O olhar estava deitado nas
ferventes areias douradas da praia. Embora dolente e letárgico estava atento e
predador, fazendo calmamente a sua triagem.
À sua volta rostos misturados com corpos, soltavam
gargalhadas, risos, palavras… a bola saltava de rosto para rosto quer nas
pontas dos pés, quer na ponta do dedos ou numa qualquer raquete...
O olhar fazia parte de um rosto e tinha olhos azuis…
A água eivada de espuma
alongava-se ameaçadora enrolando gãos e grãos de areia nas suas intermináveis voltas
onduladas e os cinco olhares moviam-se por ali vogando e espreitando por de
cima da ondulação. A bola também lá estava vogando na crista da onda até a mão
a agarrar. Estivera antes movimentada no areal, nos pés de quatro olhares,
voando airosa e rodopiante de pé para pé entre risos, gritos e impropérios.
O olhar de ar soturno, mastigava
na mente uma melodia nova que tecia, acompanhada pelos risos de brincadeira dos
outros quatro olhares que permanentemente se cruzavam reconhecidos numa amizade
que era deles.
O olhar era solitário mergulhado
nas trevas de uma tristeza interior que ensombrava o rosto dele. Não procurava
a vida, antes fugia dela. Não tinha o futuro brilhando na menina dos olhos, nem
tudo aquilo a que chamam sonhos que já eram. Apenas percorria talvez os últimos
metros de uma vida. A sua alegria que gritara muitas vezes no seu olhar ficara
perdida algures numa esquina ou viela e numa encruzilhada por aí nascera a fera chamada
tristeza, saudade, mágoa ou filha da puta. Era feita de dor, aquela que dói
por dentro e nos perde, aquela que renasce a cada lembrança, a cada ida ao
passado.
O olhar uma vez mais mergulhou na
água tépida passando por de baixo da onda gigante e escorregadia, trazendo à tona um novo arfar, um sorriso triste e uma nova nota para a melodia…
A nota saiu fortemente dissonante.
Perante ele um dos quatro olhares
estava fixo no dele, num meio sorriso, numa meia promessa…
OooH!
Murmurou o olhar preso
nessa teia imensa e sem fios.
Era um rosto lindo que ali estava
perante ele, cheio de mistérios, ternura e de sorrisos. Era talvez a nota que o
olhar procurava para terminar a melodia ensaiada.
Jorge d’alte
(fotos retiradas da net)
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