domingo, 28 de outubro de 2012

HALLOWEEN








Corro fugindo das trevas que aí vêem...
A noite ruidosa das luzes de neon coloridos e luminosos transforma-se de repente com o soar das doze badaladas... é a noite dos mortos vivos, do terror da escuridão, dos medos retidos nas entranhas da mente, das sombras que bailam na meia luz, dos corpos que se transformam ao luar...
Corro com batidas fortes do coração e no entanto não saio do sitio...
A sombra descola-se da escuridão sem som de passos nem brisa deslocada...está ali parada... esperando porquê?
Sacudo as pernas e peço-lhes desesperadamente que se movam, ou...
Lá fora um grito secou a noite fazendo desaparecer a luz de vez e a lua do céu...restolha a folhagem enrolada na vaga da brisa apoiando-se nos rebordos dos passeios, acumulando-se empilhada como o negro que invade a mente  das almas...
Olho para trás envolto no suor do esforço e no entanto sinto que não saí do sitio...as forças esgotam-se na constatação dos factos...
A sombra desliza pairando ali, olhando para mim...
- Quem és tu? Pergunta a minha voz arrepiada pelo frio que gela o sangue das veias...e num sopro murmuro infantilmente - Que queres de mim?
A lua entra em cena gorda como César distribuindo raios de luares por entre as nuvens que fogem...- Também elas? Penso!
A sombra desenha-se agora no contra luz do luar...dolorosa escorre lágrimas de sangue que escrevem na sua face esmaecida a agonia de quem um dia já foi e hoje não é...O corpo coberto de roupas negras  está suspenso fazendo vibrar os cabelos negros...a boca fechada está cosida como mordaça. Os olhos já não sorriem mas cantam a súplica...e sinto, sinto o chamar dessa alma partida, dessa alma que teve voz, chama e amor. Que beijou como garota, como amante...
Ergo-me do meu sono, do meu sonho impotente no chamar dessa alma e estendo as minhas mãos quentes e suadas até ás dela, pois vejo agora que é simplesmente uma rapariga...o toque dói num combate entre o calor e o frio, entre a vida e a morte, entre o querer e o desejo...e por desejar o ar explode num relampago súbito só sentido pelos corações e a paixão transforma-se no fogo, esse fogo que arde sem se ver e de mansinho se instala em cada célula...e o beijo corrói a mordaça como ácido e as línguas dançam a sua dança de rodopios entrelaçados como coreografia desenhada e a corrente move os corpos e a mente e lá no sitio em que se sente  sem asas voamos e ....

Jorge d'Alte

domingo, 21 de outubro de 2012






Os nervos corriam desesperados com os ponteiros do relógio retardados...havia tempos que a alma esperava pela luz que lhe devolveria a paz, aquele alento que tanto a seduzia e aconchegava pois era sinónimo de fluir de sentimentos...e o minuto que deveria ser minuto teimava  ainda em ser apenas segundo, escavando em cada traço ultrapassado uma ruga de ansiedade no rosto tenso e a caminhada era lenta como lenta era a vida percorrida na vasta planície vivida varrida pelos ventos ululantes do agora atirando-a irremediavelmente para essa saudade do passado. A luz acendeu-se no ecrã - será desta? A mágoa percorreu-a gelando o sangue e as entranhas...ainda não fora desta. A lágrima sacudiu o seu corpo, teimosa e agressiva e tropeçou no canto do olho caindo desamparada na madeira da mesa fria. As mãos da alma apertaram aflitas a cabeça tombada na desolação e na desilusão sucumbindo na amargura...Quanto tempo ali ficara estarrecida? Os ponteiros aceleraram, gritou a mente e os dedos trémulos e sedentos de boas novas tocaram ternamente na tecla preta que neutra estava á sua frente.O ecrã escrevia-se:
- Olá! Desculpa cheguei atrasada mas já estou aqui amor! Já tenho as minhas asas...
Os dedos apressados embaraçaram-se comendo letras enquanto que que a alma pulava de contentamento soluçando a sua alegria escrevendo:
- ..lá! Já naooaguentava...ais! Mais tranquila prosseguiu - quando chegas minha luz?
- logo que a morte me levar!


Jorge d'Alte

quarta-feira, 10 de outubro de 2012










Deixei para trás o ruído da musica maluca, das luzes coloridas de neon, os copos vazios. O mar batia solto em vagas murmuradas, por vezes iradas que corriam pela areia fora. Deixara ficar ali os contornos espumosos da sua fúria, lambendo os meus pés nus. Atrás de mim as pegadas  marcavam o meu passado, mas era no futuro que eu procurava os olhos que um dia marcaram a minha alma e ele estava ali um passo à frente do meu horizonte e não o conseguia alcançar. Olhei o céu seco crivado de pontinhos que me disseram um dia serem estrelas, mas que também eram almas douradas que subiam, subiam até Deus. A lua tinha espreitado das nuvens corridas momentos antes mas lobrigara tempestades e por isso se refugiara. Sentei-me na pedra milenar, lisa e limosa e escorregadia como a vida até ali. Chamei Deus sem voz, roguei-lhe o seu favor de coração ferido...os olhos fecharam-se na esperança e então voei. Eram asas o meu fervor, eram penas as minhas dores e o horizonte sorriu-me com a sua luz quando o dobrei e na curva descendente do sol que caía vi o seu rosto lindo iluminado afogando-me com o seu sorriso e os lábios caíram um sobre o outro no abismo profundo que evoca os sentidos e traz o amor...



Jorge d'Alte