quinta-feira, 15 de abril de 2021

REENCONTRO

 Hoje contemplei-a sem ela se aperceber

Fui colhendo fragmentos soltos do seu sorriso quebrado
Num mar nervoso cheio de gotas de emoções.
Um manto monótono de solidão alarmava-a
Fechando-a em comiseração deslavando aos poucos o rosto de trigo.
De negro vestida respirava soturna aquela alma exangue
Estendeu a mão enluvada tocando naquela face que fora sempre sua
Onde os lábios comiam as palavras e as línguas intransigentes se amavam
Um soluço morreu abafado nos seus lábios descorados
Quando olhara para mim o seu maior amigo
Dei um passo sem cor nem ardor no som pesado acordando os rostos virados
Abracei-a com braços de amizade sem saber o que lhe dizer.
Não foram precisas palavras nem o velho beijo terno
Enquanto a terra reclamava o corpo em sons de pazadas.
Estávamos mais uma vez juntos como quando eramos crianças
Quando as mãos corriam atrás dela numa corrida cheia de gargalhadas
Quando colhia flores lindas que tombavam quando lhas oferecia
Quando a escola crescera e nós com ela e havia sonhos contados na lua cheia.
Sempre houvera um certo amor entre nós
Num dia estranho de fim de Maio eu partira sem lhe dizer nada
Os anos tinham-nos carcomido envelhecendo-nos
Mas o amor, a grande amizade era fresca como o lírio alvo que lhe dava.


Jorge d'Alte



Sem comentários:

Enviar um comentário