o amor que sentiam uns pelos outros. Essa era a grande prenda de Natal que todos os anos ofereciam uns aos outros.
Sofia por seu lado andava animadíssima, era a hora de chegar o seu "amor". Os seus avós estavam estupefactos pela mudança radical do seu temperamento. Já andavam intrigados pela sua transparecida tristeza que quebrava os seus corações pensando que seria por causa dos seus pais, mas agora ao verem-na assim interrogavam-se sobre o que se passaria naquela linda cabecinha.
Nessa noite o céu mudara radicalmente. Do azul que brilhara durante o dia ficara apenas uns salpicos entre as abertas das nuvens que corriam cada vez mais depressa, cada vez mais negras até que da escuridão começaram a cair pétalas brancas como a neve, cada vez mais forte ao mesmo tempo que o vento uivava o seu desconforto e danado vergava as árvores seculares.
Cá em baixo Sofia sentira a mudança e com apreensão olhara para esse alto, agora envolvido pelo manto de nevoeiro cada vez mais escuro e espesso.
No seu olhar a decisão estava tomada. Não pensou duas vezes. Conhecia a montanha por a ter percorrido vezes sem conta com o seu amigo Pedro e partiria de imediato ao seu encontro para o ajudar a voltar. Assim o pensou assim o fez. Pegou na sua mochila, meteu a sua lanterna, fósforos, comida, sacos cama e a sua pequena tenda. A parte mais difícil era convencer os avós a deixarem-na partir pois era noite de consoada. A sua alma sangrava dividida entre o seu amor por Pedro e o seu amor pelos avós. Por isso resolveu usar a sinceridade e a determinação contando a sua resolução e os motivos. Os avós estavam indecisos em a deixarem partir, mas perante tamanha vontade e por gostarem de Pedro que conheciam desde sempre e no qual tinham a maior confiança, as suas falas foram-se murchando até que só restou darem-lhe alguns conselhos e beijarem-na e com voz sofrida e sufocada pela emoção desejarem que a sua viagem tivesse volta. Antes de sair  a sua avó prendou-a com comida, e alguns doces e todo o seu melhor bolo de chocolate, dizendo que era para terem uma noite melhor.
Rapidamente Sofia foi subindo a montanha animada com a sofreguidão de ver Pedro. Na sua mão para além da lanterna levava um apito para assinalar a Pedro a sua chegada. Meses antes tinham combinado que esse seria o sinal de que necessitavam um do outro.
Debaixo de uma grande pedra saliente cavada na penedia, Pedro fizera a sua fogueira do costume e juntara o seu rebanho em redor e assim se aquecia do frio que varria agora atrás do vento. A neve amontoava-se por todo o lado impossibilitando qualquer tipo de descida. Se a neve não parasse teria que passar ali pelo menos mais alguns dias quase sem comida e pela primeira vez em anos perderia a parca ceia de Natal.
Pedro cantava baixinho a sua melodia preferida de Natal, para afastar a sua tristeza, quando o silêncio foi invadido e cortado por um longo som de apito. So fi a...? Como poderia ser? Apressado retirou da sua sacola o seu apito e começou a soprá-lo com toda a sua força para que com o som a guiasse até si. Já começava a ver, primeiramente a luz débil e tremelicante de uma lanterna, tornando-se cada vez mais forte com a proximidade, trazendo por detrás o sorriso de Sofia.
Por fim correu para ela abraçando-a, não querendo acreditar no que via.
Arrastou-a rapidamente para o calor da fogueira ficando um enfrente ao outro. Sofia sentia-se inquieta. Seria que ele perceberia o que lhe consumia o coração? Seria que sentiria o mesmo, ou apenas a amizade como até ali? Pedro olhava de soslaio aquele rosto mágico onde tudo estava escrito e onde ele podia ler como livro aberto, e por isso notou e sentiu a diferença de atitude que andava no ar. Ficou apreensivo. Porque seria?
De repente as suas vozes falaram ao mesmo tempo e eles deliraram e rebolaram em risos de nervosa histeria. Por fim lá se acalmaram e contaram as novidades um ao outro deixando de fora o que lhes moía o coração. Era chegada a hora da consoada e Sofia compenetrada fez o seu papel de mulher estendendo uma toalha de quadradinhos vermelhos, naquele chão semi aquecido e dispusera em redor a comida e guloseimas que trouxera.
Pedro montava a pequena tenda que lhes daria um maior conforto quando o sono viesse cobrar e os sonhos os envolvessem num tempo de paz.
Foram comendo num mastigar confuso como as suas almas e por um momento seus olhares se tocaram sem disfarces sem medos com perguntas vorazes que queriam saltar e não saiam.
Pedro ficou pensativo dando-lhe a sua mão calejada de tanto trabalho e puxou-a para ele com toda a ternura. Sofia sentiu-se voar encostando de mansinho a sua cabeça naquele peito musculado e seguro. Assim passaram algum tempo e as ideias iam tomando forros de querer e decisão. Pedro quebrou esse silêncio e por entre a cantiga do vento, da dança dos flocos de neve e das árvores que os rodeavam como juízes, ele contou-lhe tudo o que sentia desde o primeiro dia em que a vira chegar á aldeia em cima do feno na carroça do avo dela.
Sofia encarou-o de frente com pequenas gotas que corriam apenas, daqueles olhos verdes e pingavam em sons de felicidade.
"Sim, também eu te amo" disse ela e quero que a minha vida seja a tua e que os nossos rumos alcancem os sonhos e que estes se concretizem neste nosso amor.
Pedro entretanto disse-lhe que era pobre e só tinha mesmo para lhe dar o seu amor, a vontade de lutar e aprender, até que um dia pudesse ser alguém na vida e lhe pudesse proporcionar todo o conforto de um lar.
"Isso não interessa" respondeu-lhe Sofia, eu amo-te e a minha vida será para sempre a tua e juntos ficaremos, acredita amor...
Abraçaram-se comovidos em murmúrios de carinho...
Olha Sofia! Hoje é véspera de Natal e eu não tenho aqui nada para te dar a não seu o aconchego do meu amor.
Pois eu tenho algo para ti! Agarrou com ternura o seu rosto e lentamente os seus lábios tocaram-se e entraram num imenso sonho...
O vento que sacudia, a neve que caia fria e as árvores altaneiras que se vergavam, foram esquecidas e naquelas mentes a alegria jorrava em sentimentos que se uniam e fundiam numa só alma.
Era agora tempo de recolherem á tenda montada.
Entraram num outro mundo, onde agora o Natal era Amor de verdade e as suas tristezas, duvidas e angústias foram levadas pelas nuvens plúmbeas que rapidamente se afastavam.
No ar parado agora, ficava o sabor da magia de uma Noite de Natal.


