domingo, 9 de junho de 2013






Era num frondoso salgueiro junto ao ribeiro que nós nos refugiávamos, ela de boneca de trapos nos braços, eu com um soldadinho de chumbo na mão....


O ribeiro cantava sempre uma canção desigual, mas nós lá encima nos galhos tenros como pássaros escutávamos maravilhados essa louca orgia e dávamos a mão....

As folhas outrora tenras e pequenas eram agora grandes e fortes. A seiva da vida corria corria nelas folgosa.....
Antes era o sangue que nos corria pelas veias alimentando o coração....
Agora eram sentimentos que nelas corriam encharcando-o num novo mistério, cheio de esperanças, duvidas, incompreensões, luxuria, paixão, amor... e os rostos sorriram lá no alto como as flores que entretanto cresceram e se abriam, e o beijo encheu os rostos colados trazendo sentimentos novos que se abriam em leques de arco íris a cada momento desfrutado....
A canção do ribeiro era nova, como novos eram os melros que pululavam na verdura entre chilrreios e bicadelas, entre esvoaçares provocantes e eróticos.


As folhas avermelharam nos ramos ressequidos e estaladiços.
O ribeiro corre lesto mas já não escuto a sua canção.....
Parte de mim  como braço decepedo desapareceu, num dia chuvoso em primaveras passadas onde as flores murcharam para sempre, levando de mim aquele rosto que amava e o sorriso que já não sorri....
O meu olhar lá do alto esboça um sorriso na tristeza, e o rosto crivado de mil e uma ravinas espera serenamente pelo ultimo sopro de vento, que arrancará a ultima folha espalhando-a nesse céu de Deus, nessa estrela que és tu.....
As pálpebras caiem do cimo desse frondoso e outrora risonho salgueiro.....o sonho encheu o meu peito como balão colorido de imensos sentires, trazendo-te até mim. num ultimo sopro e colhendo o meu ultimo sorrir....

Já não ouço a canção do ribeiro, já não escuto o murmurar das folhas do salgueiro, já não vejo melros pululando nessa verdura refrescante, apenas te sinto nesta eternidade que de novo nos juntou.....

Corremos agora nos campos da  imensidão de mãos dadas, colhendo estrelas como borboletas, e de novo sorrimos num só sorrir....


Jorge d'alte

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