quinta-feira, 10 de junho de 2021

PREMATURO

 

 

A Lua mordida brilhava no seu quarto

Era a testemunha!

Num recanto recôndito entre a flor e a folha

Sombras suavam deslavadas na alvura

Estavam agitadas na noite sem brisa

Como searas endoidecidas na ventania

Costas encrustadas na areia que picava insensível

Beijavam como beija-flores mamando

O néctar devia ser bom

Pois as palavras caídas eram doces, efervescidas

Rolaram agarradas soltando-se entre gemidos.

A nuvem cremosa acorreu esbaforida

Tapou os olhos da Lua, sua perdida

Também ela era testemunha.

Vai ser agora, murmuravam quietas árvores, arbustos

Até a flor que no alvor se abria.

O sol veio lampeiro na ajuda aquecendo.

Na areia junto á rocha e ao monte

A mãe aconchegava o prematuro.

 

 

Jorge d’Alte

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