Jorge d'Alte  (2009)

domingo, 28 de outubro de 2012

HALLOWEEN








Corro fugindo das trevas que aí vêem...
A noite ruidosa das luzes de neon coloridos e luminosos transforma-se de repente com o soar das doze badaladas... é a noite dos mortos vivos, do terror da escuridão, dos medos retidos nas entranhas da mente, das sombras que bailam na meia luz, dos corpos que se transformam ao luar...
Corro com batidas fortes do coração e no entanto não saio do sitio...
A sombra descola-se da escuridão sem som de passos nem brisa deslocada...está ali parada... esperando porquê?
Sacudo as pernas e peço-lhes desesperadamente que se movam, ou...
Lá fora um grito secou a noite fazendo desaparecer a luz de vez e a lua do céu...restolha a folhagem enrolada na vaga da brisa apoiando-se nos rebordos dos passeios, acumulando-se empilhada como o negro que invade a mente  das almas...
Olho para trás envolto no suor do esforço e no entanto sinto que não saí do sitio...as forças esgotam-se na constatação dos factos...
A sombra desliza pairando ali, olhando para mim...
- Quem és tu? Pergunta a minha voz arrepiada pelo frio que gela o sangue das veias...e num sopro murmuro infantilmente - Que queres de mim?
A lua entra em cena gorda como César distribuindo raios de luares por entre as nuvens que fogem...- Também elas? Penso!
A sombra desenha-se agora no contra luz do luar...dolorosa escorre lágrimas de sangue que escrevem na sua face esmaecida a agonia de quem um dia já foi e hoje não é...O corpo coberto de roupas negras  está suspenso fazendo vibrar os cabelos negros...a boca fechada está cosida como mordaça. Os olhos já não sorriem mas cantam a súplica...e sinto, sinto o chamar dessa alma partida, dessa alma que teve voz, chama e amor. Que beijou como garota, como amante...
Ergo-me do meu sono, do meu sonho impotente no chamar dessa alma e estendo as minhas mãos quentes e suadas até ás dela, pois vejo agora que é simplesmente uma rapariga...o toque dói num combate entre o calor e o frio, entre a vida e a morte, entre o querer e o desejo...e por desejar o ar explode num relampago súbito só sentido pelos corações e a paixão transforma-se no fogo, esse fogo que arde sem se ver e de mansinho se instala em cada célula...e o beijo corrói a mordaça como ácido e as línguas dançam a sua dança de rodopios entrelaçados como coreografia desenhada e a corrente move os corpos e a mente e lá no sitio em que se sente  sem asas voamos e ....

