O comboio partia do cais onde ficara a sombra que se despedira. Já não correria mais, já não seria companheira, não seguiria os passos, já não cresceria na frente como passo no futuro. Vestiu-se de saudade, enfeitou-se com mil e uma lágrimas derramadas e esperou que o tempo a levasse para um qualquer canto da memória envolta no aroma das flores que jaziam caídas.
A alma despedira-se da sombra, arrancada pela raiz de um só golpe. A brisa negra viera sem som envolvera-a no seu manto formando um túnel escuro que a levou até à luz...
Quantas eternidades tinham passado? O corpo abraçara a alma quinze anos atrás e um turbilhão de mudanças constantes, de sentimentos que caíam como gotas e cresciam formando esse mar sem fim. Os desejos vieram depois com línguas de luxuria e rosas espinhosas da paixão que tomara conta.
A sombra erguera-se do pó do tempo e caminhara lado a lado com a alma, ajudando-a a cada passo na compreensão das coisas, na revelação de cada bocadinho que nela se aninhava e agora caminhava na sua frente dando cada passo no futuro transportando o corpo.
No caminho partilhado as sombras corriam lado a lado, as mãos deram-se dias antes e as almas brilhavam na cor da felicidade.
- Até quando?
Jorge d'alte