sexta-feira, 1 de outubro de 2010

EU


Vivia no limbo pequeno e engraçado.
Tinha tudo para crescer ali na orla do prado.
As sombras vetustas dos meus pais e companheiros, que se erguiam acima de mim, frondosos e orgulhosos, protegiam-me dos ventos, que vergavam,vergavam até quebrar.
Pequeno tronco era, despontando parco de ramos e folhas, e um dia quando já definhava fora do imaginário, estendi as minhas raízes, agarrando-me à vida, e a seiva voltou forte e doce e os sentimentos como ramos dourados, estenderam-se às alturas.
As folhas vieram-me vestir, num traje biológico e belo e no despertar das primaveras surgiram as flores, que por serem belas, acasalaram em frutos e a minha semente na terra caída, era esperança de mais uma vida, ali adormecida, à espera da primeira gota que a agitasse e que da terra fértil surgisse, essa filha minha.
Um a um, o machado implacável escolhia a sorte, que derrubaria sem remissão, toda uma vida, feita de sonhos e emoções, apimentada com fantasia.
Agora, eu sou gigante ondulando com a brisa dos tempos, olhando para baixo, vendo meus doces rebentos esticarem as suas raízes, como eu outrora o fizera, crescerem em belos portes, que um dia nas primaveras, hão-de florir.
Sei que o machado virá um dia sem piedade. Que me derrubará com cortes profundos e dolorosos, mas nas pequenas sementes, que a meu lado florescem, está o meu EU e o dos antigos, reinventando novas flores, que um dia por serem belas, darão frutos e sementes, tal como eu e assim a imortalidade é realidade, no pouco que fui, no pouco que sou, no muito que ainda irei ser.


jorge d'alte

9 comentários:

  1. Obrigada pelas suas palavras, acho que a pergunta que fiz iria tirar as palavras a qualquer um. A resposta é difícil e não me parece que a veja...

    Texto maravilhoso (:

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  2. As palavras ajudaram-me mais que muito.
    Posso ainda não ter um caminho certo, uma opinião completamente formada, mas vejo alguns traços do caminho que vou tomar, e espero que a vitória seja minha.
    E é verdade... as coisas mudaram muito rapidamente, já não há tempo para crescer... e todos esperam que não aja erros, como se fosse possível. Mesmo com tempo e sabedoria erros são cometidos, quanto mais nesta minha geração e sobretudo nas mais jovens, onde miúdos de primeiro ano tem telemóveis mais caros do que alguma vez tive.
    Enfim... uma sociedade que precisa de reduzir a velocidade mas que está demasiada ocupada para ver isso...

    Mais uma vez, obrigada (:

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  3. Li algures que os erros fizeram o que somos hoje, se os apagássemos não éramos o que somos hoje. Os erros só nos mostram que outrora fizemos o que não era suposto e apenas nos lembram disso para não errarmos de novo (:

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  4. acredito que sim :)
    eu escrevo cartas, mas é para uma amiga de longe, adoro :)

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  5. é sem dúvida um grande amigo :)

    gostei, beijinho

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