Jorge d'Alte

domingo, 21 de outubro de 2012






Os nervos corriam desesperados com os ponteiros do relógio retardados...havia tempos que a alma esperava pela luz que lhe devolveria a paz, aquele alento que tanto a seduzia e aconchegava pois era sinónimo de fluir de sentimentos...e o minuto que deveria ser minuto teimava  ainda em ser apenas segundo, escavando em cada traço ultrapassado uma ruga de ansiedade no rosto tenso e a caminhada era lenta como lenta era a vida percorrida na vasta planície vivida varrida pelos ventos ululantes do agora atirando-a irremediavelmente para essa saudade do passado. A luz acendeu-se no ecrã - será desta? A mágoa percorreu-a gelando o sangue e as entranhas...ainda não fora desta. A lágrima sacudiu o seu corpo, teimosa e agressiva e tropeçou no canto do olho caindo desamparada na madeira da mesa fria. As mãos da alma apertaram aflitas a cabeça tombada na desolação e na desilusão sucumbindo na amargura...Quanto tempo ali ficara estarrecida? Os ponteiros aceleraram, gritou a mente e os dedos trémulos e sedentos de boas novas tocaram ternamente na tecla preta que neutra estava á sua frente.O ecrã escrevia-se:
- Olá! Desculpa cheguei atrasada mas já estou aqui amor! Já tenho as minhas asas...
Os dedos apressados embaraçaram-se comendo letras enquanto que que a alma pulava de contentamento soluçando a sua alegria escrevendo:
- ..lá! Já naooaguentava...ais! Mais tranquila prosseguiu - quando chegas minha luz?
- logo que a morte me levar!


Jorge d'Alte

quarta-feira, 10 de outubro de 2012










Deixei para trás o ruído da musica maluca, das luzes coloridas de neon, os copos vazios. O mar batia solto em vagas murmuradas, por vezes iradas que corriam pela areia fora. Deixara ficar ali os contornos espumosos da sua fúria, lambendo os meus pés nus. Atrás de mim as pegadas  marcavam o meu passado, mas era no futuro que eu procurava os olhos que um dia marcaram a minha alma e ele estava ali um passo à frente do meu horizonte e não o conseguia alcançar. Olhei o céu seco crivado de pontinhos que me disseram um dia serem estrelas, mas que também eram almas douradas que subiam, subiam até Deus. A lua tinha espreitado das nuvens corridas momentos antes mas lobrigara tempestades e por isso se refugiara. Sentei-me na pedra milenar, lisa e limosa e escorregadia como a vida até ali. Chamei Deus sem voz, roguei-lhe o seu favor de coração ferido...os olhos fecharam-se na esperança e então voei. Eram asas o meu fervor, eram penas as minhas dores e o horizonte sorriu-me com a sua luz quando o dobrei e na curva descendente do sol que caía vi o seu rosto lindo iluminado afogando-me com o seu sorriso e os lábios caíram um sobre o outro no abismo profundo que evoca os sentidos e traz o amor...



Jorge d'Alte

domingo, 9 de setembro de 2012


De repente, disseram-me que eu tinha uma alma; senti-me doente e aflito.
- o que era essa doença? Também me disseram que muitos morreram com dor de alma, como Romeu e Julieta ... Seriam crianças como eu? Eu tenho tantos anos como os dedos de minha mão, mais dois. Eu sou apenas um garoto perdido nos meus medos e inseguranças, que tenta compreender este mundo abstrato e difícil  e aquilo a que chamam vida. Tapei os ouvidos e fechei os olhos e refugiei-me num novo mundo que queria que fosse o meu, o Mundo dos Sonhos!
Os monstros vieram misturados com as sombras da noite  com passos surdos, quando os sonhos sonham, e nos levam ao encontro da aventura. A minha mãe disse-me um dia que eram pesadelos, para não ter medo deles, que são apenas fantasias inventadas pela nossa cabeça, mas eu sabia que eles tinham nome nessa terra inventada . Chorei baixinho gemendo quando a porta se abriu lentamente. Os monstros estava perto e eu tinha que os combater. No meio da névoa peganhenta um cavalo branco resfolegou e das suas narinas saiu o fogo da minha fúria, da minha revolta. Garboso empunhei a minha espada translucida e azulada que brilhava no negro e me dava a confiança; era "alma" o seu nome, sabia-o agora...
Tudo à minha volta se silenciara na calmaria, como oásis desejado no meio das tormentas do deserto e o sonho fluiu. Uma figura se destacou dos meandros da névoa, alta e poderosa. cada vez mais nítida caminhando para mim, traçada pela idade, com rugas desafiando o rosto sereno, deixando em cada uma a sua sabedoria.
- Avô? Que fazes aqui? Tive tantas saudades tuas...vieste-me buscar? Tenho tanto medo, tenho uma alma e não sei o que fazer com ela!Tu sempre me contaste histórias para dormir, sempre me protegeste dos perigos de se sonhar...dizias-me que a vida seria o que eu quisesse desde que aprendesse, a compreendesse e soubesse vivê-la e agora cresceu uma alma dentro de mim...Porque sorris? Eu estou triste e com medo...foste para o céu como diz a mãe? Embala-me de novo na tua voz!
- Vem e senta-te nos meus joelhos. Vou-te contar a história da alma...essa que tu empunhas como espada e te dá esse brilho de guerreiro, e com ela podes combater todos os monstros da tua vida desde que a saibas usar, alimentar, tornando-te num rapazinho cada vez melhor e mais sábio. Não tenhas medo da "alma" pois ela é apenas aquilo que tu és, serás e já foste. Alma significa "o que anima"e é ela que dá cor ao teu corpo. Ela é o somatório das coisas boas e más que conquistaste e te dão a tua personalidade, o amor pelas pessoas, pelos amigos, pela família, a tua maneira de estar e de pensar, a vontade de ajudar e de cumprir com os deveres, o aprender, o saber-se dar, a tolerância, a vaidade o orgulho, mas também a humildade e a compreensão, o reconhecer o erro e tantas, tantas coisas...é isto que faz a beleza de uma pessoa, é isto que queremos que encontrem em nós e por isso gostem...como vez não há que ter medo...o medo vem quando não conseguimos controlar de um modo sábio as nossas emoções e tendências...quando roubamos, quando fazemos mal aos outros, quando somos incapazes de saber o que é certo ou errado, quando não soubermos perdoar...mas tu és apenas uma criança, e vais ter toda uma vida para seres "alma". Agora empunha a tua espada "alma" e vai à conquista do teu mundo. Derrota todos os monstros e fantasmas que apareçam e segue o caminho que traçaste em cada dia vivido...
-Avô, não te vás ainda...sinto tanto a tua falta e os sonhos não chegam para apagar este vazio que deixaste dentro de mim...por vezes dói-me tanto que as lágrimas gritam e a mãe diz que são as saudades...

