- Desculpa
mas não consigo conter-me…mas eu estou aqui contigo e só por ti meu amor…só não
consigo compreender tudo isto que nos aconteceu…foi tão diabolicamente rápido…
-
Há doenças que quando se manifestam ou damos por elas já não têm remédio nem
cura. Tentei lutar contra ela por ti meu Manuel, mas ela é mais forte do que eu
e sugou-me quase toda a minha vida deixando apenas este farrapo, mas consegui
travá-la até há tua chegada. Queria voltar a ver-te, sentir-te…despedir-me de
ti e partir com a imagem do teu rosto e o calor da pessoa linda que és…amo-te
muito, como nunca pude imaginar ser possível…todo este tempo juntos foi como
viver num casulo cheio de felicidade, onde eu e tu nos completamos como um
único ser, um grão de poeira neste universo do sentir e o nosso amor foi grande
e transcendente quase a perfeição… sabes, tenho uma última vontade a pedir-te? -
Escuta bem o que te vou dizer agora - eu sei que há alguém que te ama muito
para além de mim… promete-me Manuel, que quando estiveres preparado e a
conseguires descobrir, tudo farás para a fazer feliz e seres feliz também. Onde
eu estiver velarei por ti e esfumar-me-ei na altura devida para te dar um novo
espaço…um dia quando a altura chegar voltaremos a estar juntos, prometo-te! …
Gostaria que um dia quando a luz também se apagar nos teus olhos, queimassem os
nossos ossos e misturassem as nossas cinzas… agora beija-me rápido…
Manuel
foi arrancado do seu torpor pelas palavras ansiosas e aflitas de Emília e
debruçando-se sobre ela, encontrou os seus lábios arroxeados abertos para ele.
Durante uns minutos sentiu uma força devoradora que encheu a sua alma de uma
paz inigualável, enquanto as mãos se apertavam como num último espasmo de força
e de vida. Sentiu de súbito o aperto afrouxar e o seu nome ser pronunciado num
último alento, como brisa de vento que passa, nos refresca e não volta mais –
Manuelllll!
Soubera nesse momento que tudo tinha acabado.
Sonhos e sonhos ruíram como castelos de areia. Emília partira e gritou alto o
desespero que lhe ia na alma; toda a sua frustração, toda a sua ira e raiva,
virado para o crucifixo que havia na parede por cima da cama onde jazia a sua
amada. Depois almas caridosas entraram de rompante e levaram-no para a salinha
onde o sentaram num pequeno sofá. Encontrou ali os seus amigos que o rodearam
abraçando-o em silêncio. Exerto do meu novo livro........
jorge d'alte
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