sábado, 30 de outubro de 2010

ABACADRAVA


Abacadrava!

Ele ficou estático por breves segundos na calçada da rua que levava seus passos rumo ao liceu.
De trás de uma árvore perfumada por imensas flores ela saiu sorridente no seu passo ondulado de ancas maneadas.
Ele olhou em roda o que é que o fizera parar?
As pernas não andavam por isso olhou em volta esperançado em que alguém o pudesse ajudar.
Seu olhar viu uma bela moça que seguia o seu sorriso que por ser tão intensivo irradiava.
Olá! Podes-me ajudar?
Em que é que queres que te ajude? disse a moça.
Estou aqui parado no tempo e não me consigo libertar.
Pois eu sei uma maneira!
Deveras, qual?
Fazemos uma acordo, eu gosto muito de ti e tu nunca deste por mim, mas se me aceitares eu conceder-te-ei esse pedido que me fizeste.
Bom se é esse o caso eu aceito, pois não quero ficar para aqui até ter barbas pelo umbigo.
Um sutil e estridente estalar de dedos devolveu o andar ao rapaz que lá foi seguindo a sua companheira...um beijo aqui, outro acolá...um abraço, um murmurar ao ouvido...
Tudo o rapaz fez para que ela se satisfizesse.
Tudo corria conforme os planos elaborados , mas faltava qualquer coisa que não a satisfazia, algo que a deixava pela metade, algo que ela não compreendia, e por isso nesse dia chorou.
Estava no seu quarto, onde as sombras do escuro tomavam conta da sua alma. O seu coração gemia de angustia porque amava aquele rapaz...mas ele tudo fazia como simples marionete, como se as cordas que o ligavam a ele e que ela manejava, fossem vazias de nada, e tudo fosse ficção, como se ele nada sentisse e pior não existisse...
As lágrimas que corriam traziam frases de torturosa dor e a sua mente refugiou-se no pensar das coisas na sua interpretação e compreensão, e aí fez-se luz.
Pois é! Agora compreendo.
Posso estar a maneja-lo, posso ter tudo dele, mas nunca conseguirei a chama da sua alma, pois é isso que lhe dá vida, calor, e desejo. Tenho uma pessoa que fiz e não aquela que é e é isso que faz a diferença, e é isso que me está a matar aos poucos...

Abacadrava!

O seu gesto despertara o rapaz, que olhava em volta indeciso.
Que lhe acontecera?
Acho que vivi um sonho esquisito talvez por ter reprimido por tanto tempo este sentimento que sinto...mas a minha timidez acaba sempre por levar a sua avante e eu fico ali sem saber "SE" ...
Na manhã seguinte a moça calcorreava a calçada apressada pois já ia atrasada para o liceu, levando seu olhar em mundos de fantasia onde Ele era o seu Ídolo.
Por sua vez Ele caminhava devagar preso na vontade que não saía, murchando no entusiasmo a cada passada dada como se subisse para o cadafalso.
Sentiu um deslocar de ar e sobressaltou-se, era Ela que passava tão depressa...
Levantou os braços e o seu coração gritou contra sua vontade "ESPERA!"
A moça deu um salto de surpresa... mas onde já ouvira aquela voz?
Não pode ser!
Ele nunca me Vê!
Estacou, virando-se devagar para trás...
Ele via em câmara lenta, o corpo do seu amor parar, voltar-se devagar e o sorriso a abrir-se lentamente como rosa na húmida madrugada e as suas palavras saíram como catadupas de mel.
Espera! murmurou, olhando agora aqueles olhos verdes profundos e enigmáticos.
Eu tenho-te visto no recreio da escola e o meu coração pula sempre que te vê buscando no teu olhar um sinal de que não sou indiferente para ti, sabes porquê?
Porque te Amo, simplesmente te amo e não consigo existir sem ti.
A moça retrocedeu e sem dizer nada beijou-o como só o amor beija, e disse-lhe ao ouvido no abraço que dava, "nem sonhas há quanto tempo queria ouvir isto"...

Nessa noite de halloween a moça tomou a decisão, já não precisava da sua varinha de condão, pois a magia do amor nunca se consegue por imposição, mas sim quando os corações se abraçam e amam de verdade.

Abacadrava! e a sua varinha desapareceu.

