sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

PÉROLAS!


Foto de Meteopt.com


O pássaro saltitava de raminho em raminho debicando na sua alegria, algo para dar aos seus filhos. O meu olhar de pesar amargo e doce, sorvia toda esta pulsante vida.
Um cantar mais estridente levou-me a erguer o olhar e na liberdade da brisa levantada, o coro chilreava o cântico da fertilidade e dois melros voavam e esvoaçavam traçando na madrugada crescente, um rumo para a sua vida. Mas tal como entre nós, a fêmea fazia-se rogada para desespero desse conquistador e apesar dos constantes contactos de bicos ela fugia, ele voava desesperado, ela esperava por ele encantada, mas como danada, quando ele erguia o bico, ela batia as asas e agora no cimo do fio eléctrico cantava uma canção mais romântica...mas o melro de bico amarelo já não ia na sua cantiga e virava costas a esta melodia e em saltinhos e bateres de asas, manifestava o seu descontentamento. Abanando a sua cabeça e rolando os olhitos aflita a fêmea voou na direcção do seu par e desta vez bicou numa suave ternura e juntaram as suas asas em bateres descompassados até acertarem o ritmo. A fêmea ritualizou um primeiro esvoaçar de encorajamento chilreando pelo seu amor e este após um momento de hesitação bateu suas asas decidido e pousou de mansinho junto da sua amada. Na ponta do raminho chilreavam juntos numa conversa animada, tinham jurado essa fidelidade que nós humanos tantas vezes traímos. Saltaram no vazio e apanhando o ar subiram, asas pretas e castanhas unidas. O caminho era para ali. O futuro era deles e na liberdade dessa madrugada as gotas orvalhadas eram pérolas e não lágrimas.
Com a minha mão em concha recolhi na minha palma, algumas dessas pérolas, com ela fiz um colar e fechando os olhos revi nos rios do meu sonho a face doce e adorada daquela que me dera ao mundo. Estendi os braços aos céus e com saudade estampada no meu olhar chamei teu nome Mãe e dei-te como presente pérolas cristalinas cheias do meu amor.

Jorge d'Alte

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

ATÉ ONDE ESTOU




Os tempos retrocederam na recordação e revejo-me caminhando a íngreme estrada que me há-de levar ao sitio onde estou.
Quando os sons fizeram sentido, a palavra saiu ilesa do meu peito, Mãe! mais tarde surgiu o Pai numa súplica e os passos levaram-e até ele, com a gargalhadinha solta num momento de extrema alegria. Agora vejo-me triste mas ao mesmo tempo expectante, caminhando com uma sacola cheia de livros, lápis e cadernos, mas vazia de sabedoria. Os ingredientes estavam mesmo ali á mão de semear, agora era necessária atenção e compreensão para passar ao degrau seguinte. Aqui encontrei o primeiro companheiro de toda uma vida, aqui encontrei um ser novo para conquistar" chamavam-lhe rapariga" e o porquê dessa diferença, levou-me um pouco mais longe e a curiosidade que fora motor trouxe-me pela primeira vez uma coisa diferente que não saía da mente, me atrofiava a fala, me fazia tremer e provocava aquele mal estar na barriga e então aprendi o verbo amar, então aprendi qual o sentido da minha vida, abraçando ao mesmo tempo a amizade e o amor de uma rapariga. Mas este amor não veio para ficar e essa doçura ficou na calçada no pingar de lágrimas sofridas e pela primeira vez me senti perdido porque esta dor que encontrei cá dentro moía-me como água em pedra dura e a primeira ferida fora sulcada e escorria como rio para a saudade que me trazia a tristeza ao olhar. Mas tudo tem outra face, e a dor foi diluída pela força da amizade e então um novo degrau me levou a outro olhar, este foi o amor de uma vida. Deu-me a estabilidade emocional, deu-me a luz em cada dia no sorriso que me desejava bom dia, no beijo que trás o desejo na emoção dos sentidos no poder de sonhar toda aquela vida pela frente. Mas também aqui fui traído não pelo amor amado mas pela traiçoeira morte que levou prematuramente aquele sorriso aquele ardente calor a força do meu sonhar e me deixou a tristeza, o gelo que me cobriu tirando à minha alma aquele fogo e deixou como sonho um imenso vazio. Então percorri caminhos cruzados, como tonto perdido e por mais voltas que desse voltava sempre ao inicio até que um dia o meu coração massacrado viu um novo rosto dourado e acreditou, me fez voar na vida nas asas deste meu novo sonhar e agora voo como gaivota rumo ao meu horizonte preso no bater das minhas asas que me levarão até onde eu estou.

jorge d'alte

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Homenagem



O sol ardia o ar que respirava tornando o bater do meu coração numa penosa ansiedade. As nuvens negras de dor teimavam em o obscurecer e perdido nessa imensa ferida lacerante e aberta sacudi a minha cabeça tentando afastar o enevitável e como recém -nascido buscava a teta que alimenta a alma procurando esse amor fenecido que era ternura que era sabedoria, era paz, para que mitigasse este esvair de perda que trespassa todos os poros do meu ser, levando toda a minha energia e vontade.
Os soluços saiem arrancados ao meu peito como musica triste e nos meus olhos perpassam cenas e cenas bem coloridas,de um filme a que puseram fim quando havia ainda muito a dizer, muito a receber, muito a dar.
No entanto vejo sempre esse rosto sorridente para onde quer que vá, onde quer que esteja,onde quer que sonhe, esse rosto amado que apesar de todas as adversidades teimava em não chorar, mas sofrendo no canto do seu silêncio, apenas para não nos incomodar. A alegria com que enfrentava a sua vida, esses dia a dia longos mas preenchidos em literatura ou tv, esperando sempre por uma visita dos filhos, netos ou outros familiares.
Nessa manhã fatídica, apesar do seu mal estar, ainda teve a coragem quando lhe peguei na sua mão amornada, de me sorrir já esvaecida sem pinta de sangue e de me dizer "Já vieste!"
Agora que escrevi a minha revolta, o meu sofrimento foi vencido, vejo esse sol de sorriso e perpétuo-o cá dentro da minha alma.

Jorge d'alte (Mãe, fazias 91 anos na passagem do ano!)
Fotos com 21 anos e 90 anos

sábado, 1 de janeiro de 2011

MÃE!



Chamava-se Libânia era uma pessoa que gostava da vida das pessoas, sabia aguentar as piores intempéries sempre com um sorriso no rosto sempre com uma Fé inabalável de que o dia seguinte seria melhor.Tinha sempre a frase certa o conselho feito de toda uma vida e um coração tão grande que abarcava todas as pessoas e foi na paz desse amor que o seu coração a levou sem sofrimento.
Era a minha MÃE e morreu a poucas horas de fazer anos precisamente na passagem do ano.

Agora guardo esta dor cá dentro e não sei como a hei-de tirar!


Jorge d'alte