Jorge d'Alte

quinta-feira, 9 de agosto de 2012






Ssssssssshhhhssssssss........................................

                   O vento uivava, trespassando o vendaval que caia, rasgando a noite inglória com a luz  zigzagueante dos raios. A pequena cabana de madeira roída estremecia desolada e desfigurada a cada investida. Lá dentro apanhados na surpresa dois jovens temiam pela vida e o medo possesso tomava conta das suas almas, sobretudo da da rapariga. As janelas tinham sido arrancadas e levadas sabe-se lá para onde, e a corrente de ar cada vez mais gelada,  enovelava-se nos corpos parcamente vestidos. Era verão e ninguém previa um tempo destes, só faltava nevar...por falar nisso pequenos farrapos brancos começaram a esvoaçar atiçados pela ventania. Um deles entrou pela janela e colou-se ao peito da rapariga. Foi como se lhe tivessem enterrado uma faca, tal foi a dor desse gelo num corpo já de si fragilizado pelo enregelamento. O rapaz sufocou um grito ao ver a cara torcida pelo esgar da dor e não hesitou mais, estendeu a sua mão suada pelo medo puxando suavemente  a rapariga, encostando-a a si e embrulhando-a com a sua ternura. Murmurou algo ao ouvido da rapariga que foi abafado pelo trágico som do trovão que pareceu arrancar definitivamente a cabana e o restolhar que se seguiu indicou-lhe que parte dela se fora. Ajoelhou-se no solo molhado levando com ele a rapariga que como zombie lhe obedecia deitando-se juntos no canto mais afastado. Quanto tempo estiveram assim? Um segundo, um minuto, uma hora? Fora uma eternidade segundo lhe parecera. Colou os seus lábios arroxeados aos dela, tentando insuflar-lhe vida nesse sangue coagulante pelo medo, pelo frio, pelo desânimo. Sentiu uma mão nas suas costas e outra que lhe passou por detrás do pescoço. Sentiu a vida recomeçar a pulsar e o calor a subir como quente e sufocante tempestade de areia a evolar no ar rarefeito do deserto. O tempo correu para a frente deixando em cada segundo passado um rasto de pequenas oferendas que encheu o tempo, trouxe o esquecimento, voou na loucura, trespassou a alma com girândolas de sentimentos e de repente estavam no céu, não no céu plúmbeo que antecedera, mas no céu dourado e orgasmico do amor.
              Tinham chegado nessa tarde de sol dourado à cabana onde desde sempre se encontravam para dar largas ao seu amor. Perto as  árvores verdes regavam o chão com pingas de sombra acolhedora que enfeitavam o solo esverdeado onde se deitavam. Aqui e ali  as margaridas e as papoilas polvilhavam as suas cores pela verdura. Todavia apesar de todo este esforço da natureza para os  acolher nos seus semblantes a tempestade adivinhava-se no diálogo azedo que entretanto travavam. Tantos anos juntos, desde a sua meninice acabavam apunhalados pela dureza das palavras e da incompreensão. Tão absortos estavam na sua disputa discutida da justeza da razão, que nem tinham dado conta de que também o tempo se preparava para os desfeitear. No céu enegrecido aos poucos em passos matreiros, as nuvens voavam céleres e o primeiro pingo trouxe aos rostos um sinal de alerta. De norte caminhava uma onda de vento ululante, que os apanhou de boca aberta atirando-os pelo ar. Esparramados no solo alagado nem sabiam o que lhes acontecera...O rapaz estendeu a mão molhada e puxou por ela cuja roupa já ensopada se colava ao corpo delgado, esculpindo a sua graciosidade. Correram para o abrigo que oferecia a velha e carcomida cabana...
               O silencio rompera  o ruído tenebroso da tempestade que agora corria longe no seu caminho de destruição. Os corações não quiseram saber, amavam-se de novo no solo duro e encharcado do que restava da cabana. Por fim olharam-se inquietos incomodados pela vigília do silencio. Sentaram-se no chão de mãos dadas estremecendo, não do frio que se ia, mas do amor que voltara e os enchia. Os olhos davam a boa noticia e a natureza regurgitava de vida. As almas tinham-se reencontrado de novo quando sentiram o perigo. Não faziam sentido separadas e mais uma encruzilhada tinha sido vencida e a rota outrora traçada brilhava algures por ali perto. Um passo fora dado para lá desse horizonte marcado pela turbulência da discussão e o próximo avizinhava-se.... era talvez o futuro!


