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quarta-feira, 24 de julho de 2013
Rastejava no chão tentando apanhar as lágrimas caídas.
Já nem sei porque chorei um dia, só sei que quero chorar agora e já não tenho mais lágrimas, nem olhos marejados, só trejeitos faciais.....
Que ridículo tinha-me dito o espelho; toca a apanhar essas lágrimas, pérolas cristalinas por aí perdidas na miséria da tristeza e da saudade.
Embarquei um dia na barca dourada levando nos olhos um rosto que invejo, um cabelo rubro fulgindo no vento, uns lábios rubros feitos de desejo e na crista da onda quando toquei o céu olhei em redor.....
O mundo era meu e eu um velho, caminhando sobre a padiola de servos meus...sorrisos pagos com o peso do ouro e secos de sentimento.
Por todo o lado havia horizontes com o meu nome escrito em espumas variadas, havia cofres com tesouros guardados....havia segredos há muito desvendados, traços em papel pardo que tentara dar forma, mas ficara-me sempre por um " mais tarde faço".......
E a onda baixou arrastando-me pobre velho já alquebrado, sentado na soleira da vida sem rumo traçado sem brilho nos olhos mortiços, apenas esperando.....
Por isso rastejo no chão apanhando as minhas lágrimas.. Quero chorar de novo como leite derramado, voltar a olhar para esse rosto que invejo, esse cabelo sempre de fogo aceso e refulgente ao vento, esses lábios que desejo.....
Enterrei na praia esconsa a teia tecida durante toda uma vida. Saí do meu casulo de fios dourados que entretiveram o fulgor dos olhos ofuscando-os com nascentes e poentes deslumbrante secos de nadas, peguei nas conchas como tesouros novos e atirei-as ao ar e como cartomante de destinos li os caminhos.....
Por isso tento apanhar essas lágrimas perdidas para as poder entretecer num mágico colar que coloquei nos teus alvos ombros depois de voltar a chorar.......
jorge d'alte
(Fotos retiradas da net)
domingo, 14 de julho de 2013
O PRIMEIRO DIA
O grande espelho descansava soturno na alva parede do quarto......
Defronte dele o rapazito remexia no cabelo, aperfeiçoando a
alta onda dourada que teimava em se desfazer na brisa suave que entrava pela
janela.....depois ensaiou o sorriso que saiu aparvalhado para seu grande
desgosto." como poderia sorrir para ela assim desta maneira? ". O seu
rosto ensombrou-se com a tristeza que nele se entranhou revivendo momentos e momentos passados onde
todos troçavam dele, no caminho para a escola, na escola....
Era alto para a idade, magro e escanzelado....olhos azuis
profundos fixaram-se no espelho algo
trocistas....Depois de súbito dando-se conta do que fazia lançou-lhe um esgar ameaçador e decidido pensando:
" Se eu próprio me desdenho como é que os outros não hão de troçar de mim? "
Algo lhe chamou a atenção num sobressalto.....era um ponto
peludo que despontava como sol no
deserto..."que fazia aquilo ali em plena face.....e a sombra fugidia que
recortava o seu lábio superior....não podia estar a acontecer-lhe isto
agora...Não podia mesmo, quase gritou.....como poderia olhar agora para
ela?"
Encolheu os ombros numa muda aceitação dos fatos. Eram horas
de sair e meter os pés ao caminho....pelo meio apanharia umas flores silvestres
para levar.....Deu um ultimo retoque na teimosa onda de cabelo e ajeitou melhor
a T-shirt azul....apertou os seus calções e verificou os seus
ténis....pareceu-lhe tudo em ordem e por isso girou os pés abriu a porta do seu quarto, desceu
as escadas e lançou no ar um " até logo mãe".
Atravessava o mar de verdura sem fim.....Flores e flores cresciam ali selvagens desafiando o olhar como gritando que eram as mais belas entre as mais belas....parecia que o seu caminho se enfeitara de propósito para ele, oferecendo-lhe de bandeja a beleza selvagem e acenavam-lhe quando a brisa corria mais lesta.... ele baixava-se de vez enquanto sobre o sol tórrido e colhias-as uma a uma lançando um sorriso e murmurando na brisa mudos pedidos de desculpa.....mas era por uma boa causa.....
Atravessava o mar de verdura sem fim.....Flores e flores cresciam ali selvagens desafiando o olhar como gritando que eram as mais belas entre as mais belas....parecia que o seu caminho se enfeitara de propósito para ele, oferecendo-lhe de bandeja a beleza selvagem e acenavam-lhe quando a brisa corria mais lesta.... ele baixava-se de vez enquanto sobre o sol tórrido e colhias-as uma a uma lançando um sorriso e murmurando na brisa mudos pedidos de desculpa.....mas era por uma boa causa.....
Por fim o seu ramo estava perfeito e ele cantarolou enquanto
saltitava no carreiro serpentino que o levaria ao outro lado da pequena
aldeia......
Ao longe a torre do sino tocava badaladas sonoras lançando o
pânico na passarada que esbracejando voou.....eram horas de chegar como fora
combinado....Mais uns minutos e estaria lá.....
Quase correu os poucos metros que o depositariam no adro da
velha igreja de pedra rude e fria.....
O pânico tomou conta dele...".onde estaria? Não a via
em lado nenhum.....esqueceu-se!"
Quase soluçou.....
