sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

ACREDITAR

 Fui a uma loja de sonhos

deram-me em novelos
no desfiar havia só pesadelos
de saudade de olhos tristonhos.
Procurei onde estava a felicidade
vasculhei, veias, memórias, sorrisos
em sentires misos.
não a encontrei por ali na minha voracidade.
Caí
como o tronco cai
retumbante sem retorno
fiz desse desterro o meu trono.
Era soturno e sombrio esse lugar 
a luz fugia antes de a agarrar.
Lembrei-me da lua
essa personagem sempre nua
diziam que era dos amantes
lembrei-me que já amara há uns instantes.
Fora num tempo louco desgarrado
senti que o amor estava no coração
sempre estivera lá ardente como furacão
senti a felicidade nesse corpo amarrado.
Depois foi madrugar os olhos
sentir o mundo fervilhar sem escolhos
sentir o mundo palpitar
lembrei-me de lábios para beijar
de sorrisos
dos risos
lembrei-me como se viver
era  sempre andar e aprender
por isso andei
em algum instante acreditei.


Jorge d'Alte
   






segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

PARA TI MÃE

Para ti com amor
escrevo esta imagem
é véspera de Natal
a lareira acesa
a mesa posta
eu sentado á tua espera.
Choro sem lágrimas
a tua saudade
talvez um dia me encontres
para lá do tempo
horizonte que traço
como abraço.
Para ti com amor
que me deste vida
falta-me esse colo onde ninei
amo e amarei
um amor que me destes e eu te dei.


Jorge d'Alte

ESTÁ?

 Despejou o copo,

enlaçou-me o pescoço.
- Faça o sacrifício por mim!
Aconchegou-se. Era toda ela uma seda,
toda doces perfumes, toda onda de calor.
A sua mão segurou a minha e comprimiu-a
contra os seios.
Lá fora a chuva batia no vidro tentando chamar a atenção
empurrada pelo vento, furiosa.
A sua boca vermelha e húmida aproximou-se da minha…
O telemóvel tocou, quebrando.
O momento caíra a nossos pés em cacos de desfeito encanto.
- Maldita monstruosidade!
Gritante necessidade com voz insistente, que exige resposta…

 - Está?


Jorge d'Alte

 

sábado, 21 de dezembro de 2024

AO SOL TE VI

 Ao sol te vi
como flor murcha 
desprendendo-se da vida.
Olhei para ti
teus olhos dentro da concha
uma alma perdida.
Ergui teu rosto
bebi as lágrimas
e cego me senti.
Teus lábios de mosto
palavras dirimas
e em ti me perdi.
Olhamos o sol posto
num abrasar de almas
um tempo curto.
Num gesto de gosto
num bater de palmas
um corpo que curto. 

Ao luar te vi
Como deusa insana
Nas sombras gemi
num corpo de gana
a seiva te dei
num ninho de mel
teu nome chamei
serei sempre fiel.


Jorge d'Alte

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

O ABSURDO E A ESPERA

O absurdo estava ali
Alguém sentado esperava.
Porque esperava alguém
num dia chocho
num dia chuvoso
num céu sem
não havia nada nele
nem o nome daqueles que partiram
nem a gloriosa Lua.
Estaria? O coração batia
a morte nada brindara.
A espera esperada era por quem?
Era porquê?
O quem viria nas sombras 
sem rosto para ele nem sorrisos
era a ansiedade a sua espera
descobrir nos folhados  dos sonhos 
uns lábios uma boca
depositar neles algo em troca.
Havia mil ventos e uma pinga-pinga
enchia o copo devagar
o inebrio calmava a calma.
Alguém sentado esperava
chegou o porquê nos olhos vagos.
Sentiu as lágrimas antes do choro
Apertou as mão num grito morto
morrer, por amor era muita dor
era não ter, era o desfibrilar do seu corpo
Contorceu no inconformismo
levantou-se
a madrugada acolhera
deixara o frio ali morto na espera.