jorge d'alte
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domingo, 29 de julho de 2012

RENASCER


O comboio partia do cais onde ficara a sombra que se despedira. Já não correria mais, já não seria companheira, não seguiria os passos, já não cresceria na frente como passo no futuro. Vestiu-se de saudade, enfeitou-se com mil e uma lágrimas derramadas e esperou que o tempo a levasse para um qualquer canto da memória envolta no aroma das flores que jaziam caídas.

A alma despedira-se da sombra, arrancada pela raiz de um só golpe. A brisa negra viera sem som envolvera-a no seu manto formando um túnel escuro que a levou até à luz...

Quantas eternidades tinham passado? O corpo abraçara a alma quinze anos atrás e um turbilhão de mudanças constantes, de sentimentos que caíam como gotas e cresciam formando esse mar sem fim. Os desejos vieram depois com línguas de luxuria e rosas espinhosas da paixão que tomara conta.

A sombra erguera-se do pó do tempo e caminhara lado a lado com a alma, ajudando-a a cada passo na compreensão das coisas, na revelação de cada bocadinho que nela se aninhava e agora caminhava na sua frente dando cada passo no futuro transportando o corpo.

No caminho partilhado as sombras corriam lado a lado, as mãos deram-se dias antes e as almas brilhavam na cor da felicidade.


- Até quando?


Jorge d'alte




quinta-feira, 19 de julho de 2012


Tinham-me dado asas e disseram-me voa no sonho!


O penhasco tinha alto e fundo e eu era o vértice...à minha frente estendia-se o sonho sem horizonte à vista, mas era belo e singelo em tons indefinidos, mas agradavéis. Pulei na liberdade dessa aragem que nos puxa, que nos leva, que nos entontece e os tons foram clareando em cada rodopio que girei, como ave de rapina procurando bem lá do alto, o alimento que nos mitiga...veio o rosto dourado nuns olhos azuis e em cornucópias de cabelos acastanhados e encaracolados. Emaranhei-me neles sorvendo esse cheiro magico de pétalas de rosas vermelhas. Senti-me siando no vórtice aberto e fui sustido pelo encarnado desses lábios húmidos de paixão, que me contaram uma nova história, um novo guião para o meu rumo...e o sonho viveu e cresceu nos passos sussurrados, nas mãos que se uniam e não largavam.
Que sonho era aquele que no proscénio se abria como um leque multifacetado de sentimentos, muitos? Perguntei à estrela que voava ao meu lado, agora num céu aberto de breu, pintalgado de eternas luzinhas douradas. É o nosso amor, o sonho maior que a alma almeja, o sabor desejado que não se vende nos hipermercados nem nos shoppings, mas que se constrói nas pequenas coisas que guardamos no nosso âmago e que por elas lutamos, vivemos e sofremos.


jorge d'alte

sexta-feira, 13 de julho de 2012


Os olhos brilhavam miudinhos na morna tarde caída ensombrando os montes e os vales que como bailarinos rodeavam a paisagem. Por ali numa esplanada acolhedora sob a verdura de uma ramada ornada de pingentes cachos o Eu remoía palavras que faziam sentido só quando os vapores da Cola com Rum começavam a fazer efeito. O choro de piegas caía segundo disseram, no coração chamando-lhe" âmago ". Que soubesse nunca tinha conhecido esse tal "âmago "mas que diferença fazia se ele estava vazio de todo. Evaporara-se nas agruras da vida ali para os lados da solidão que teimava em fazer companhia. As mãos secas e ásperas rodavam o copo meio cheio fazendo tilintar o gelo. As entranhas estavam assim como o gelo tilintando quando algo vinha à tona da mente trazendo alguma recordação mais quente...mas tudo não passava disso - recordações!


