Um amor extraordinário
Tinham dito por ali
De olhares tristes cabisbaixos
Enquanto o dia se esconsava
Num mar de papoilas
Recordavam-se as pessoas
Nesse ópio avermelhado.
Fora num dia parecido
Logo de madrugada
Quando o som do galo ainda ecoava na geada
O culpado tinha sido o pico
Sim o pico
Pois quando passava, o melro de bico amarelo esvoaçara
Assustando-a
E ela picara-se na roseira branca de bordos róseos
Mesmo na dor as vozes saudaram-se enervadas.
Ficava sempre assim quando a via passar, gaiata
feliz.
Seus olhos risonhos sempre o cativaram
Ele um cachopo que quisera ser livre
ter a liberdade de sonhar.
Beijara o dedo dela no sítio da picada
Mas foi quando os sorrisos se encontraram
Que tudo descambara
Num mundo para eles desconhecido e vibrante
Os lábios tinham-se comungado e a liberdade voara.
Alguns ainda se lembravam
Pois as idades eram as mesmas deles
Correndo pelas ruas cheias de sombras
De sacolas ás costas trazendo atrás deles as risadas
e as saudades de meninos e moços.
A vida fora cheia para eles
Agora amortalhados a meio dos noventa.
As vozes tinham gritado furiosas
Riscando nos fungares a sua desdita.
Fora a vontade de Deus
Diziam uns.
Foi o maldito bicho vociferaram outros
Juntos na vida, juntos na morte.
Coitados já andavam adoentados murmurou o António da Micas
Toda uma vida plena de Amor ajuntou o Serafim da pipa.
Aconchegaram-se no seu cantinho e definharam
foi o que foi.
Foi com um abraço que se despediram aflautou a Ritinha.
Um amor extraordinário, garantira o padre embargado
no alto do púlpito
Um amor extraordinário.
Jorge
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