Jorge d'Alte

quinta-feira, 6 de junho de 2024

UMA MEMÓRIA

 As pingas que pingavam a meus pés

não eram de chuva mas de lágrimas
cavavam na terra seca covas da minha tristeza
eram cristalinas de extrema pureza
pois a dor que me acometia de lés a lés
era profunda como laminas de esgrimas.
Sequei-as com memórias
dos tempos que eram passado
separei o trigo e o joio na alma
Milhentas e milhentas histórias
contei-as a mim mesmo com agrado
mas dos rostos há só um que me acalma.

Inventei-o um dia no meio do amor
quando sonhei acordado ao seu lado
uma vida longa sem demónios nem anjos.


Jorge d'Alte



domingo, 2 de junho de 2024

PORQUÊ?

 Os sombrios raios de sol 

retalhavam meu corpo
Estava sentado nessa luz de vida.
Nem por isso se movia 
retardado na nostalgia
melancólico nas memórias
afastando as saudades
porque não as queria.
Não as queria porque não havia vazio
havia sim esperança
por detrás das pálpebras cerradas.
Não aceitava novo sonho
onde se afogava em lágrimas
que não eram dele.
Eram de alguém que vivia na luz
que deixava as sombras 
por detrás do sorriso
que mordia seu nome na boca do beijo
brincava com o desejo como garota
gargalhava a alegria como eco do seu amor
e por amor me amava 
como nunca me senti amado.
Deslizara o seu perfume 
na areia rugosa de uma praia
entrara no mar que tinha o seu nome
um mar de loucura de ondas sentimentais.
Chamara por mim numa voz quente
promitente de mil promessas.
Com o sorriso agarrado ao rosto
acenei que ainda não.
Ali fiquei sentado
enquanto os sombrios raios de sol
retalhavam o meu corpo
sem tempo mas com esperança.


Jorge d'Alte

quarta-feira, 29 de maio de 2024

O MEU ABRAÇO

 Existe paz no meu abraço

como existe tempo que encolhe
e recolhe o melhor de todos nós.
Assim foi nessa tenra  primavera
quando chegaste com as flores como amigas
quando choraste só no teu canto em pranto
quando não tinhas rumo mas dor.
Escolhi-te no meio de lágrimas derramadas
com o meu sorriso como espada
Falei-te com bordados de amor os rendilhados
bebi o teu medo de estares só
num mundo intrincado e magoado.
Deite a luz da minha alma
beijei-te a testa e não nos lábios contorcidos
abracei-te  com deleite no acarinhar 
e insuflei-te a minha paz
nuns olhos radiosos de meio medo.


Jorge d'Alte

domingo, 26 de maio de 2024

OS OLHOS

 Os olhos eram olhos

eram dela eram meus
amaram-se na noite escura
entre beijos e escolhos
entre abraços de romeus
e caricias que a mão procura.
Eram olhos que se amavam
eram olhos  assustadores
eram poços de amor dorido
mas quando sorriam
eram lábios sedutores.
E quando eu os beijei perdido
fiquei rendido
fiquei amordaçado
com palavras no ouvido
com o sonho traçado.


Jorge d'Alte

COMO ESTRELA

 O céu está cheio de estrelas.

A lua não apareceu.
As sombras são muitas e aflitas
rodeiam os corpos que se amam
nas areias mortas junto ao mar.
As nuvens cavalgam entre elas
num ricto obsceno e degradante.
Amar para quê?

Deus chamou Adão.
Pediu-lhe uma costela e fez Eva.
A vida.

Adão cobiçou Eva.
O pecado.

Há amor quando dois corações se dão
enraizados na paixão
quando há bocas que se beijam
corpos que de tocam
prazer que nos enche
um vulcão que se abre em pernas abertas.

O pecado veio quando a maçã foi mordida
quando o primeiro filho nasceu
para a humanidade foi amor que aconteceu
foi assim que nasci e chorei.

Agora choro no teu ombro
deposito neles memórias.
Tento brincar com o tempo
no esconde esconde
mas a luz que me viu nascer
tremelica no céu aberto 
como estrela que ei-de ser.