Os olhos embaciados ondulavam nas memórias indo como de ilha em ilha descobridores de mundos perdidos nos escolhos do tempo e a dor fustigava fundo tentando arrancar da escuridão a raiz desse vendaval que de repente assolava trazendo de uma só vez a realidade das coisas, a realidade de uma vida cheia que se viu privada da clarividência refugiando-se por detrás da demência alheada


jorge d'alte

terça-feira, 10 de julho de 2012


A coberto da noite dois corações batiam numa conversa sem palavras. Tinham esperado pela lua para iniciarem o ritual da união mas esta não aparecera e em sua vez vieram as nuvens fofas que surfavam na aragem repleta de maresia. Cada uma diferente com rostos deslavados, cinzentos ou desfigurados no negrume. De vez enquando os pontinhos brilhantes traziam pontas de luz e as mentes brincaram com elas tentando descobrir qual seria a sua estrela, aquela que lhes traria a sorte, o rumo, a felicidade.
O bater sobressaltou-se quando os olhares se colaram e o desejo espreitou por cima da paixão que os invadia.
Na areia morna e seca os corpos uniram-se beijando-se e os corações bateram mais apressados. Algo surgira das profundezas do abismo da emoção, como cavalo louco desenfreado e trazia á ponta da língua desvairada as palavras ternas como borboletas voando ao calha, talvez em demasia. As mãos moveram-se primeiro na timidez, depois no sentir da pele, logo saltando para a descoberta e os pontos lascivicos. Os corações apertaram-se no abraço seguido como elo inquebrável. Os corpos moveram-se com as estrelas e na sua rotação lançavam no ar os gemidos corrosivos da união e os corações foram um e voaram para lá da fantasia onde tudo é mudança, uma brisa que cresce e se revolve como tempestade e na bonança sorriram batendo descompassadamente mitigada que fora a fome de quem ama.


Jorge d'alte

sexta-feira, 22 de junho de 2012


........... Estive retirado uns tempinhos mas o retorno sabe sempre melhor!


O céu escurecia trazendo as estrelas até mim. Hoje rejeitei a lua e o seu feitiço; que fique por outras paragens pois senti de súbito o vazio que me deixaste há tanta eternidade atrás. Estou sentado no meu trono de retiro, bem lá no alto onde reino no suspiro e sorvo a saudade na ânsia de te sentir. Disseste-me quando partiste que estarias algures por ali, correndo pelas estrelas, cortando o negrume com o teu sorriso e aquecendo-me a alma com o véu do teu amor por isso espero por ti.
A brisa soprava de mansinho fazendo abanar a folhagem numa musica suave e mágica e as pálpebras caíram sem remissão.

As nuvens corriam desesperadas impelidas pelo vento. Plantado na nuvem branca eu olhava os teus olhos cada vez mais perto. Ali estavas tu repousando serena de sorriso cativante e malicioso caminhando sem ruído ao meu encontro. O abraço que trocamos foi doloroso expurgando toda a dor da separação e trazendo a paz calma no beijo que trocamos. A alma rejubilou fundiu-se e arfou e as palavras saíram sem som mas tu escutaste-as pois me chamaste de tonto come sempre ternamente me chamavas. Como era bom poder estar de novo contigo, saborear o calor do teu corpo, afagar a tua pele acetinada corroída por espasmos de prazer. Voamos numa louca aventura nos labirintos estreitos e profundos que rasgam a mente trazendo o orgasmo.
O raio trazia o calor e luz da alvorada quando abri os olhos. Retorci-me espreguiçando-me no longo tronco onde dormira. Afinal sempre vieras tal como prometido, por isso o meu sorriso acordou o som da natureza e a musica de mil sons acompanhou-me na descida enchendo o meu peito da felicidade perdida.

jorge d'alte

terça-feira, 10 de abril de 2012

Naquele tempo houve as sombras que drásticas caiam sobre cada um de nós, tentando com a sua força e o seu terror vergar as vontades e este grassou qual peste vampirica que sugava o sangue em cada investida. Panças cresceram na abundância como ilhas perdidas no meio de tanta miséria e fome.
Fez-se luz e a esperança veio visitar-nos e pensávamos nós que para sempre...mas o sempre é utópico e ilusório e em cada fresta da nossa vida a sombra regressou embuçada em épicas mudanças que nos encheriam de benesses impossíveis atirando-nos aos pés vagas de facilidades em rodos de dinheiros que não havia levando-nos a sonhar com panças cheias e gordas quando o que era mais saudável era uma dieta regulada.
E eis que em passos de coelho, em cada pulo surge uma austeridade que nos come aos poucos as letras da "esperança" substituindo-as por outras mais frescas e duradoiras " miséria e fome"
É tempo de a "Luz "voltar e dar um pontapé nos traseiros gulosos deste bando de trapaceiros.