Agora sim era e seria feliz pois tinha a seu lado aquele que amava e que a amava e juntos percorreriam as estradas da vida tentando não tropeçar nem cair mas a confiança estava impressa na sua vontade e esta não esmoreceria.


jorge d'alte

VERMELHINHO


Podia ser um tomate mas é um carrinho.
Quem o viu ficou a pensar mas que lindo que ele é (e eu a julgar que era eu o tal lindo). O seu perfume evola-se no ar num gosto carregado de adrenalina. Esse é o segundo nome dele(também podia muito bem ser o meu ). Ele ama deslizar suavemente como em pele gemente (e eu se calhar não?) e depois acelerar sentindo tudo ficar para trás (onde já vi isto) e sermos só um (isto eu sei bem onde) depois de atingirmos esses píncaros e fazermos o cavalo descemos num refrear com a carroceria (podiam ser os corpos) a vibrar e o chiar esmorece na curva súbita que aparece ( nem me quero lembrar desta parte pois já não sabia onde estava) e no deslizar de lado neste slide (já não sei quem está encima ou em baixo pois os corpos revolucionam-se em constantes mudanças de posição) o desejo sobe outra vez numa nova adrenalina e acelera de novo agora em linha recta atingindo tal velocidade que passamos para além do tempo onde só se sente a emoção e o corpo gemente e numa outra viragem a descida quer-se vertiginosa e arranca os cabelos para trás e nesse frenético agarrar das unhas o carro retoma a estrada roncando de novo levando um bater mais forte aos corações e depois num refrear a emoção leva o desejo de acelerar e na calmia que se segue sentimos a vida a pulsar de novo com o presente ficando para trás e o futuro a ser absorvido em cada segundo que juntos percorremos e para finalizar esta bela viagem nada melhor que um pião a derrapar(abraço em rodopio contigo a girar a girar) até o carro parar.

Adoro o meu vermelhinho com amor e carinho (isto foi para ti minha companheira de viagem)

Jorge d'alte

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

SEMPRE TE AMAREI!


As ruas velhas que eu percorro na noite que cai solitária, cada uma mais estreita, estrangulando os meus passos que me levam a lugares esconsos onde a lua que é luar já não reina, nem é som, e as sombras estendem suas garras, me agarram ferindo as minhas entranhas loucamente dilaceradas, afastando-me do caminho que tracei, levando-me as pessoas que na vida encontrei, que amei, que foram vida, e de entre todas foste aquela que jamais esquecerei, porque foste minha!
Agora estás perdida e por isso te procuro, seja no dia que nasce cedo por detrás daqueles montes,quebrando a madrugada, seja na noite de verdugo que me traga como vulto fugidio no nevoeiro correndo atrás do eco que tu deixáste.
O vento fustiga levando tudo à sua frente, tira-me a pele em tiras, como chicote estalante traçando sulcos tão fundos, tão fundos que a dor já não sente nada, arranca-me o coração em saudades lancinantes onde se ilude em lágrimas derramadas, gritando em vão teu nome que se funde com o som troante da trovoada.
Um raio de luz assombra o meu rosto, desenhando no ar de cordite a vida do teu olhar.
Ah!
Estás aqui!
Finalmente te encontro, na etérea luz do relâmpago.
Foi o segundo mais lindo da minha vida desde o dia em que me deixaste levando-me tudo o que eu tinha e deixando-me nu e exposto, perdido na calçada.
De novo solto os meus passos, deixando-os nus de sentires, caminhando por caminhar sempre na vã procura do lugar onde tu estás.
Sento-me na sarjeta cansado, uma pinga solitária beija-me a cara trazendo à minha alma o teu perfume excitante.
Afinal tinhas razão quando um dia me disseste, JOnel "estarei sempre onde estiveres e aí te amarei".
Agora moro nas imensas ruelas, vivo na minha sombra contigo de mão dada.


