domingo, 29 de julho de 2012

RENASCER


O comboio partia do cais onde ficara a sombra que se despedira. Já não correria mais, já não seria companheira, não seguiria os passos, já não cresceria na frente como passo no futuro. Vestiu-se de saudade, enfeitou-se com mil e uma lágrimas derramadas e esperou que o tempo a levasse para um qualquer canto da memória envolta no aroma das flores que jaziam caídas.

A alma despedira-se da sombra, arrancada pela raiz de um só golpe. A brisa negra viera sem som envolvera-a no seu manto formando um túnel escuro que a levou até à luz...

Quantas eternidades tinham passado? O corpo abraçara a alma quinze anos atrás e um turbilhão de mudanças constantes, de sentimentos que caíam como gotas e cresciam formando esse mar sem fim. Os desejos vieram depois com línguas de luxuria e rosas espinhosas da paixão que tomara conta.

A sombra erguera-se do pó do tempo e caminhara lado a lado com a alma, ajudando-a a cada passo na compreensão das coisas, na revelação de cada bocadinho que nela se aninhava e agora caminhava na sua frente dando cada passo no futuro transportando o corpo.

No caminho partilhado as sombras corriam lado a lado, as mãos deram-se dias antes e as almas brilhavam na cor da felicidade.


- Até quando?


Jorge d'alte




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