domingo, 18 de abril de 2021

UM AMOR EXTRAORDINÁRIO

 


Um amor extraordinário

Tinham dito por ali

De olhares tristes cabisbaixos

Enquanto o dia se esconsava

Num mar de papoilas

Recordavam-se as pessoas 

Nesse ópio avermelhado.

 

Fora num dia parecido

Logo de madrugada 

Quando o som do galo ainda ecoava na geada

O culpado tinha sido o pico

Sim o pico

Pois quando passava, o melro de bico amarelo esvoaçara

Assustando-a 

E ela picara-se na roseira branca de bordos róseos

Mesmo na dor as vozes saudaram-se enervadas.

Ficava sempre assim quando a via passar, gaiata

feliz.

Seus olhos risonhos sempre o cativaram

Ele um cachopo que quisera ser livre

ter a liberdade de sonhar.

Beijara o dedo dela no sítio da picada

Mas foi quando os sorrisos se encontraram 

Que tudo descambara 

Num mundo para eles desconhecido e vibrante

Os lábios tinham-se comungado e a liberdade voara.

 

 

 

Alguns ainda se lembravam

Pois as idades eram as mesmas deles

Correndo pelas ruas cheias de sombras

De sacolas ás costas trazendo atrás deles as risadas

e as saudades de meninos e moços.

A vida fora cheia para eles

Agora amortalhados a meio dos noventa.

 

As vozes tinham gritado furiosas

Riscando nos fungares a sua desdita.

Fora a vontade de Deus

Diziam uns.

Foi o maldito bicho vociferaram outros

Juntos na vida, juntos na morte.

 

Coitados já andavam adoentados murmurou o António da Micas

Toda uma vida plena de Amor ajuntou o Serafim da pipa.

Aconchegaram-se no seu cantinho e definharam

foi o que foi.

Foi com um abraço que se despediram aflautou a Ritinha.

Um amor extraordinário, garantira o padre embargado

no alto do púlpito

Um amor extraordinário.

 

 

Jorge 

Sem comentários:

Enviar um comentário