A fita vermelha adornava a estrada.subindo a dolorosa
íngreme ladeira de pedra partida....apertava na cintura o vestido de creme
suave que esvoaçava.....seus olhos semicerrados abriram-se finalmente num longo
sorriso e espanto e o ar silvou saindo aliviado dos seus pulmões.....Uau! O longo
cabelo avermelhado flamejava no andar e trouxe-lhe até ele o rosto sardento que tanto
amava.....
Com a mão segurando o ramo atrás das costas o rapazito
corou quando ela se postou na sua frente
expectante e sedutora.....sorriu lhe como só ela o sabia fazer e derreteu nesse momento todas
as duvidas, todos os receios que o afligiam.
A sua mão estendeu para ela as flores selvagens que colhera
e que agora pendiam murchas na sua mão....ela pegou nelas
sorridente....cheirou-as, beijou-as, deu-lhe a outra mão e caminharam de mãos
dadas ao encontro da porta da igreja.....galgaram os parcos degraus e entraram
na grossa e cinzenta arcada....
Duas figuras minúsculas soavam nos passos que cortavam o
pesado silêncio.....Há volta deles figuras esculpidas na pedra e estátuas
contemplavam-nos à luz das velas incendidas e tremelicantes...A imensidão
daquele espaço esmagava-se sobre eles enlaçando-os no frio sepulcral que nunca
vira luz nem sentira calor. Mas tudo isto era alheio aos pequenos vultos que
percorriam a nave central, levando no rosto o que as almas sentiam.....
Ajoelharam-se junto ao alto altar de mármore branco, iluminado por alvas velas e coloridos de vitrais e rodeado do esplendor dourado de antiga talha pintada e trabalhada..... nichos e nichos de Santos sem nome para eles, aninhavam-se por ali com semblantes sisudos ou em ares doridos.
Rezaram juntos ao Deus todo Poderoso e pediram que
abençoasse o seu amor e uniram-se nessa comunhão.
De pé ele olhou-a uma vez mais, perdido naquela beleza que o
cativara desde sempre ....os rostos aproximaram-se e os lábios sorridentes
colaram-se pela primeira vez húmidos e trementes....os braços se abraçaram......os corpos foram
fustigados por intensas emoções e sensações e
sonharam.....
A lareira brazida acalentava dois vultos vergados sentados em pequenos banquinhos de madeira de
pinho. Ela descascava batatas de sua horta segurando-as nas suas mãos
artríticas. Ele de óculos na ponta do nariz rabiscava num papel que já fora
branco, linhas de palavras que faziam sentido, cheias de ternura, cheias de
emoção, afinal contavam uma história simples, a história das suas vidas....
Levantou os olhos cansados uma vez mais, admirando a sua companheira de toda uma vida. Já não
havia mares de flores por ali para fazer raminhos, nem forças para
saltitar....havia sim aquela harmonia singela de quem tudo soube alcançar na
vida. Ela ensinara crianças como eles tinham sido outrora, ele escrevera as
gotas da sua alma e criara livros cheios de amor e sabedoria....Os poemas que
desenhara em estrofes e rimas guardara-os para ela, pois eles continham os elos
que os uniam......
Num canto sombrio o padre sorria.....era sempre lindo ver um
amor puro, inocente e verdadeiro....o seu rosto franziu-se quando pela sua mente perspassou a inquietante pergunta; " e o futuro como será?"
Será o que Deus e eles quiserem pensou, arrastando os seus
velhos passos para o interior da sacristia.....
jorge d'alte
sexta-feira, 5 de julho de 2013
Nasci e vivi dentro do meu casulo dourado!
Nasci e vivi dentro do meu casulo dourado!
...........................Estou de rastos como cobra ondulando na lama esverdeada dentro da minha dor venenosa que aos poucos se insinuou no meu espírito, na minha alma....
Não fora preparado para esta aventura onde nada é dourado, onde a dor tortura e perfura e não temos meios nem remédios para ela. Mas perguntas - então porque tens os olhos secos?
Olho aparvalhado tentando encontrar esse som que não é, essa voz de adeus, mas respondo na mesma - Porque a dor é tamanha, porque me aperta o coração, me esmaga os sentimentos, me embarga a voz e me estrangula o caminho das lágrimas.....queria que fossem rio turbulento que me arrancasse este pavor no seu correr, as dores que dóiem para caraças e as levasse consigo para longe , para um mar distante onde pudessem ser afogadas.....mas os meus olhos não choram, só sangram sem cor, corroídos e desfocados e por isso não te encontro, não te sinto, não....
Que faço eu aqui erguido na escuridão destes olhos perdidos, desta alma quebrada, mergulhado na mágoa do berço dourado onde o sol nascia sempre todos os dias e lua era minha na luxuria louca de amante.
Percorro as sombras que se movem comigo e se cruzam vadias e apressadas, lentas e escravizadas naquilo a que chamaram um dia a "azafama da lufa lufa diária"......
Senti o toque sem ver, ainda cego no horror, carcomido por dentro até ao tutano como oliveira milenar que vira um dia perdida solitária na maresia solarenga dos altos campos
....
E o sol raiou de novo, e o coração acelerou.....
Olhei em volta nas trevas caídas e rasgadas e como chama nascida de cinzas incolores, os lábios sorriram e colaram-se docemente aos meus......
Depois de tantos anos o beijo ainda está lá, não secou e os meus olhos choram por fim, não a desilusão e a dor, mas sim a felicidade e o teu sabor........
jorge d'alte
(Algumas das fotos tiradas da internet)
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