jorge d'alte

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O PEDIDO


Olho para ti e o meu coração pula.
A proximidade é curta e os lábios quase se tocam, mas a minha boca quer falar, e o tempo faz fremitá-los ainda mais, numa onda que é difícil de sustentar.
É tempo de lhe dizer e as minhas pernas tremem e a minha mente duvida num "se" e a coragem retrocede, mas logo aparece quando com um sorriso ela me pergunta
"Que se passa?"
"Que me queres contar?"
Agora gaguejo.
Porra, fui apanhado na armadilha que fiz a mim mesmo e já não tenho escolha nem por onde escapar.
Por isso suo frio, agarrando-lhe tremulamente as mãos.
Como lhe dizer aquilo que nunca tinha dito? Que palavras dizer, se não continham tudo o que sentia cá dentro?
Ela olhava-me na interrogação, com o sorriso a desvanecer-se e a tornar-se em aflição.
Porque não me beijas?
Já não me queres?
Não, não é isso! soletro cada letra como um menino tonto e de repente... tudo saiu numa enxurrada.
Eu AMO-TE muito, quero que sejas o farol da minha vida, que sonhemos juntos uma vida, a nossa... e quero que namores comigo(já está, disse para comigo, e continuei)
Não consigo deixar de pensar em ti, de sonhar contigo. Quero que sejas minha, quero que me ames também...e calei-me olhando-a, se calhar pela última vez.
Ela ficou a olhar longamente para mim, séria!
Estou morto pensei, o meu coração parou, que eternidade!
Os olhos dela adoçaram-se no pouco a pouco e o sorriso nasceu do seu crepúsculo. Agora escutei o primeiro baque do meu coração e as pernas fraquejando vergaram-se com o peso da emoção quando ela agarrando o meu rosto parvo, me disse:
Anda cá meu tonto!
Eu também te AMO!
Por isso beija-me meu amor, por isso serei tua, por isso te amarei até ao fim dos meus dias e serei a tua lua.
O coração já não batia, agora corria no frémito que subia, e os lábios abertos contavam outra história, a história do meu primeiro dia.
A partir daqui deixara de ser o rapazinho que apenas sonhava.
Agora tinha o sonho nas mãos agarradas e não o ia deixar fugir...

jorge d'alte

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A GAIVOTA



A gaivota partia rumo ao horizonte!
Levava nas pontas das suas asas os sonhos de uma vida e dourada batia suas asas compassadas,enfrentando com fulgor esse sol que se punha.
Relaxava nas recordações vividas... cada passada dada,entrando no passado e vogando bem lá no alto ao sabor da aragem, vivia de novo o som do primeiro encontrar de lábios que sussurrara bem dentro a palavra amar e a partir daí o seu voar se tornou diferente, porque agora suas asas abraçavam não o vento que passava indiferente mas sim algo lindo que luzia na menina dos seus olhos.
O amor chegara sem se anunciar e mudara toda uma rotina, tornando a monotonia dos seus dias em saudade ansiosa numa entrega total e incondicional que alimentava como achas de uma fogueira a emoção do momento e o desejo como fermento.
Como foram belos esses dias em que o seu corpo mudara no seu crescer e a sua penugem apelava à sedução e o sonho que desde há muito escondera estava ali ao seu alcance e por isso voava rumo ao horizonte!
Levava nas pontas das suas asas o seu amor e juntos em cada bater de asas enfrentavam esse horizonte sem medo enfrentando com fulgor esse sol que se punha no ocaso.

jorge d'alte

EU


Vivia no limbo pequeno e engraçado.
Tinha tudo para crescer ali na orla do prado.
As sombras vetustas dos meus pais e companheiros, que se erguiam acima de mim, frondosos e orgulhosos, protegiam-me dos ventos, que vergavam,vergavam até quebrar.
Pequeno tronco era, despontando parco de ramos e folhas, e um dia quando já definhava fora do imaginário, estendi as minhas raízes, agarrando-me à vida, e a seiva voltou forte e doce e os sentimentos como ramos dourados, estenderam-se às alturas.
As folhas vieram-me vestir, num traje biológico e belo e no despertar das primaveras surgiram as flores, que por serem belas, acasalaram em frutos e a minha semente na terra caída, era esperança de mais uma vida, ali adormecida, à espera da primeira gota que a agitasse e que da terra fértil surgisse, essa filha minha.
Um a um, o machado implacável escolhia a sorte, que derrubaria sem remissão, toda uma vida, feita de sonhos e emoções, apimentada com fantasia.
Agora, eu sou gigante ondulando com a brisa dos tempos, olhando para baixo, vendo meus doces rebentos esticarem as suas raízes, como eu outrora o fizera, crescerem em belos portes, que um dia nas primaveras, hão-de florir.
Sei que o machado virá um dia sem piedade. Que me derrubará com cortes profundos e dolorosos, mas nas pequenas sementes, que a meu lado florescem, está o meu EU e o dos antigos, reinventando novas flores, que um dia por serem belas, darão frutos e sementes, tal como eu e assim a imortalidade é realidade, no pouco que fui, no pouco que sou, no muito que ainda irei ser.


jorge d'alte