A
noite batia negra nas vidraças da janela do quarto de Emília. Há quanto tempo
rumava ali noite após noite, pois só na escuridão se consegue ver as estrelas.
A brisa revolta em assomos de impaciência acariciava e revolteava os cabelos de
Manuel espicaçando-o, tentando despertá-lo do pesadelo que o consumia.
Sinto tanto frio! Eu sofro tanto neste vazio que sinto cá dentro e no
entanto compreendo o meu destino, pois vivi um amor como ninguém e tê-lo-ei de
volta no fim dos dias, no começo da eternidade, embora sonhos ruins me consumam
na noite, quando te desenho nas sombras e tu vives nos meus olhos num sonho
acordado. Há muito que vaguei-o pela noite solitário, onde tudo é escuro, pelo
menos deste lado…e tu, amor onde estás agora? Por mais que olhe e te procure no
nosso céu, não te vejo e não te ouço, mas sinto-te embrulhada na saudade que me
acomete cada vez mais espaçadamente…será isto o que me contaste no teu fim? Que
o tempo te levaria na bruma e que quando ela desaparecesse outro rosto estaria
ali à minha espera para me dar nesta vida a felicidade truncada que não me
pudeste dar? Sinto tanto frio e a alma morre na míngua sem a tua seiva para me
animar…Abre-me a tua janela amor! Deixa cair o teu sorriso sobre mim como raios
dourados de amor; faz com que os meus olhos cansados e secos chorem a nossa
alegria de novo…ou então deixa-me entrar por ela para te poder abraçar para
sempre…
- Manuel! – Que fazes aí? – Vem para dentro…Chamou a
sua mãe preocupada e com pontos brilhantes assomando aos seus olhos.
jorge d'alte
(enxerto do meu novo livro)
Sem comentários:
Enviar um comentário