terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

...DESESPERO

...Desespero!
A minha alma rasga as carnes tentando saltar cá para fora, concorrendo com a força das lágrimas que já não correm, nem sulcam, mas gritam.
O arder lancinante e lacerante desfigura o meu rosto e as unhas cravam-se nas palmas das mãos e com o sangue derramado escrevo com sôfrega ansiedade o teu nome no chão, enquanto os joelhos se vergam aos poucos, sob o peso da dor.
No solo de joelhos, olho o céu sereno tentando vislumbrar nas abertas das nuvens que correm, o teu rosto mas em vão.
Por isso desespero revoltado contra ti Vida ingrata, que me tiraste do convívio aquela que mais amava, deixando-me ali exposto como tolo no deserto sem rumo nem nexo.
Estendo as minhas mãos como cego para fora do sonho, mas este não está ali, apenas a realidade me recebe e crua me atira à cara na sua voz surda que tudo tem um preço e o amor que sentíamos, que vivíamos que nos alegrava tinha chegado a esse fim prematuro pela birra quezilenta da dona Morte.
Agora a tua vida será outra disse-me ela com ar pungente. Apenas a recordação e o sonhar, te trará de volta aquela que comigo está, mas um dia te virei também buscar e nesse dia vos unirei de novo, mas desta vez para a eternidade.


jorge d'alte

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

... COMO

...Como es triste escuchar
la lluvia cayendo
Sentir el viento
en mi rostro
vibrante en mil y una emociones
Como es triste
sentir aqui dentro
lloro de los ninos
pidiendo pan
Sentir el miedo
en sus ojos
lagrimas cayendo como lluvia de verano
Como es triste
ver lo sangre
escurriendo en la calzada del camino
Sentir tu vida
se escapando
mi amor cayendo como pajaro abatido
Como es triste
mirar el sol
entrando en la ventana de la prision
Sentir los cuerpos
sudando olores
de terror, dolor y soledad
Como es triste...escucha!
los pasos sordos
de la muerte que viene cogerme
Sentir los sueños y la vida
se desvaneciendo con la noche que me está abrazando
Como es triste escuchar
la lluvia cayendo
y el silencio sordo se está cerrando...


jorge d'alte
(

...BELA

...Bela! bela! repetia o meu coração dando aquele pulo para lá de tudo...
As minhas pernas movimentaram-se, não ao ritmo da música que bulia e estoirava nos meus ouvidos, mas em passos decididos que encurtaram a distância.
Algo fazia aterrar no meu olhar uma mensagem interrogativa, quando esse ser deu por mim ali parado olhando sem nada dizer. A contemplação tornara-se desconfortável para ela, mas depressa se recompôs num sorriso...e que sorriso! Nesse momento alguém falou e a sua atenção foi desviada e o mesmo sorriso bailava nos seu rosto e os lábios mexiam-se em palavras que não escutava e a boca soltou a gargalhada enquanto seu corpo se agitava ao ritmo da dança. A sensualidade despertou em mim uma vontade inabalável de a conhecer.As minhas costas apoiadas no balcão do bar davam-me a visão exacta da voluptuosidade do seu corpo, dos gestos sensuais e da sua estudada técnica de cativar, fazendo o seu par delirar em obscenos pensares ritualizados pelo carisma dos seus movimentos.
Nessa altura outros se lhe juntaram e as cenas repetiram-se sempre na mesma no mesmo sentido.
Bela! repetia cá dentro...
Por isso o meu corpo rodopiava e tocava no dela e os nossos sorrisos evoluíam na musica maluca que nos aturdia. A musica passou a uma quente e bela melodia onde as odes ao amor estavam perenes e os nossos rostos se colaram num afagar de peles e cabelos e os corpos tremeram pela primeira vez e a paixão do momento fez os seus estragos quando subitamente os nossos lábios se encontraram húmidos e frementes cheios de algo partilhado e o gemido soou nos meus ouvidos e palavras soaram arrastadas pela emoção, ou seria o desejo?
O momento aproximava-se do final e o end estava ali na música que se calara e nos nossos corpos unidos ainda sob o efeito dessa luxúria.
O abraço alargou-se como o seu sorriso e esse foi o momento do nosso adeus pois de novo ela sorria aquele sorriso, um novo corpo abraçou, com os movimentos retomados sensualizou... Ela era a menina da moda e todos giravam por ela pobre alma desafinada, era bela...sim era bela e muito mais...mas dentro dela trazia o vazio daquela chama que deixa a futilidade na estrada mas enche as nossas almas de algo inolvidável que vale a pena ser vivido e amado.

jorge d'alte

sábado, 5 de fevereiro de 2011

...A

... a porta chiou no seu repentino. Fora aberta de par em par e o ar ferido pelo gelo trazido pelo vento trespassou-me a pele arrepiando-me a nuca. Dois vultos pequenos entraram, dentro da sua correria gritando e gargalhando a sua alegria fazendo sair das suas bocas cansadas e abertas rolos de vapor. Os pestinhas rebolavam-se agora no chão numa frenética luta pelo vencer e eu vi-me contagiado nessa loucura entre pernas cambalhotas e rebolanços...
As suas vozes soam agora mais fortes e mais calmas. Passaram-se alguns anos desde que a porta se abriu e a amizade se fez como malha feita em agulhas manobradas pela mágica mão do destino. Agora somos adolescentes e os nossos olhares morrem na beleza e os nossos corações pulam quando encontram o beijo quando os corpos se colam dentro da musica que toca e nos enlaça no encanto dessa dança, quando a lua espreita e lá do alto lança seu manto iluminando nossos corpos suados pelo calor do amor.
Agora somos divididos cada um seguiu o seu rumo divergente, mas a alma arde com a mesma chama de sempre e a amizade é apelada quer nos bons quer nos maus momentos.
Os livros trouxeram-nos a sabedoria que até ali não tinhamos, que tragamos em muitas noites de palpebras caidas de cansaço, mas no fim uma parte do nosso sonho estava ali,e os devaneios de adolescentes tinham passado a elos prenhes de algo tão forte que a palavra mais bela soava ainda nos nossos ouvidos "Amo-te e prometo que ficarei para sempre a teu lado"
Como gostaria de voltar a esses tempos de criança e adolescencia, para viver de novo esses momentos intensos mas sem responsabilidades, tempos em que o futuro se abria e podiamos sonhar num futuro certo, nos filhos que teriamos e que tivemos no emprego que nos daria a segurança para toda a vida.
Agora luto não pelos meus sonhos que já estão no fim, mas por uma nova ordem que traga aos nossos filhos e aos nossos netos um pouco daquilo que usufruimos um dia e que o grande valor da amizade continue pois ela é talvez o amor mais puro e duradouro.

jorge d'alte