sexta-feira, 26 de abril de 2013








As feições não sorriam nesses tempos e os olhos eram feitos de medos, raivas e vontades.....

Em outros lugares vozes cantavam inebriadas para esquecer o inesquecível ... A saudade apertava os corações e homens choravam nas cartas que recebiam, nas fotos enviadas, nos filhos que nasciam nessas aldeias e cidades espalhadas que um dia tinham deixado para trás no ocaso da adolescência ...
Gritos agonizantes clamavam pela morte que não vinha.... Corpos suados de esforço e medo rastejavam por mato que não era seu e em picadas poeirentas, enquanto os estrondos das bombas choviam em estilhaços de dor e estropios.....

Na mesa de banquete, o  Cardeal das cerejas (Cerejeira) vestindo a condizer em tons de vermelho, sorvia o nectar enólico partilhando com os seus congéneres a fome do mundo, a dor dos fieis em promessas feitas de cera, pedindo ao Deus dele, aquele todo poderoso, mais fartura e indulgencia por aqueles que sabia longe e não voltariam mais.....Os gritos e a dor estavam muito para lá dos seus ouvidos ..... Havia o mar dos navegantes a separá-los e por isso os seus ouvidos faziam-se de moucos....

O novo gigante Adamastor, o ditador Salazar tinha por fim caído alguns anos atrás e a esperança morrera na continuidade daquele que o sucedera.

No gabinete do outrora sorriso maléfico de ditador, vivia agora o sorriso do apaziguador, que ora sorria e tirava, ora sorria e enviava corpos de filhos que não eram seus, mas de que era seu dono.... Os voluntários à força para a guerra dos outros e estes lá iam obrigados, deixando olhos velhos e novos caídos de rastos nos cais de partida, vozes finas suplicantes de Deus, vozes roucas de pais que nunca choravam.....e marulhar seguia juntamente com os golfinhos do Tejo o rasto do Niassa.

Em belén nun sunptuoso palácio havia um presidente que se tinha imposto na roubalheira eleitoral. Era o Almirante sem barco enfiado careca no trono da presidência com a sua Gertrudes.

Ó deuses, o seu sorriso velhaco clamava pelo exercito, pela aviação, pela marinha e pelos seus filhos da PIDE nesta hora de surpresa, indignação, medo, raiva, impotencia e aflição.....

Numa sala perdida nos esconsos aquartelados, vozes tinham murmurado baixinho.....nos olhos brilhantes havia decisão e vontade. Tinha chegado a hora do tudo ou nada.....Um futuro novo podia acontecer...." E Depois do Adeus " vibrava nas telefonias onde ouvidos avisados se colavam ......
Era a noite dos capitães que de rostos tensos abordavam os seus superiores.....

Nos quartéis vozes iradas discutiam.....Que ousadia era essa?  Que querer era esse que se impunha?.... E os capitães desse dia de Abril 25 davam a escolha a esses velhos de dragonas douradas e estrelas vermelhas: ou aceitavam o novo poder, as novas regras, ou eram presos. Passos marcharam, com armas e o povo acordava nos cercos que aconteciam um pouco por toda a parte. Grândola Vila Morena nascera na noite obra de um génio muitas vezes torturado, crescendo depois nas vozes do povo de mãos dadas pela primeira vez com as armas, agora recheadas de cravos vermelhos......

E assim aconteceu Abril.......A revolução dos cravos....

O meu rosto era jovem na altura, e vivera todas essas emoções ....no horizonte crescia a visão de uma nova sociedade feita de liberdade e democracia....

O tempo rolou , rolou.... e de novo vieram as sanguessugas..... a vingança há muito preparada....

Hoje os cabelos esbranquiçados não mentem. O ocaso dos dias aproxima-se, mas a voz clama indignada outra vez por um novo Abril...

Um novo Ditador cresceu em Passos e de mansinho a fome, a pobreza, a dor voltaram ás almas do povo.... Austeridade era a nova lei, substituindo a antiga ditadoriana "autoridade". O Portas efeminado e de nariz adunco, dá saltinhos  á direita , à esquerda e ao centro, soltando òs de contra, ou uis a favor...não quer perder o seu assento tão ambicionado e lambe ali e acolá,  não descolando o seu traseiro da cadeira do seu poder....O bailinho aquece nas rondelas e  em verganços como o da Madeira. Os dedos estralejam e pisca o olho à peixeira, beija a hortaliceira que tem o nabo na mão e sorri aos ciganos com sorriso azeitoso como essas fartas cabeleiras. Faz pela vida, insinuando que ele nada fez para que haja a tal "austeridade" que foi importada sem pagar direitos por uma "Troika Naziana" e refugia-se no longuínquo, em palácios de Sheikes das arábias, em mesuras amareladas de chineses, nos palácios de Brasília ora em países de língua Castelhana.....e que bem que fala..... .Quem sabe o que trará o amanhã!

Desta vez terá que ser o povo a impor a sua vontade .... as armas são a sua VOZ  e não necessitam de ser um Ronaldo para saberem chutar aqueles traseiros malditos de podridão, corrupção e ignorância.


Jorge d'alte




terça-feira, 23 de abril de 2013

O desespero corria do coração à boca e saia misturado com as lágrimas secas pois já há muito tempo que se tinham esgotado de danadas saltarem e não corriam no esgar dorido que desfigurava o rosto.....

O vento era calmo e macio como mãos que houvera! Murmurava baixinho numa ou noutra rajada contrapondo-se à violência das preces que corriam, essas sim desatinadas na angustia que mirrava os olhos, tornava o coração miudinho e esbranquiçava as mãos agitadas ora erguidas aos céus suplicantes, ora caindo desalentadas ao longo do corpo que definhava,  como planta onde  a seiva fresca e pujante dera lugar ao frio dos tempos que aos poucos amareleciam as folhas e os ramos ....

Outrora  fora a voz meiga e suave que empolgara o coração, que dera asas aos sonhos e me colhera na adolescência onde o horizonte parece sempre infinito e belo.....

Caído de rastos o rosto exangue recolhe os últimos lamentos do desespero guardando-os na alma. Veio a submissão  ao incontornável destino, a aceitação da realidade numa ultima blasfémia a um Deus implacável....

Tanto tempo passado e a dor de outrora é a dor de hoje. O desespero é o sangue que jorra da veia rota, tirando a vida em cada golfada arfante de ar....

Quantos horizontes trespassei sempre com a ânsia de ser o ultimo, aquele que me traria por fim a paz que tanto ensejo...o encontro de novo das almas separadas que se unem na eternidade....mas quê? Os meus passos cada vez mais trôpegos lá se vão arrastando no tempo, marcando em cada pôr do sol um novo renascimento para a vida que já não tenho......


Jorge d'alte