domingo, 23 de junho de 2013

S: JOÃO NO PORTO








 Era noite de balões coloridos navegando nos ares prenhes de nuvens e ventania…..
Ainda o cheiro da sardinha assadas se misturava com o das bifanas e costeletas de boi que chiavam no lume rubro protestando em vão, quando a criançada se revolucionou em redor num frenesim cheio de gritos empurrões e gargalhadas…..
O avô tinha ordenado na mesa da cozinha as várias peças de fogo-de-artifício que seriam usadas nessa noite….
Primeiro vieram os fósforos coloridos fazendo arregalar os olhos miúdos de cada um….Depois as estrelinha, mais tarde estouravam os pirilampos e as bombinhas que se fraccionavam em outras mais curtas ao estourare… .Andava tudo aos pulos tentando fugir desta ameaça, enquanto se ouviam as vozes arreliadas das madames tentando impor cuidado e ordem na barulheira……
Sentado, eu revivia tudo isto com saudade e um sorriso dormente, um déjà vu que fora meu alguns anos bem atrás……
“ ……Os meus olhos olhavam amedrontados a balona que iria desfechar na minha mão tiros coloridos de garridas cores e sons assustadores….E assim sucedeu uma, duas, três vezes…. Como bem me lembro desses dias passados e os cheiros dessas memórias, hoje perdidas pela modernidade….. “
Agora o avô colocava no solo o Vulcão, “ que lindo!” Exclamavam mais os olhos maravilhados  do que as vozes mudas, depois eram os canudos de vários tamanhos que enchiam os céus de miríades coloridas de fogo que descendo e estourando se desfazia no ar como que por magia, por entre a fumarada e o cheiro da pólvora ardida. Agora pregava no cabo da vassoura a girandola……como era gigantesca e bonita de se ver no seu rodopio, largando fogachos de cores em várias direções…
A pequenada estava ao rubro enquanto as mães conversavam soltando de vez enquando gritinhos assustados quando um estouro mais forte as arrancava das falas e coscuvilhices….
O balão azul e branco das cores do nosso Porto subia lentamente preguiçoso até ser açoitado por uma rajada de vento mais forte que o abanou acordando-o agora numa subida mais rápida…..os gritos ressoavam na noite “ sobe, sobe, Sooobeeee! “. Subindo agora vertiginosamente o balão não tardou a juntar-se nos céus aos seus congéneres que cortavam a escuridão e as nuvens com a sua luz de tocha ardente…..

Os passos levaram-nos mais tarde para a garraiadice e no meio de milhares, os alhos batiam com doçura nas cabeças peludas ou carecas,enquanto no ar dançavam refrões das músicas populares mais em voga…..a cidreira esfregou o meu nariz enquanto o meu alho malhava danado na cabeleira loira de uns olhos anónimos que com garridice me olhavam….e os sorrisos aconteceram como filme repetido vezes sem conta numa noite onde não há ricos nem pobres onde todos são iguais desde que sejam foliões e bem dispostos....







S. JOÃO  NA CIDADE DO PORTO  (fotos tiradas da internet)


Jorge d'alte

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