sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Moça perdida!

A tentação descia a inclinada areia que quebrava, estalando sob os seus pés nus. Não traçavam nenhum rumo, apenas desciam levando aquele sorriso no seu apogeu. A pele tisnada, rebrilhava no sol o unto protector e nada a afectava, nem mesmo os sorrisos parvos que ilustravam rostos, os piropos banais que cansavam, a lascívia em olhos novos e velhos. Sabia que ofuscava o sol que se vergava à sua passagem, caindo depois desvairado para lá do horizonte de tantos sonhos.
Tanta beleza gritante num ego sem limites!

...A noite caíra no copo dourado de liquido inebriador. Os olhos espreitavam curtos na cortina fantasmagórica do fumo e da musica que vogava doce e suave. Era a hora dos corpos colados, das promessas tentadoras sussurradas ao ouvido,dos convites para outros destinos, trilhos vãos que não levavam a sitio nenhum e as palavras soavam ocas, não traziam a luz ao seu sorriso e os gestos mecânicos caiam no tédio e a solidão entrava naquele peito desfeito de tanto vazio.

...O dia acabara e a agonia aumentara, talvez por culpa de tanta beleza, que ofuscava a outra que algures lhe brilhava na alma e ninguém a via, ou procurava.


jorge d'alte

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

DULCINEIA


......A onda veio de mansinho morder-me os dedos dos pés trazendo a frescura salgada desejada. O sol tinha-se empinado lançando raios dúbios de violeta e radioactividade. Era o equinócio de Verão que tinha chegado, furando a névoa matinal e escorraçando-a bem para longe para gáudio das formas abstractas e disformes esparrachadas na areia escaldante. As sereias ainda não tinham aparecido, pois gostam mais das noites de luar, onde podem gemer encantando com as suas vozes roucas o macho vibrante.
Os meus olhos claros ofuscados pela luminosidade fechavam-se de modorra e tédio. Mais uma onda se soltou mais agressiva fazendo-me soltar uma imprecaução desprevenida perante o salpico mais gelado.
A sonora gargalhadinha feriu-me os ouvidos fazendo-me voltar a cara que atónita sorriu parvamente. A vozinha tinha corpo não de sereia mas de musa e a pele brilhava-lhe em minúsculas gotinhas de água salgada. Por fim chegara a miragem ansiada e os lábios correram langorosamente esborrachando-se em sorvos quentes e húmidos fazendo subir drasticamente a temperatura.
Era ela a minha doce e amada Dulcineia. As mãos tocaram-se palma com palma e os dedos brincaram para se entrelaçarem. Os rostos olhavam a alma, sentindo essa química tão necessária aqueles que se amam.
Os corpos jaziam unidos na areia. Tinham escorregado e deslizado como implosão e juntos voaram e a brisa enfunou com as palavras fortes do amor, as corrosivas da paixão, as promessas para o futuro que queremos em cada horizonte vencido.
Foi um dia como tantos mas especial como poucos e eu nunca esquecerei a alegria que vivia e iluminava esses olhos dourados de mel.
A saudade persiste em me trazer retalhos da minha vida, musicas já passadas mas melodias de sempre, por isso eu danço esta dança e esqueço-me na onda que me leva arrastado para o teu terno mar.

jorge d'Alte