Ainda o cheiro da sardinha assadas se misturava com o das
bifanas e costeletas de boi que chiavam no lume rubro protestando em vão,
quando a criançada se revolucionou em redor num frenesim cheio de gritos
empurrões e gargalhadas…..
O avô tinha ordenado na mesa da cozinha as várias peças de
fogo-de-artifício que seriam usadas nessa noite….
Primeiro vieram os fósforos coloridos fazendo arregalar os
olhos miúdos de cada um….Depois as estrelinha, mais tarde estouravam os
pirilampos e as bombinhas que se fraccionavam em outras mais curtas ao
estourare… .Andava tudo aos pulos tentando fugir desta ameaça, enquanto se
ouviam as vozes arreliadas das madames tentando impor cuidado e ordem na
barulheira……
Sentado, eu revivia tudo isto com saudade e um sorriso
dormente, um déjà vu que fora meu alguns anos bem atrás……
“ ……Os meus olhos olhavam amedrontados a balona que iria
desfechar na minha mão tiros coloridos de garridas cores e sons assustadores….E
assim sucedeu uma, duas, três vezes…. Como bem me lembro desses dias passados e
os cheiros dessas memórias, hoje perdidas pela modernidade….. “
Agora o avô colocava no solo o Vulcão, “ que lindo!”
Exclamavam mais os olhos maravilhados do
que as vozes mudas, depois eram os canudos de vários tamanhos que enchiam os
céus de miríades coloridas de fogo que descendo e estourando se desfazia no ar como
que por magia, por entre a fumarada e o cheiro da pólvora ardida. Agora pregava
no cabo da vassoura a girandola……como era gigantesca e bonita de se ver no seu
rodopio, largando fogachos de cores em várias direções…
A pequenada estava ao rubro enquanto as mães conversavam
soltando de vez enquando gritinhos assustados quando um estouro mais forte as arrancava
das falas e coscuvilhices….
O balão azul e branco das cores do nosso Porto subia
lentamente preguiçoso até ser açoitado por uma rajada de vento mais forte que o
abanou acordando-o agora numa subida mais rápida…..os gritos ressoavam na noite
“ sobe, sobe, Sooobeeee! “. Subindo agora vertiginosamente o balão não tardou a
juntar-se nos céus aos seus congéneres que cortavam a escuridão e as nuvens com
a sua luz de tocha ardente…..
Os passos levaram-nos mais tarde para a garraiadice e no meio de milhares, os alhos batiam com doçura nas cabeças peludas ou carecas,enquanto no ar dançavam refrões das músicas populares mais em voga…..a cidreira esfregou o meu nariz enquanto o meu alho malhava danado na cabeleira loira de uns olhos anónimos que com garridice me olhavam….e os sorrisos aconteceram como filme repetido vezes sem conta numa noite onde não há ricos nem pobres onde todos são iguais desde que sejam foliões e bem dispostos....
S. JOÃO NA CIDADE DO PORTO (fotos tiradas da internet)
Jorge d'alte
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