Jorge d'Alte

CARTA AO MEU PAI

 Hoje gostaria de te abraçar

não com as lágrimas
mas com um sorriso.
Tão cedo nos deixas-te com a dor
tão cedo te tornas-te saudade.
Criamos memórias e laços
que bordei no pensamento
que  amei no coração
tantos dias claros que vivemos
onde alegrias se sobrepunham
onde as tristezas ficavam lá atrás
e onde o carinho era teu nome Pai.
Hoje mordo o tempo com raiva
o nevoeiro do tempo não te encontra
não me deixa chorar mais uma vez
muito menos sorrir e abraçar.
A saudade que sinto é um risco de luz
que me pica no coração
e por uns momentos insanos
sinto tua voz
vejo o teu rosto
dou-te a minha mão
consigo te abraçar
não com lágrimas
com o meu sorriso.


Jorge d'Alte

A MINHA DOR

 Eram vagas as vagas do meu mar

espumavam contra as adversidades
escolhos de tristezas que doem a valer
O coração sempre guarda
o que a memória não quer esquecer
e cá dentro na alma parda
sinto-me fenecer por não amar
embora houvessem raios de felicidades.

Tento agarrar as águas do meu mar
elas se esfumam batidas com o tempo degastado
Quando comecei a sonhar?
Quando acordei vergastado?
Eram pesadelos de ser rejeitado ou eram coros?
Coros de sentimentos sem raízes para a vida
prazeres que me abriam os poros
me faziam tremer na hora prometida.
Era amor esta dor?
Era a paixão frigida?
Tantas perguntas que esmoreciam sem cor
no meu mar vago sem partida.

Um dia amei
amei uma flor
um dia beijei
e é essa a minha dor.


Jorge d'Alte

FLAUSINA

 Ela era a flausina

gastava o espelho
com deboches de pinturas
cremes, rimeis e depilações.
Ela era o que era porque era bela
todos corriam por ela entre nãos e meio nãos
mas no intimo ela amava a apoteose.
Dançava alheia
no meio do fumo
copo na mão
coração seco 
sem emoção.
A noite correra lesta
sem beijos nem abraços
nem amigos
nem palavras de desperdício.
Houvera um momento
só um momento mágico.
Uns olhos olhavam-na irónicos
um corpo lindo engalgado
um sorriso bah! amordaçado
sem palavras ou gestos.
Sentira algo tão estranho
dentro dela algo despertara
seria o tal amor, a paixão que tudo traga?
Não o soube
fora um momento.
Depois veio o frio de novo
enregelou-a como vento caminhando
a tristeza e a mágoa doíam-lhe.
Depois ardeu num fogo sem se ver
uma voz encantou-a
o sorriso comeu-a
o beijo tropeçou no desejo
as mãos se deram.
A noite era brava com nuvens de descarga
soube que havia ali uma estrela e não era ela.
Amou-o entre lençóis brancos da cor da sua pele
beijou-o como o eco
seria um sonho?
Porque o agarrava?


Jorge d'Alte


TRETAS

 Onde estás sol?

Encontrei-o a marinar no horizonte
estava na ronha
em vez de alegrar os corações.
O patife estava prestes a fugir para o de lá
cobrindo-nos com um manto negro
deixando-nos o som monótono da solidão
num mar nervoso de sensações.
Eu sei que ele volta
como sei que ela volta
pois não é corpo nem alma
é apenas desejo
fragmentos soltos de um sorriso que vi
no crepúsculo que inventei.
Não era sonho era apenas nuvem franzina
era feita de lágrimas minhas
saudades de outras elas
que como o sol se marimbavam para ele
deixando-o num nimbo de mal amado.
Pronto tudo se acabou quando do sol nada restou
levando-me para a cama macia
pois sonhar era tudo o que me restava.



Jorge d'Alte

sábado, 25 de maio de 2024

A FLOR SOZINHA

 A flor sozinha

a flor tão bela 
que vive algures
agarrada á pedra
sonha nos sois
olhando esses mares
adormece nas noites
olhando os luares.

Contando estrelas 
como rosário de perolas
anseia na madrugada
pelo canto do galo
e já desperta  o dia abraça 
seus amantes deseja
que venham em graça
que lhe beijem as pétalas
que lhe suguem a doçura
e como travessura ela ama
e com candura ela agradece.

A flor sozinha
adorna no vento
agarrada á pedra
murcha no tempo.


Jorge d'Alte