jorge d'alte

quinta-feira, 22 de março de 2012


Palmilhava a rua deserta de fachadas desgastadas e tristes, curvando-se bem lá no alto em gradeamentos de varandas, como se quisessem manter-me sequestrado nessa sombra, cada vez mais terrifica e putrida, que caia com o desprezo da luz solar. A única companhia era a sombra que se movia, ora ao meu lado como um amigo, ora atrás como um predador, buscando no seu cérebro doentio fantasias para se alimentar, ou à frente como anjo indicando-me o caminho. A angustia retia os meus passos e a mão esticada buscava o apoio na luz que se esvaia. A rajada encorajou a árvore negra que se vergou como se tentasse agarrar-me com os seus ramos nus e dançantes e o coração bateu no terror. Que me estava a acontecer? Só podia ser um pesadelo! Estava perdido no tempo. A estrela que eu amara caíra do céu abatida pelo destino, e eu não tinha a sua luz para me guiar, o seu calor para me aquecer, a sua dança astral para me enfeitiçar, os seus lábios colados aos meus, esse mel de vida que nos faz amar, nos dá um sentido à vida e nos coloca da dependência.
Olho o caminho que só tem um sentido, tento olhar para trás para ver onde ficaste...mas o tempo engoliu esse momento e deu-me a dor e a saudade por companhia. Arrasto os pés na calçada agreste da rua e a sombra faz-me companhia até que um dia a luz se apague também e me dê outro céu onde te encontrarei e então seguiremos de novo com as mãos dadas na planície onde as sombras foram banidas e a áurea deste outro amor a ilumine para a eternidade.


jorge d'alte

segunda-feira, 19 de março de 2012


Quanta tempestade
quanta bonança
queimaram o teu corpo sem remissão
O nevoeiro da idade
esfumou a lembrança
mas tu ardes sempre em saudade, no coração.



Jorge d'alte

terça-feira, 13 de março de 2012



...A primavera rebentou como imensa flor, alegrando os olhares e retemperando os corações do Inverno que não fora. O frio deixou-se envolver no calor do sol e tudo tem sido diferente.

...a noite fúlgida refugiava-se nos becos e nas estreitas ruas, daquilo que fora eu. Aprisionava no seu negrume as asas do meu coração, tentando tragá-lo para chamá-lo de seu. Fora antes um corpo de sedução, um rosto belo que dera volta à minha cabeça, cegando os meus olhos num deslumbramento desmedido.
Como traça voando em volta dessa luz ,acabei preso na sua teia de magia, deixando-me ficar ali mudo sem sentido de vida, langoroso naquela rotina e as interrogações que eu quisera e pensara fazer, ficaram caladas nos beijos impetuosos que me colheram e seduziram.

...agora vergado pelo peso da escura dor, qual tormenta invernosa e frio que racha, tento cavar trincheiras de refugio no seio da minha alma, apelando ao imo do coração. para que volte a bater de novo e me traga uma nova vida nas rédeas da esperança.

jorge d'alte

sexta-feira, 2 de março de 2012

Hoje clamei a tua presença e os sonhos vieram em tons de rosa...
........Era dia de anos e andava nervoso. Os treze chegavam hoje mas não havia diferença, continuava o mesmo por dentro e por fora. Talvez tivesse crescido mais um centímetro desde a ultima vez. Ansiava pelo lanche e pela companhia dos meus amigos e sonhava com sorvete de chocolate conforme me fora prometido.
...As batidelas na porta sucederam-se continuamente tantas quanto os meus amigos que chegavam. Choveram prendinhas mirabolantes que me fizeram sorrir mas .... Foi um grande mas que surgiu perante mim nuns olhos verdes de prados húmidos num sorriso deslumbrante de luminosa alvura...desculpa trouxe a minha prima comigo pois não a queria deixar sozinha - Não te importas?
Se querem saber o que disse têm que esperar muito pois eu perdi-me nesse prado e corri nesse vento quando o nome foi soprado como canto de sereia... Pois já devem estar a ver...foi mesmo isso que aconteceu fui apanhado num sentimento tão angustiante e belo tão ansioso e novo que me movia a seu belo prazer como marioneta controlada por invisíveis fios...soube sem saber que lhe chamavam "amor" e era tudo o que eu via nela e era tudo o que eu queria e por isso já perto do entardecer segurando a sua linda mão lhe perguntei - como te chamas?
- Eu sou a M... mas porque sorris assim para mim?
- Tu fostes a mais bela prenda que me trouxeram e gostava que fosses minha?
E os anos voaram sempre cheios de ti e os nossos corpos mudaram como as estações e os sonhos com eles...e ficaram ali naquela primavera quando partiste e eu fiquei quando o sono eterno te fez dele e a mim calhou-me a eternidade da dor da esperança de nos voltarmos a ver um dia nesse lugar onde agora vives.
Obrigado por teres vindo mais uma vez ao meu encontro pois por mais que eu viva nesse dia também morri.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Alzeimer!


