
Foto de Meteopt.com
O pássaro saltitava de raminho em raminho debicando na sua alegria, algo para dar aos seus filhos. O meu olhar de pesar amargo e doce, sorvia toda esta pulsante vida.
Um cantar mais estridente levou-me a erguer o olhar e na liberdade da brisa levantada, o coro chilreava o cântico da fertilidade e dois melros voavam e esvoaçavam traçando na madrugada crescente, um rumo para a sua vida. Mas tal como entre nós, a fêmea fazia-se rogada para desespero desse conquistador e apesar dos constantes contactos de bicos ela fugia, ele voava desesperado, ela esperava por ele encantada, mas como danada, quando ele erguia o bico, ela batia as asas e agora no cimo do fio eléctrico cantava uma canção mais romântica...mas o melro de bico amarelo já não ia na sua cantiga e virava costas a esta melodia e em saltinhos e bateres de asas, manifestava o seu descontentamento. Abanando a sua cabeça e rolando os olhitos aflita a fêmea voou na direcção do seu par e desta vez bicou numa suave ternura e juntaram as suas asas em bateres descompassados até acertarem o ritmo. A fêmea ritualizou um primeiro esvoaçar de encorajamento chilreando pelo seu amor e este após um momento de hesitação bateu suas asas decidido e pousou de mansinho junto da sua amada. Na ponta do raminho chilreavam juntos numa conversa animada, tinham jurado essa fidelidade que nós humanos tantas vezes traímos. Saltaram no vazio e apanhando o ar subiram, asas pretas e castanhas unidas. O caminho era para ali. O futuro era deles e na liberdade dessa madrugada as gotas orvalhadas eram pérolas e não lágrimas.
Com a minha mão em concha recolhi na minha palma, algumas dessas pérolas, com ela fiz um colar e fechando os olhos revi nos rios do meu sonho a face doce e adorada daquela que me dera ao mundo. Estendi os braços aos céus e com saudade estampada no meu olhar chamei teu nome Mãe e dei-te como presente pérolas cristalinas cheias do meu amor.
Jorge d'Alte