sexta-feira, 27 de maio de 2011

...SERÁFICA

...Seráfica veio com pezinhos de lã.
Abriu a porta e espreitou. O olhar misturou-se nas sombras esquivas, que ora pareciam monstros caindo sobre os ombros, ora pareciam estrelinhas desafiantes em noites de lua nova. E ali estava a cama, qual barco flutuando nas ondas cinzentas do escuro, onde o branco dos lençóis convidava.
Estendido o rapaz sonhava.
Os passos ardentes correram suaves mas pungentes no desejo e ela estática olhava a forma indistinta com ratinhos na barriga. Ela tinha a idade que tinha e um corpo de mulher, pelo menos assim pensava, mas para isso queria que lhe matassem aquela fome que não era da barriga.
Levantou o lençol com cuidado e enfiou-se no seu calor agradada. Agora havia um novo filme para rodar. O seu olhar incendiara-se de excitação. Seria que o rapaz a quereria?
As mãos foram impelidas pelo coração e os dedos passavam suaves naquele rosto que picava. Murmurou um nome que gritou no silêncio, sussurrou palavras mágicas de ternura.O seu corpo colou-se como ventosa e depressa sentiu o arrepio que a invadira. Sua alma partira para novos céus apenas imaginados e nunca sentidos. Como era bom! E o suspiro correu-lhe até á garganta onde foi som.
As mãos descontrolaram-se. Que estava a fazer?
E o olhar do rapaz fitava-a na escuridão sem dizer palavra. Quem seria que o amava no sonho, ou era realidade? Sacudiu a cabeça sentindo algo forte percorre-lo e a luz acendeu-se no seu olhar, era realidade e tomado por emoções sem nexo abraçou aquele corpo, franzino de longos cabelos e pele tão suave. também as suas mãos saltaram ávidas como sorrindo e percorreram altos e baixos explorando, e os lábios eram canção, sinfonia sem notas nem pautas, apenas de cores sentidas e vibrantes. E tudo aconteceu! A moça transformava-se a cada momento, agora era mulher vivendo o primeiro sonho realizado num ato convicto de mordente amor.
A sua mente não pensava, mas o seu coração perguntava - E depois?


Jorge d'Alte

quarta-feira, 25 de maio de 2011

...RENUNCIAR


...Renunciar!
É a palavra que já pronunciei várias vezes, principalmente quando a minha alma se enfeita de cinzento e o sol não brilha e a brisa é vento varrendo do meu blog aqueles que eu queria escutar, que queria sentir, que me dão alento.
E tudo porquê? perguntam os vossos olhos desdenhosos...talvez não tanto assim, maybe curiosos...espectantes...Sim porquê? pergunto-me eu.
Não é que não tenha os ditos seguidores...não é que não comente os que sigo, è apenas porque não tenho eco na volta o que me faz pensar: para quê escrever aqui se o que encontro é silencio...pois é!
Eu sou gémeo (signos claro)e aí está o busilis da questão - dois em um - enquanto a razão diz-me, acaba com esta treta o outro o coração diz-me - e esses amigos que fizeste que te lêem (tenho mais de 5000 entradas)- lá está a porra da razão dizendo: mas são mudos PÁ! e o coração encolhe-se, revolve-se e ergue-se de novo forte e lutador.Mas que te interessa isso se o que eu quero é esse amor essa amizade essa fonte de aprendizagem, essa ponte entre o "Eu" e o "Tu"
hahah! E que aprendeste afinal?
Apenas a ser mais, mais do que tu, razão...

Renunciar; talvez seja efectivamente a hora certa.

jorge d'alte

terça-feira, 17 de maio de 2011

...QUE

...Que coisa é essa que me afaga o peito e por direito se entrega a mim?
No procénio como bela actriz ensinaste-me a ser actor. Mil caras desenhei em feições de amor, de desejos, emoções, dor...
Qual foi a mais bela? Perguntaste-me com o sorriso com que me cativaste.
Mãos estão suaves como borboletas beijando a flor.
Lábios de paixão vestidos, tiram-me o néctar da alma. Depois veio o sonho, que como gostoso etílico me inebriou e a pele corria liquida, desvairada, atirando-se da ravina, caindo com estrondo salpicando a gota, meu rio cheio que extravasa as margens da minha alma.
Que coisa é essa que me afaga o peito?


Jorge d'alte

domingo, 15 de maio de 2011

...POIS

...Pois foi assim que tudo começou!

" Desabotoou-me o casaco, despiu-me e massajou-me a nuca.Fechei os olhos e senti a tensão começar-se a dissolver sob a suave pressão dos seus dedos. tirou-me a gravata e depois foi a vez da camisa. Empurrou-me para trás e começou a desabotoar-me o cinto.Deixei-a prosseguir até ao fim. Senti-a levantar-se, ouvi o roçagar do tecido, entreabri os olhos e vi-a nua e sorridente.
- não te mexas!
Fechei outra vez os olhos e afastei todos os pensamentos do espírito.
O tempo passou em círculos lentos e indolentes até tudo se dissolver numa espiral explosiva que nos deixou ofegantes.
Em cima da mesa o telemóvel começou a tocar...
Estendi o braço para pegar...o beijo colheu o meu gesto.
A água corria erótica sobre peles esticadas, sensuais e dadas".


jorge d'alte


Jorge d'alte

domingo, 8 de maio de 2011

...ONTEM


...Ontem pairou um vento suspenso.
Ninguém vê a cara desfeita em lágrimas
há um inferno que queima
e deixa brasas que estralam na alma.
Essa negra que te beijou
levou-te a vida nesse beijo,
deixando um tosco corpo sem sopro
velado ás luzes das velas,
enfeitado de rosas e malmequeres,
sem borboleras azuis e amarelas
nem cantos de pássaros desafinados
de bicos risonhos em vez de dourados.
Triste primavera foi essa onde o mundo parou,
onde a mágoa cresceu,
caratatas do desespero e da desolação.
A saudade trouxe de volta esse cheiro perdido
esse calor ardido quando se abraça e ama.

Jorge d'Alte

quarta-feira, 4 de maio de 2011

...NOSTALGIA


...Notalgia! Moça refeita bem moldada no nosso espírito, vestes do passado em tons de presente. Botões de sentimentos que se arrastam no tempo, ditos que não foram como não foram prescritos e ali vogam nos "SES" desta vida e o talvez tentando acasalar para nos lixar a mona. Gostava de voltar a um utópico mar de rosas onde fosse impossível sofrer mas viver os sonhos como eram e não como foram ou se tornaram.

" A roupa desfolhando no luar morno do verão. A carne crua retesada nos arrepios da candura, as mãos naufragas vasculhando esse mar de pele, as bocas murmurando nas sombras da noite poemas que a brisa levava, os lábios que como crias sedentas procuravam as mamas do beijo, o encontro ávido do primeiro beijo, o caminhar cambaleante na virgem que foste o deleite que se sente na primeira vez o abraço que se segue no espaço em que se sente a verdade pura da palavra amar"


Jorge d'alte