Não sei onde estou, quem sou, porque passeio aqui, para onde vou...procuro na minha mente por entre tanta tralha confusa de imagens e emoções, mas enquanto os meus olhos vêm a luz radiante, a mente vê o escuro impenetrante e o medo agasalha-me, enquanto o sorriso se afoga na lágrima que se vai...e eu? O cheiro da fragancia trás-me ao peito a lembrança que dói, um sentimento velado de nevoeiro, que a espaços se rasga e me trás o som da tua voz meu amor, que julgava perdido. Porque não me beijas já? Porque me sorris com a amargura que desce do teu olhar? Por acaso esquecestes, tantas noites de amor e amar? Vejo um rosto que passa e se fixa nas pupilas dos meus olhos. Olho e torno a olhar. Descubro um nome para ela, está mesmo ali...era...o coração bate no compasso certo e no coração aperto um nome que soletro; fi...lha...a angustia colhe-me com laços fortes de amor, cada vez mais apertados e sufoco nos soluços entaramelados na voz embargada...onde estás?...eu estou num mundo novo, onde caminho só e perdido...sinto mãos que me guiam, que me afagam, sinto ternuras sussurradas e os olhos ardem-me de uma esfuziante alegria...sinto-me em casa, mas afinal onde estou? e tu quem és? Escuto palavras, sinto emoções, mas não consigo encontrar, essa porta fechada que dá, para a minha vida sonegada.

jorge d'alte ( a um amigo)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Destino



Se soubesse que o destino já estava traçado

Corria ao futuro e trazia-o bem amordaçado



Jorge d'alte

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Moça perdida!

A tentação descia a inclinada areia que quebrava, estalando sob os seus pés nus. Não traçavam nenhum rumo, apenas desciam levando aquele sorriso no seu apogeu. A pele tisnada, rebrilhava no sol o unto protector e nada a afectava, nem mesmo os sorrisos parvos que ilustravam rostos, os piropos banais que cansavam, a lascívia em olhos novos e velhos. Sabia que ofuscava o sol que se vergava à sua passagem, caindo depois desvairado para lá do horizonte de tantos sonhos.
Tanta beleza gritante num ego sem limites!

...A noite caíra no copo dourado de liquido inebriador. Os olhos espreitavam curtos na cortina fantasmagórica do fumo e da musica que vogava doce e suave. Era a hora dos corpos colados, das promessas tentadoras sussurradas ao ouvido,dos convites para outros destinos, trilhos vãos que não levavam a sitio nenhum e as palavras soavam ocas, não traziam a luz ao seu sorriso e os gestos mecânicos caiam no tédio e a solidão entrava naquele peito desfeito de tanto vazio.

...O dia acabara e a agonia aumentara, talvez por culpa de tanta beleza, que ofuscava a outra que algures lhe brilhava na alma e ninguém a via, ou procurava.


jorge d'alte

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

DULCINEIA


......A onda veio de mansinho morder-me os dedos dos pés trazendo a frescura salgada desejada. O sol tinha-se empinado lançando raios dúbios de violeta e radioactividade. Era o equinócio de Verão que tinha chegado, furando a névoa matinal e escorraçando-a bem para longe para gáudio das formas abstractas e disformes esparrachadas na areia escaldante. As sereias ainda não tinham aparecido, pois gostam mais das noites de luar, onde podem gemer encantando com as suas vozes roucas o macho vibrante.
Os meus olhos claros ofuscados pela luminosidade fechavam-se de modorra e tédio. Mais uma onda se soltou mais agressiva fazendo-me soltar uma imprecaução desprevenida perante o salpico mais gelado.
A sonora gargalhadinha feriu-me os ouvidos fazendo-me voltar a cara que atónita sorriu parvamente. A vozinha tinha corpo não de sereia mas de musa e a pele brilhava-lhe em minúsculas gotinhas de água salgada. Por fim chegara a miragem ansiada e os lábios correram langorosamente esborrachando-se em sorvos quentes e húmidos fazendo subir drasticamente a temperatura.
Era ela a minha doce e amada Dulcineia. As mãos tocaram-se palma com palma e os dedos brincaram para se entrelaçarem. Os rostos olhavam a alma, sentindo essa química tão necessária aqueles que se amam.
Os corpos jaziam unidos na areia. Tinham escorregado e deslizado como implosão e juntos voaram e a brisa enfunou com as palavras fortes do amor, as corrosivas da paixão, as promessas para o futuro que queremos em cada horizonte vencido.
Foi um dia como tantos mas especial como poucos e eu nunca esquecerei a alegria que vivia e iluminava esses olhos dourados de mel.
A saudade persiste em me trazer retalhos da minha vida, musicas já passadas mas melodias de sempre, por isso eu danço esta dança e esqueço-me na onda que me leva arrastado para o teu terno mar.

jorge d'Alte