segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

                                                                             

                                                                                 I


A parede outrora branca estava encardida e húmida e agarrava o lixo dos tempos nas rachas esverdeadas que serpenteavam como raios na tempestade e aranhas  em berços tecidos em cantos escusos como prisão que era.

A criança de olhar perdido olhava através das grades ferrugentas a aldeia acantonada que fora o seu lar de outros dias...
Agora onde antes havia flores silvestres crescendo e iluminando os dias com as sua cores garridas, havia corpos torcidos  e caídos em posições irreais e terrificas.
Olhou com olhos mortiços pela dor e pela vida que se esvaia  pelos golpes cortantes auto infligidos, a outra parede onde com o vermelho do seu sangue escrevera palavras com raiva surda de impotência....
Maria! soluçou num pranto seco de lágrimas.....morta mesmo ali defronte das grades quando tentava vê-lo e beijá-lo.....Apenas um misero ploffffff e a vida caíra ali aos seu pés do outro lado da parede de argila a cerca de um metro,,,,Nem pudera abraça-la num ultimo adeus....todo o sonho de uma vida, a grandeza de um amor ficara ali estendida como tantos outros com nomes sem chama.
Tentou ler o seu ultimo poema ..... fora esse o seu grande sonho....ser aquilo que era e escrever tudo aquilo que vivia dentro do seu ser....

Como é triste escutar
a chuva caindo...
Sentir o vento no meu rosto
vibrante em mil e uma emoções
Como é triste, sentir aqui dentro
choro de crianças pedindo pão
Sentir o medo em seus olhos                                                          
lágrimas caindo como chuva quente de verão
Como é triste ver o sangue
escorrendo na calçada do caminho
Sentir a tua vida escapando-se
meu amor caindo como um pássaro abatido.
Como é triste ...escuta!
os passos surdos da morte que vem buscar-me.
Sentir os sonhos e a vida desvanecendo-se
com a escura perene noite que me está abraçando...
Como é triste
escutar
lá fora a chuva...caindo


                                                   

Por debaixo viam-se as marcas sangrentas da sua mão quando as forças esbracejaram levando mais um pouco de alento da sua vida.....

Desfalecido e sentado na terra húmida daquele chão, seus olhos negros de quinze anos reviveram na névoa que os envolvia.....

Jorge d'Alte ( parte primeira)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014






Eram segundos antes, e foram segundos depois que se esticaram por horas ......
Foi nessa linha imaginaria entre o antes e do depois, do velho e do novo que.....

A valsa da meia noite soava serena e emotiva nos passinhos curtos e rodopiantes inseridos no compasso de Um, dois, três.
Os rostos olhavam-se nos olhos e os sorrisos cantavam o amor que lhes ia nas almas....
Num dos rodopios mais rápidos saíram do imenso salão para o pátio que levava aos faustosos jardins da mansão vitoriana....
Do céu sem lua e sem estrelas caiam pétalas brancas que tocavam na pele como calafrios de emoção.
Era isso que o par sentia, aquela emoção que antecede o desejo que nos faz arder e gelar, que nos faz heróis de uma aventura ímpar onde os guerreiros lutam por amor e com amor e as armas entrechocam-se no beijo apetecido que faz secar a boca e ofuscar o som que não sai.....por isso os corpos giravam naquela valsa, naquela noite onde tudo acaba e recomeça e os urras em copos servidos de champanhe e bom ano saltam de boca em boca entre apertos de mão e beijos sem sentido....




jorge d'alte