quarta-feira, 29 de maio de 2024

O MEU ABRAÇO

 Existe paz no meu abraço

como existe tempo que encolhe
e recolhe o melhor de todos nós.
Assim foi nessa tenra  primavera
quando chegaste com as flores como amigas
quando choraste só no teu canto em pranto
quando não tinhas rumo mas dor.
Escolhi-te no meio de lágrimas derramadas
com o meu sorriso como espada
Falei-te com bordados de amor os rendilhados
bebi o teu medo de estares só
num mundo intrincado e magoado.
Deite a luz da minha alma
beijei-te a testa e não nos lábios contorcidos
abracei-te  com deleite no acarinhar 
e insuflei-te a minha paz
nuns olhos radiosos de meio medo.


Jorge d'Alte

domingo, 26 de maio de 2024

OS OLHOS

 Os olhos eram olhos

eram dela eram meus
amaram-se na noite escura
entre beijos e escolhos
entre abraços de romeus
e caricias que a mão procura.
Eram olhos que se amavam
eram olhos  assustadores
eram poços de amor dorido
mas quando sorriam
eram lábios sedutores.
E quando eu os beijei perdido
fiquei rendido
fiquei amordaçado
com palavras no ouvido
com o sonho traçado.


Jorge d'Alte

COMO ESTRELA

 O céu está cheio de estrelas.

A lua não apareceu.
As sombras são muitas e aflitas
rodeiam os corpos que se amam
nas areias mortas junto ao mar.
As nuvens cavalgam entre elas
num ricto obsceno e degradante.
Amar para quê?

Deus chamou Adão.
Pediu-lhe uma costela e fez Eva.
A vida.

Adão cobiçou Eva.
O pecado.

Há amor quando dois corações se dão
enraizados na paixão
quando há bocas que se beijam
corpos que de tocam
prazer que nos enche
um vulcão que se abre em pernas abertas.

O pecado veio quando a maçã foi mordida
quando o primeiro filho nasceu
para a humanidade foi amor que aconteceu
foi assim que nasci e chorei.

Agora choro no teu ombro
deposito neles memórias.
Tento brincar com o tempo
no esconde esconde
mas a luz que me viu nascer
tremelica no céu aberto 
como estrela que ei-de ser.


Jorge d'Alte

CARTA AO MEU PAI

 Hoje gostaria de te abraçar

não com as lágrimas
mas com um sorriso.
Tão cedo nos deixas-te com a dor
tão cedo te tornas-te saudade.
Criamos memórias e laços
que bordei no pensamento
que  amei no coração
tantos dias claros que vivemos
onde alegrias se sobrepunham
onde as tristezas ficavam lá atrás
e onde o carinho era teu nome Pai.
Hoje mordo o tempo com raiva
o nevoeiro do tempo não te encontra
não me deixa chorar mais uma vez
muito menos sorrir e abraçar.
A saudade que sinto é um risco de luz
que me pica no coração
e por uns momentos insanos
sinto tua voz
vejo o teu rosto
dou-te a minha mão
consigo te abraçar
não com lágrimas
com o meu sorriso.


Jorge d'Alte

A MINHA DOR

 Eram vagas as vagas do meu mar

espumavam contra as adversidades
escolhos de tristezas que doem a valer
O coração sempre guarda
o que a memória não quer esquecer
e cá dentro na alma parda
sinto-me fenecer por não amar
embora houvessem raios de felicidades.

Tento agarrar as águas do meu mar
elas se esfumam batidas com o tempo degastado
Quando comecei a sonhar?
Quando acordei vergastado?
Eram pesadelos de ser rejeitado ou eram coros?
Coros de sentimentos sem raízes para a vida
prazeres que me abriam os poros
me faziam tremer na hora prometida.
Era amor esta dor?
Era a paixão frigida?
Tantas perguntas que esmoreciam sem cor
no meu mar vago sem partida.

Um dia amei
amei uma flor
um dia beijei
e é essa a minha dor.


Jorge d'Alte

FLAUSINA

 Ela era a flausina

gastava o espelho
com deboches de pinturas
cremes, rimeis e depilações.
Ela era o que era porque era bela
todos corriam por ela entre nãos e meio nãos
mas no intimo ela amava a apoteose.
Dançava alheia
no meio do fumo
copo na mão
coração seco 
sem emoção.
A noite correra lesta
sem beijos nem abraços
nem amigos
nem palavras de desperdício.
Houvera um momento
só um momento mágico.
Uns olhos olhavam-na irónicos
um corpo lindo engalgado
um sorriso bah! amordaçado
sem palavras ou gestos.
Sentira algo tão estranho
dentro dela algo despertara
seria o tal amor, a paixão que tudo traga?
Não o soube
fora um momento.
Depois veio o frio de novo
enregelou-a como vento caminhando
a tristeza e a mágoa doíam-lhe.
Depois ardeu num fogo sem se ver
uma voz encantou-a
o sorriso comeu-a
o beijo tropeçou no desejo
as mãos se deram.
A noite era brava com nuvens de descarga
soube que havia ali uma estrela e não era ela.
Amou-o entre lençóis brancos da cor da sua pele
beijou-o como o eco
seria um sonho?
Porque o agarrava?


Jorge d'Alte


TRETAS

 Onde estás sol?

Encontrei-o a marinar no horizonte
estava na ronha
em vez de alegrar os corações.
O patife estava prestes a fugir para o de lá
cobrindo-nos com um manto negro
deixando-nos o som monótono da solidão
num mar nervoso de sensações.
Eu sei que ele volta
como sei que ela volta
pois não é corpo nem alma
é apenas desejo
fragmentos soltos de um sorriso que vi
no crepúsculo que inventei.
Não era sonho era apenas nuvem franzina
era feita de lágrimas minhas
saudades de outras elas
que como o sol se marimbavam para ele
deixando-o num nimbo de mal amado.
Pronto tudo se acabou quando do sol nada restou
levando-me para a cama macia
pois sonhar era tudo o que me restava.



Jorge d'Alte

sábado, 25 de maio de 2024

A FLOR SOZINHA

 A flor sozinha

a flor tão bela 
que vive algures
agarrada á pedra
sonha nos sois
olhando esses mares
adormece nas noites
olhando os luares.

Contando estrelas 
como rosário de perolas
anseia na madrugada
pelo canto do galo
e já desperta  o dia abraça 
seus amantes deseja
que venham em graça
que lhe beijem as pétalas
que lhe suguem a doçura
e como travessura ela ama
e com candura ela agradece.

A flor sozinha
adorna no vento
agarrada á pedra
murcha no tempo.


Jorge d'Alte