quarta-feira, 28 de setembro de 2011

DESESPERO

Rasguei essa lua no auge da raiva,
noites que me enfeitam a alma
agora no desespero.
Clamo na sombra esguia a tua chama,
- Maldita seja a brisa que te apagou!
Arranco à terra tufos de dor rouca,
ergo-os aos céus banhados de ranho e lágrimas,
essas sentidas da nuvem amarga
sufocadas no fel que ficou.


Jorge d'alte

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

TU ÉS SETEMBRO


Para mim é sempre Setembro !

A grande laranjeira cortava o calor com a sua frondosa sombra. A seus pés alheados de tudo os olhos mitigavam a sua fome no belo, traduzindo em expressões cheias de puro amor. Éramos ainda crianças e inocentes, mas a vida começava já a ferrar.
As promessas raiavam, como bocados de sol no meio das folhas agitadas pela brisa, e enchiam a nossa alma de um sabor diferente que nos tornava crescidos a cada passo dado. Eram os quinze anos e o despertar para algo mais sério e responsável. Traçávamos no curto espaço entre Tu e Eu os primeiros esboços de uma nova vida que queríamos partilhada em todos os sentidos.

Era outro Setembro, este mais frio e raivoso nas rajadas que trespassavam os nossos corpos.Mas o tempo não nos afectava pois a magia do amor fora algo inolvidável e deixara para sempre a sua marca o seu estigma e a união das almas.

Os Setembros passaram na vida como meses intermédios como preparação para a primavera que queríamos viver onde o nosso amor iria por fim ser renascer e florir preparando um verão onde as luas seriam fogo e o luar a nossa mortalha.

Mas o sonho morreu num Setembro abrupto onde o terror imperou no cutelo de uma morte inesperada que te levou e me remeteu ao inferno onde em redopios de dor e choque me perdi afundando-me nessa cor negra que me rasgava o coração. Mas sobrevivi fazendo-te viver de novo na minha alma, guardando para mim esse teu rosto sempre jovem que amo e as tuas palavras que muitas vezes me acordam na noite tirando-me um sorriso nesta máscara que me envolve pois por muito que me sinta feliz a dor está sempre lá, cantando a sua melodia algures debaixo da frondosa laranjeira arrancando à brisa a cor de um amor que nunca morreu.


jorge d'alte

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Página Vinte


A pele retraiu-se como capa de livro, guardando no âmago da alma toda a beleza de uma vida.Pudera ter sido mais bela, mais vivida mais preenchida? Sem dúvida que sim, mas por muito que queiramos controlar o seu rumo, a vida desafia-nos a cada instante e ao mínimo deslize pagamos duramente, pois só podemos aprender com os nossos erros. Entramos deste modo no mundo dos "SES"...

Página vinte o acabar de um lindo sonho...Se... a velha negra que tudo tira sem dó não existisse tu estavas porventura aqui sorridente e bela só para mim. Agora só me resta a saudade das recordações para te sentir e ver mesmo à luz do dia, mas é nas noites que mais te desejo e que tu vens ter comigo envolta no teu manto de luar, ou vestida de negro com estrelas rebrilhando ofuscadas no teu sorriso. Assim danço contigo nas estrelas do nosso céu, em nuvens fofas e viajantes que nos levam pelo universo dos sentidos, pelos sonhos que um dia foram idealizados para serem realidade.A partitura que regeria esses sonhos foi arrancada na brutalidade e a musica caiu solene e tenebrosa pela força de um destino que não escolhêramos mas tu serás sempre jovem nos meus olhos porque não envelheceste, enquanto que eu definho em cada olhadela num espelho que não mente... mas não morri! Luto por outros sonhos que me trouxeram partes de mim de que não abdico, que são o meu orgulho o meu amor a minha força para viver.
Abracei este novo sonho em amor numa outra sinfonia que se revelou bela e é com ela que percorro todas as notas em cada dia tirando delas o que há de mais belo.Sons que nos enchem de vida, mas algures cá dentro existe uma outra melodia, a tua que foi a primeira.

Jorge d'Alte